domingo, agosto 23, 2009

CLÓVIS ROSSI

As bases, a Amazônia, a (des)União

FOLHA DE SÃO PAULO - 23/08/09

Pelo menos até ontem, os presidentes da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) estavam desafiando velha lei não escrita da política segundo a qual só convém se reunir depois de tudo acertado. Nada havia sido combinado a respeito da cúpula do grupo, dia 27, em Bariloche.
O tema é o uso de bases na Colômbia pelos Estados Unidos. Para EUA e Colômbia, apenas para combater terrorismo e narcotráfico (aliás totalmente imbricados hoje na Colômbia). Para a Venezuela de Hugo Chávez, é parte do "cerco do império" ao país bolivariano.
A Colômbia já anunciou que o acordo com os Estados Unidos sairá com ou sem manifestação da Unasul. O Brasil até aceita o acordo se houver as tais garantias jurídicas de que seu alcance é mesmo o que Colômbia e EUA dizem ser.
Mas o chanceler Celso Amorim lembra que o Brasil tem um interesse próprio no caso, que não passa por tentar equilibrar-se entre Colômbia e Venezuela para não dinamitar a recém-nascida Unasul.
O interesse chama-se Amazônia, no raio direto de alcance do acordo como é óbvio. "A preocupação com o interesse externo pela Amazônia existe em todo governo brasileiro, de direita, de centro, de esquerda, democrático ou ditatorial", afirma o chanceler.
Essa preocupação já foi transmitida ao colombiano Álvaro Uribe e, anteontem, a Barack Obama.
Aliás, o telefonema de Lula a Obama parece uma espécie de habeas-corpus preventivo para a hipótese de a cúpula da Unasul terminar em impasse (ou coisa pior). Se há uma chance de que Obama converse em algum momento com a turma do sul, algum presidente conciliador poderia propor algo assim: antes de qualquer declaração aqui em Bariloche, vamos esperar o que Obama tem a dizer.
Não é solução, claro, mas é uma rima (pobre) para evitar que o "U" de união seja desmentido.

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