FOLHA DE SÃO PAULO - 21/05/09
Engenharia política domina debate eleitoral em ano de recessão porque a tensão social diminuiu nos anos Lula |
A ENGENHARIA política passou a dominar o debate eleitoral num ano em que a economia deve apresentar seu pior desempenho em duas décadas. O mundo político trata agora de Lula 3, referendo, extensão de mandatos, mudança de prazos de filiação política, recomposição de alianças e de raras candidaturas alternativas. Não é mero zunzum. A política politiqueira tem estado reunida a fim de rever estratégias para 2010. O imprevisível da silva, a doença de Dilma Rousseff, obviamente desencadeou o rebuliço. Mas por que o caso Dilma se tornou tão obviamente importante?
Uma primeira hipótese diria que a escassez de candidatos presidenciais e a fraqueza da oposição incentiva extravagâncias como Lula 3.
Os escândalos que ceifaram a liderança do petismo, o fato de Lula ter se tornado um neocaudilho do PT e a extrema degradação e irrepresentatividade dos demais partidos da coalizão lulista limitaram as opções do governismo. A indefinição assustada do PSDB, a irrelevância eleitoral do DEM e do PPS, a popularidade de Lula e a falta do que dizer do antilulismo deixam a oposição na defensiva. A ruína moral do Congresso, a curiosa escassez de novas lideranças políticas e o colapso das diferenciações ditas "ideológicas" contribuem para a rarefação de alternativas. Mas tais explicações são parciais.
Um caso extremo da patologia política brasileira nos lembra de que a ocasião faz o monge e também candidaturas presidenciais: Fernando Collor em 1989. O colapso econômico e o descrédito das lideranças da "Nova República" deixaram uma raia aberta para o bonapartismo alucinado e corrupto do collorismo.
Porém, mesmo que se confirme em 2009 a pior recessão desde Collor, a crise sobrevém depois de três anos de crescimento bom. Ainda mais importante, ocorre num período de crescimento mais bem distribuído da renda e na vigência do maior colchão social já visto no país.
Goste-se ou não, as transferências sociais de renda e o aumento do salário mínimo, entre outras políticas, amortecem os efeitos sociais, econômicos e políticos da crise. Note-se, de resto, que Lula anestesia "radicais" (MSTs e sindicatos).
A "rede de proteção social" poderia ter suscitado uma divisão política no país (considerem o caso de muitos vizinhos da América do Sul, Argentina inclusive). Mas a rede de proteção social faz parte de uma política conservadora: de manutenção das "reformas" (mesmo na geladeira) e de normalidade econômicas (ou de "quase ortodoxia").
Tão importante quanto é a grande aliança de Lula com a grande empresa. Lula prossegue a reorganização da propriedade do grande capital iniciada sob FHC. FHC desatou o nó caquético da organização e da posse do capital, privatizando com o auxílio do Estado. Lula, o pós-moderno, financia com o Estado a reorganização da grande propriedade depois do período algo caótico da "abertura" dos anos 90, formatando as empresas brasileiras para a era dos grandes oligopólios globais, fase 2, a dos países ditos emergentes. Não há, pois, oposição do "capital".
A dobradinha FHC-Lula, afora as sortes da economia mundial, criou uma certa calmaria. A política ora se move num quadro estreito de tensões e expectativas reduzidas.
Uma primeira hipótese diria que a escassez de candidatos presidenciais e a fraqueza da oposição incentiva extravagâncias como Lula 3.
Os escândalos que ceifaram a liderança do petismo, o fato de Lula ter se tornado um neocaudilho do PT e a extrema degradação e irrepresentatividade dos demais partidos da coalizão lulista limitaram as opções do governismo. A indefinição assustada do PSDB, a irrelevância eleitoral do DEM e do PPS, a popularidade de Lula e a falta do que dizer do antilulismo deixam a oposição na defensiva. A ruína moral do Congresso, a curiosa escassez de novas lideranças políticas e o colapso das diferenciações ditas "ideológicas" contribuem para a rarefação de alternativas. Mas tais explicações são parciais.
Um caso extremo da patologia política brasileira nos lembra de que a ocasião faz o monge e também candidaturas presidenciais: Fernando Collor em 1989. O colapso econômico e o descrédito das lideranças da "Nova República" deixaram uma raia aberta para o bonapartismo alucinado e corrupto do collorismo.
Porém, mesmo que se confirme em 2009 a pior recessão desde Collor, a crise sobrevém depois de três anos de crescimento bom. Ainda mais importante, ocorre num período de crescimento mais bem distribuído da renda e na vigência do maior colchão social já visto no país.
Goste-se ou não, as transferências sociais de renda e o aumento do salário mínimo, entre outras políticas, amortecem os efeitos sociais, econômicos e políticos da crise. Note-se, de resto, que Lula anestesia "radicais" (MSTs e sindicatos).
A "rede de proteção social" poderia ter suscitado uma divisão política no país (considerem o caso de muitos vizinhos da América do Sul, Argentina inclusive). Mas a rede de proteção social faz parte de uma política conservadora: de manutenção das "reformas" (mesmo na geladeira) e de normalidade econômicas (ou de "quase ortodoxia").
Tão importante quanto é a grande aliança de Lula com a grande empresa. Lula prossegue a reorganização da propriedade do grande capital iniciada sob FHC. FHC desatou o nó caquético da organização e da posse do capital, privatizando com o auxílio do Estado. Lula, o pós-moderno, financia com o Estado a reorganização da grande propriedade depois do período algo caótico da "abertura" dos anos 90, formatando as empresas brasileiras para a era dos grandes oligopólios globais, fase 2, a dos países ditos emergentes. Não há, pois, oposição do "capital".
A dobradinha FHC-Lula, afora as sortes da economia mundial, criou uma certa calmaria. A política ora se move num quadro estreito de tensões e expectativas reduzidas.
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