Depois de guardar, durante um mês, segredo sobre seu estado de saúde, a ministra Dilma Rousseff revelou, a conselho de Franklin Martins, ministro da Comunicação Social, ser portadora de câncer linfático, o que a obrigou a remover um tumor no ombro. Tal revelação comoveu o país, ao ressaltar o espírito guerreiro da ministra, candidata virtual à Presidência da República, lançada pelo presidente Lula. Em geral, políticos nunca se declaram doentes, por saberem que o eleitor costuma não votar em candidato sobre o qual paire a suspeita de ter a morte à cabeceira.
Isso, portanto, implicaria grave risco eleitoral. Petrônio Portela, julgado por Geisel o civil ideal para suceder ao general Figueiredo, escondeu seu infarto até o fim. Tancredo Neves, eleito presidente pelo Congresso, forçou os médicos a silenciarem sobre sua diverticulite, com receio de não lhe darem posse. O deputado José Bonifácio, infartado, chamou ambulância para a esposa, a fim de parecer não ser ele o enfermo.
A exceção foi o senador Teotônio Vilela que, com câncer terminal, pôs o mandato e o resto de sua vida de lado e correu o país, pregando anistia aos punidos pelo regime de 64 e a volta à democracia.
Agora, ao revelar-se cancerosa, na mesa com uma equipe de médicos, a ministra reiterou, estoicamente — e esses profissionais haviam garantido, pouco antes —, que seu mal tinha mais de 90% de chances de cura. Por isso, ela não mudaria de hábitos.
Parabéns, ministra. Bem avisados pelo ministro — não fosse ele da Comunicação —, o país e o repórter desejaram-lhe breve cura. Mas não se esperava que ela e Lula, no dia seguinte, em Manaus, usassem o câncer politicamente. Os políticos contiveram seu apetite macabro e calaram sobre nova candidatura ou vaga à vice-presidência na chapa oficial. Lula, não: exaltou Dilma, ao falar da improvável doença mortal da candidata, comovendo o público assustado, às portas do inferno da gripe suína.
Tal necrofilia eleitoral, a destempo, viola a lei e ofende o Judiciário. Como se nesse pilar da democracia urinassem os cães e ali se atirassem sapos e lagartos, que outros poderes não digerem. A que chegamos!
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