FOLHA DE SÃO PAULO - 01/04/09 A Muralha da Rocinha arrisca sair antes do projeto de tarifa única de transportes, prometido para 2008 |
O GOVERNO DO Estado do Rio anunciou um projeto de construção de 11 quilômetros de muros cercando 19 comunidades como Rocinha e Chapéu Mangueira. Seguindo a escrita do gênero, a providência é justificada em nome do interesse da sociedade. No caso, pretende-se evitar a destruição da mata e a expansão de construções ilegais.
O mais famoso dos muros, o de Berlim, com 43 quilômetros, foi erguido em nome da defesa da moeda da Alemanha comunista. Para a utopia de um Rio sem favelas (ou sem os seus moradores), o Muro do Cabral cria a expectativa de uma cidade onde essa questão, mesmo sem ser resolvida, será contida fisicamente.
Quando uma comunidade crê que muros resolvem problemas sociais e urbanos há algo de estranho acontecendo. Sobretudo quando ela é governada por um cidadão que defendeu o aborto como instrumento de política de segurança e classificou a Rocinha como "fábrica de produzir marginal".
Julgar Sérgio Cabral pelas excentricidades que fabrica banaliza os problemas do Estado que ele administra. A sério, ele piora. Em janeiro de 2007, logo depois de tomar posse, Cabral anunciou que até o fim de 2008 estariam concluídos os estudos para a implantação do bilhete único de transporte no Rio.
O Bilhete Único funcionava em São Paulo havia três anos, instituído pela prefeita Marta Suplicy. Nesse sistema de tarifagem o paulistano que tomava dois ônibus para ir e outros dois para voltar do trabalho pagava, no máximo, R$ 3,50. O carioca, entre R$ 4 e R$ 4,40. Chegara a São Paulo o modelo de tarifagem das grandes cidades do mundo. Passaram-se dois anos e o tucanato expandiu o sistema, levando-o para os trens e para o metrô. Atualmente, negocia-se a extensão do sistema às redes de transporte dos municípios do ABC. A cada dia são feitos 6 milhões de viagens com esse tipo de bilhete.
Defender o aborto nos termos de Cabral é conversa fiada, até porque, mesmo que sua política fosse eficaz, levaria 15 anos para mostrar resultados. Fazer muro é fácil, basta licitar uma obrinha e empilhar tijolos. Implantar o Bilhete Único dá trabalho e contraria interesses. Está aí o papelório achado pelo repórter Bernardo Melo Franco, mostrando que, em 1985, os serviços de informações militares estimavam em R$ 980 milhões o tamanho da caixinha dos ônibus na administração de Leonel Brizola.
O ano de 2008 acabou e Cabral nada fez. Seus transportecas trabalham num plano de tarifagem seletiva e nesse pacote apareceu até mesmo a construção de terminais exclusivos. Jabuticaba da boa: não se construíram terminais em São Paulo, muito menos em Nova York. (É mais produtivo agradar empreiteiros entregando-lhes obrinhas do que atender a escumalha baixando o custo do transporte público.) Prepara-se uma empulhação. Vale lembrar que, numa comparação entre as despesas mensais de transporte dos trabalhadores das duas conduções, em novembro passado o carioca gastava a mais entre R$ 24 e R$ 76.
Os defensores do esbulho sustentam que o Rio, ao contrário de São Paulo, Nova York, Paris e Londres, não subsidia o transporte público. Faz sentido, até mesmo porque os governantes de São Paulo, Nova York, Paris e Londres subsidiam o transporte e não defendem o aborto como política de segurança nem muram parte de suas cidades. Parece que uma coisa nada tem a ver com a outra, mas tem, e muito.
O mais famoso dos muros, o de Berlim, com 43 quilômetros, foi erguido em nome da defesa da moeda da Alemanha comunista. Para a utopia de um Rio sem favelas (ou sem os seus moradores), o Muro do Cabral cria a expectativa de uma cidade onde essa questão, mesmo sem ser resolvida, será contida fisicamente.
Quando uma comunidade crê que muros resolvem problemas sociais e urbanos há algo de estranho acontecendo. Sobretudo quando ela é governada por um cidadão que defendeu o aborto como instrumento de política de segurança e classificou a Rocinha como "fábrica de produzir marginal".
Julgar Sérgio Cabral pelas excentricidades que fabrica banaliza os problemas do Estado que ele administra. A sério, ele piora. Em janeiro de 2007, logo depois de tomar posse, Cabral anunciou que até o fim de 2008 estariam concluídos os estudos para a implantação do bilhete único de transporte no Rio.
O Bilhete Único funcionava em São Paulo havia três anos, instituído pela prefeita Marta Suplicy. Nesse sistema de tarifagem o paulistano que tomava dois ônibus para ir e outros dois para voltar do trabalho pagava, no máximo, R$ 3,50. O carioca, entre R$ 4 e R$ 4,40. Chegara a São Paulo o modelo de tarifagem das grandes cidades do mundo. Passaram-se dois anos e o tucanato expandiu o sistema, levando-o para os trens e para o metrô. Atualmente, negocia-se a extensão do sistema às redes de transporte dos municípios do ABC. A cada dia são feitos 6 milhões de viagens com esse tipo de bilhete.
Defender o aborto nos termos de Cabral é conversa fiada, até porque, mesmo que sua política fosse eficaz, levaria 15 anos para mostrar resultados. Fazer muro é fácil, basta licitar uma obrinha e empilhar tijolos. Implantar o Bilhete Único dá trabalho e contraria interesses. Está aí o papelório achado pelo repórter Bernardo Melo Franco, mostrando que, em 1985, os serviços de informações militares estimavam em R$ 980 milhões o tamanho da caixinha dos ônibus na administração de Leonel Brizola.
O ano de 2008 acabou e Cabral nada fez. Seus transportecas trabalham num plano de tarifagem seletiva e nesse pacote apareceu até mesmo a construção de terminais exclusivos. Jabuticaba da boa: não se construíram terminais em São Paulo, muito menos em Nova York. (É mais produtivo agradar empreiteiros entregando-lhes obrinhas do que atender a escumalha baixando o custo do transporte público.) Prepara-se uma empulhação. Vale lembrar que, numa comparação entre as despesas mensais de transporte dos trabalhadores das duas conduções, em novembro passado o carioca gastava a mais entre R$ 24 e R$ 76.
Os defensores do esbulho sustentam que o Rio, ao contrário de São Paulo, Nova York, Paris e Londres, não subsidia o transporte público. Faz sentido, até mesmo porque os governantes de São Paulo, Nova York, Paris e Londres subsidiam o transporte e não defendem o aborto como política de segurança nem muram parte de suas cidades. Parece que uma coisa nada tem a ver com a outra, mas tem, e muito.
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