PODCAST Diogo Mainardi 2 de abril de 2009 |
Texto integral Acontece todos os dias. Saio da cama, ponho o chinelo, abro lentamente a porta de casa para pegar o jornal, olho para um lado, olho para o outro, e me pergunto estarrecido: onde está a fila de desesperados mendigando uma migalha de minha sabedoria? Onde está a turba de idólatras arrebatados homenageando-me com cantos e gestos de louvor? É o mínimo que eu poderia esperar. No último ano, tudo girou em torno de um único fato: o tombo da economia. Um comentarista como eu tinha duas possibilidades: acertar ou errar. O que eu fiz? Acertei. Acertei em cheio. Ipi, ipi, urra. Diogo é um bom camarada. Em 12 de setembro de 2008, no Manhattan Connection, Lucas Mendes leu a carta de uma espectadora, pedindo um conselho sobre a melhor maneira de aplicar seu dinheiro. Tapei os olhos e respondi irrefletidamente: esconda debaixo do colchão. Resultado? Dois dias depois, o Lehman Brothers afundou e eu me consagrei como o George Soros da rua Itapiru, sede do canal GNT. Ipi, ipi, urra para mim. Mais uma vez. Acompanhe os números e aplauda entusiasmadamente minha prodigiosa sagacidade. No domingo em que apareci na TV mandando a espectadora esconder seu dinheiro debaixo do colchão, o Ibovespa estava em 52.392 pontos. No dia seguinte, ele despencou 7,59%. E continuou despencando até o dia 27 de outubro, quando bateu em 29.435 pontos. Depois de patinar por algumas semanas, o Ibovespa, em 21 de novembro, ainda estava com 31.250 pontos. O que eu fiz? Numa coluna iluminada, premonitória, dei ordem para comprar, como num filme de Frank Capra: Compra! Compra! Compra! De lá para cá, o mercado acionário se recuperou razoavelmente. Agora está beirando os 44.000 pontos. No dia em que eu, sozinho, salvei as economias da espectadora do Manhattan Connection (qual era o nome dela?), a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista com Jim O'Neill, do banco de investimentos Goldman Sachs. Jim O'Neill se tornou conhecido por ter criado o termo Bric, para designar as economias de Brasil, Rússia, Índia e China. Na entrevista, ele reafirmava que haveria um "genuíno descolamento nos grandes mercados emergentes", e que a crise financeira teria um impacto absolutamente irrelevante na taxa de crescimento do Brasil. Naquele mesmo dia, a Votorantim Celulose anunciou a compra de uma parte da Aracruz por 2,7 bilhões de reais. Sabemos o que aconteceu depois disso. As duas empresas, penduradas, tiveram de negociar uma ajuda do governo. Uma ajuda nebulosa, em que os valores simplesmente não fechavam. Está na hora de vender suas ações da Petrobras? Acho que sim. Que sei lá eu. Não entendo nada de dinheiro. Ipi, ipi, urra. |
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