segunda-feira, agosto 24, 2009

NAS ENTRELINHAS

Os envelopes de Lula

Denise Rothenburg

CORREIO BRAZILIENSE - 24/08/09

Em novembro do ano passado, quando bateu o martelo sobre a hora de colocar a candidatura presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o presidente Lula foi aconselhado por alguns poucos a seguir a máxima do general Golbery do Couto e Silva, antecessor de Dilma nos governos Geisel e Figueiredo, ainda nos tempos da ditadura militar. Golbery, um estrategista, considerava que político que se prezasse tinha que ter na mão três envelopes -nomes para guindar à própria sucessão, no caso de Lula, ou opções para seguir, quando pensasse no próprio futuro.

Lula resistiu a seguir a máxima do general. Não apresentou nenhum outro nome como opção a Dilma Ao contrário, enfraqueceu quem tentou se colocar. Marina Silva, por exemplo, agora sai do PT para buscar esse caminho no PV. Outros petistas recolheram os flaps. Acontece que os ventos em favor de outras opções começaram a soprar. Primeiro, foi Ciro Gomes, do PSB. Agora, o PT entrou nessa roda, no sentido de colocar uma opção à candidatura da ministra da Casa Civil.

Enquanto o Senado tentará retomar a sua rotina, o PT, cuidando das suas feridas nesse processo, começou a pensar no próprio futuro. Muito já foi dito sobre a ala do partido que não deseja embalar a candidatura da ministra, ainda mais depois que ela foi à casa de José Sarney (PMDB-AP) pedir a ele que não renunciasse à Presidência do Senado.

Esse grupo começou a se fortalecer com o apoio de parte do empresariado e dos banqueiros instalados em São Paulo, que esta semana voltam seus olhos para o Supremo Tribunal Federal. Está prevista para esta quinta-feira o julgamento do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. O Brasil finalmente terá uma palavra oficial sobre se ele teve ou não participação no episódio da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo.

O julgamento de Palocci está para ir a plenário desde maio e até agora nada. Já há nos bastidores quem diga que essa demora é proposital, para tirá-lo de qualquer corrida sucessória, seja ao governo de São Paulo, seja à Presidência da República. Assim, ele fica na sombra e não incomoda ninguém, nem os pré-candidatos a governador de São Paulo, nem aqueles que se colocam hoje para concorrer à Presidência da República.

Na sala de espera, Palocci hoje se dedica a comissões internas da Câmara que debatem o fortalecimento do Brasil perante os revezes econômicos do mundo. Ali, vai discretamente montando o que pode ser uma plataforma para concorrer cara a cara com o PSDB em São Paulo, seu plano A para 2010, se for considerado inocente no caso Francenildo.

Embora o deputado mantenha os olhos voltados para a província, nada impede que, na hora do vamos ver da campanha presidencial, Palocci seja chamado a ocupar a vaga de Dilma dentro do PT. Ele ficou completamente fora desse escândalo do Senado. É querido do empresariado e dos banqueiros paulistas. E, registre-se: esta coluna andou perguntando à turma do Planalto se essa possiblidade era real. Houve quem dissesse, pedindo pelo amor de Deus para ficar no anonimato, que nada está descartado.

Indo no popular, Palocci está assim... fantasiado de abajur nessa festa pré-eleitoral, dentro do navio que leva os pré-candidatos para desembarcar em 2010. Se essa turma que chegou à praia primeiro tombar antes da hora e o STF liberá-lo, ele tira o chapéu de abajur e pula na água. E Lula não vai achar ruim.

Afinal, pelo que se pode antever, a praia da eleição presidencial será movimentada. Além de Dilma Rousseff, tem outros nadando nessa direção, caso da senadora verde Marina Silva, que se filia esta semana ao PV, e do deputado Ciro Gomes, que já pulou na água ao perceber que o PT não lhe estenderá a boia para concorrer ao governo paulista. A turma do PSDB tem dois nadadores, José Serra e Aécio Neves, ambos com qualidades e fôlego.

Desse portfólio de pré-candidatos que já está na água, Lula tem Ciro e Dilma, mas o PT só tem a ministra. E o empresariado paulista só tem José Serra. Por isso, o PT separa um envelope para colocar o nome de Palocci. E o empresariado paulista aproveita para colocar dentro um cartãozinho de boas-vindas. Assim, Lula poderá ter três opções até abril do ano que vem, seguindo a máxima de Golbery. E para o envelope de Palocci chegar às mãos do presidente só falta o selo do Supremo.

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