O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um animal político. Tem aquilo que os economistas chamam de “espírito animal”, quando se referem aos empresários mais empreendedores. Como um predador, daqueles que ocupam o topo da escala alimentar, Lula lança mão de todos seus sentidos e da inteligência para alcançar a caça. É muito provavelmente o que está ocorrendo agora no relacionamento entre o presidente e o principal partido aliado do governo no Congresso, o PMDB. Lula sentiu que este é o momento para fechar o cerco e começar a cimentar a aliança eleitoral. No ano passado e até o início deste ano, muito se falou da possibilidade de os peemedebistas não fecharem aliança com o PT em torno da candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff, bandeando-se para o lado do concorrente tucano, especialmente se o nome escolhido pelo PSDB para disputar o Palácio do Planalto for o do governador de São Paulo, José Serra. Mas algo mudou com a crise no Congresso. A oposição, capitaneada pelo PSDB, sentiu que a fragilidade do governo estava no Senado, onde dispõe de uma maioria tênue. A investida sobre o presidente da Casa, José Sarney, tem a ver com os erros do senador, mas também tem tudo a ver com a tentativa da oposição – diga-se de passagem, legítima – de fragilizar o governo. Obrigou o presidente Lula a dar demonstrações seguidas de apoio ao peemedebista Sarney e a aproximar-se da bancada. Até mesmo o gesto de forçar o PT a solidarizar-se com os aliados do PMDB aproximou mais Lula do partido, enquanto os ataques seguidos dos tucanos ao fisiologismo peemedebista só afastou o PMDB do PSDB. Nesse quadro, nada mais apropriado do que aproveitar-se do momento para atrair os peemedebistas a conversas em torno de uma aliança definitiva para 2010. Lula e todo mundo no PT e na política sabe que está muito cedo para um acerto definitivo. Mas começar a persegui-lo agora vai fechando as portas para a aproximação entre o PMDB e Serra. Eis que o presidente da República, ontem, chamou a seu gabinete, em São Paulo, o presidente do PMDB, Michel Temer, e o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves, para uma reunião com o presidente do PT, Ricardo Berzoini, e o líder na Câmara, Cândido Vacarezza. Tema: eleições, aliança, dificuldades regionais. Henrique Eduardo levou um levantamento completo, estado por estado. De onde Lula poderia influir, onde já estava tudo bem e onde já não há mais solução. De modo geral, o quadro nacional desenhado pelo deputado é favorável à aliança, mesmo quando ela for impossível nos estados. Por exemplo: na Bahia, Geddel Vieira Lima já disse que não exige de Lula que abandone o petista Jaques Wagner. Mas quer demonstrações efetivas do presidente de que também o apoia. Só assim dará trânsito livre a Dilma no estado. Por outro lado, por que o PMDB quereria fechar agora a aliança com o PT? E se os ventos mudarem? Só em junho de 2010 serão feitas as convenções partidárias. Antes do início do ano, qualquer fechamento de apoio será uma precipitação desnecessária. Então, enquanto Lula aperta o cerco para forçar a aliança o mais rapidamente possível, o PMDB vai tentar enrolar. E ficarão nesse jogo como um casal de namorados, ora brincando de sedução, ora namorando mesmo, ora escondidos no escurinho do cinema e, às vezes, até brigando, mas deixando o casamento de verdade para um momento mais oportuno. Ah! Por falar em namorar, antes da reunião Lula almoçou com o mesmo Temer, mas o deputado foi recebido na qualidade de presidente da Câmara. E o presidente da República fez-lhe salamaleques os mais variados, elogiando sua administração naquela casa legislativa etc. Temer, como se sabe, é um forte candidato a vice na chapa de Dilma, se a aliança PT-PMDB se formalizar a nível nacional. Entre outras coisas, serviria para evitar que, em São Paulo, Quércia formalize a aliança com José Serra. Mas aí também é cedo demais. Dependendo do andar da carruagem, há outros nomes entre os peemedebistas que podem servir melhor como vice. De concreto mesmo, desse teatro todo, saiu o acerto para que Lula, a partir de agora, comece a discutir, pessoalmente, com cada um dos protagonistas do PMDB nos estados, as formas de se amenizar o embate com o PT e fechar a aliança nacional em torno de Dilma. |
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