quinta-feira, maio 21, 2009

VALDO CRUZ

Blindando a Petrobras

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/05/09

BRASÍLIA - Desde o governo FHC, a Petrobras tem uma liberdade de atuação que, de um lado, incomoda os oposicionistas de turno e, de outro, desperta a cobiça dos aliados do governo de plantão.
Aí está o cerne de toda a guerra política deflagrada nos últimos dias em torno da criação da CPI da Petrobras. Uma empresa milionária, com contratos milionários, capaz de distribuir favores milionários.
Talvez seja um reducionismo, mas, em outras palavras, essa briga poderia ser assim resumida: Quem está do lado de fora quer acabar com a farra de quem está dentro. Alguns, por motivos nobres. Outros nem tanto.
A liberdade de atuação que gera tantas cobiças -ela pode fazer compras sem licitação- tem procedência técnica. Uma companhia do tamanho da Petrobras, com atuação internacional, precisa de liberdade para sobreviver e disputar mercado com outras gigantes.
Só que essa liberdade tem um preço a ser pago. Precisa ser acompanhada de uma gestão profissional e de órgãos fiscalizadores, como a ANP (Agência Nacional de Petróleo), fortes e atuantes.
Essa é a grande chiadeira da oposição. No governo Lula, as diretorias da empresa foram distribuídas entre os partidos aliados. E a ANP perdeu poder e também entrou na partilha de cargos. Criando, assim, ambiente propício para a geração de negócios suspeitos.
O detalhe é que, no governo FHC, coisa parecida também pode ter acontecido. Se foi no período tucano que a empresa se profissionalizou, naquele tempo o PSDB mandou sozinho na estatal durante oito anos. Difícil saber quem tem mais direito de jogar pedra no outro.
Taí. Esse pode ser o grande mérito desse debate. Discutir um processo de blindagem da Petrobras, livrando-a do apetite político. Será que os dois lados estariam dispostos a ir tão longe assim?

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