sexta-feira, agosto 21, 2009

NELSON MOTTA

Adicional de insalubridade


O Globo - 21/08/2009

Como a crônica de uma patifaria anunciada, tudo correu como o previsto. O público assistiu ao vivo a um espetáculo deprimente de cinismo e covardia, protagonizado por um elenco de personagens quase inverossímeis em defesa do indefensável. Não chega a ser um consolo para os 70% de cidadãos que queriam Sarney fora, mas esses senadores não poderão sair na rua nem ir a lugar nenhum, a não ser cercados de seguranças. E vão disputar eleições no ano que vem.


Freudianamente, Sarney disse sobre o “Estadão” o que parecia dizer ao espelho: um velho de fraque e brincos.

Que nunca fez nada de errado na vida. Que é vítima inocente de cruel campanha. Arquétipo ou caricatura? Mas por que o “Estadão” (e a “Veja”, a TV Globo, a CBN, a “Folha de S.Paulo”, O GLOBO, a “Zero Hora”) iria mover tão cruel e injusta perseguição contra ele? Para enfraquecer o presidente Lula, a resposta está na ponta da língua, como um slogan de campanha. É a conspiração da direita, contra os pobres.

Agora perguntem aos eleitores de Lula, principalmente os de esquerda, se eles sentem orgulho ou vergonha do apoio de seu líder a Sarney e Renan? Alguém duvida que, para a opinião pública, a eventual queda de Sarney beneficiasse Lula? Ou, como perguntei ao Merval e nem ele soube me responder: se Lula e o PT abandonassem Sarney, e o PMDB, magoado, cumprisse a ameaça de abandonar Dilma, para onde iriam Sarney, Renan, Collor, Cabelo, Gim, Almeidinha e o resto da tropa? Para o palanque de Serra, de Marina ou de Ciro? (rs) Para onde iriam esses patriotas? Prefiro não comentar.

Claro, é apenas um sonho republicano, sabemos de todos os cargos e bocas e bocadas que o PMDB tem no governo e não vai largar, nem por Sarney nem por ninguém. É o jogo sujo de sempre, chantagens, alianças de conveniência, tática eleitoral, estratégia política, a luta pelo poder. Os fins justificam os meios, quando a causa é nobre — como a de cada um. Menos da oposição, que é vil, vilã e venal.

Enquanto isto, Sarney vai ficando. E Collor obrando. Os repórteres que cobrem política em Brasília mereciam receber um adicional de insalubridade.

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