O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) tem uma visão privilegiada da economia americana. Talvez nem o secretário do Tesouro tem melhores condições para aferir a pulsação cardíaca do setor produtivo.
Pois ontem, depois de meses vendo coisas sinistras, Ben Bernanke mudou sua música em pronunciamento lido em Atlanta, na Geórgia: "Verificamos sinais de que o forte declínio da atividade econômica está perdendo força." Citou números sobre a melhora nas vendas de residências, no consumo e no mercado de veículos. E acrescentou: "É o primeiro passo para a recuperação."
Não ignorou o que ainda há de ruim. Reconheceu que as condições são difíceis, mas que "os fundamentos estão fortes e que estamos diante de problemas que podemos vencer com criatividade, paciência e persistência".
São termos substancialmente diferentes dos que estão na ata do Fed divulgada seis dias antes: "A atividade econômica caiu fortemente. (...) A contração se refletiu em vasta queda do emprego e da produção, (...) o consumo se mantém em níveis baixos..."
O novo discurso de Bernanke ainda avisa que não haverá recuperação sustentável sem que antes se obtenha a estabilização dos mercados financeiro e de crédito. Mas observa que há novidades: "Estamos conseguindo progressos também nessa frente."
E, de fato, há cinco semanas, Citigroup, Bank of America e JP Morgan Chase já haviam notificado os mercados dos excelentes resultados obtidos no primeiro bimestre. Segunda-feira, o Goldman Sachs antecipou um lucro líquido no primeiro trimestre acima do esperado, de US$ 1,8 bilhão, e anunciou uma nova subscrição, de US$ 5 bilhões, para completar a devolução de US$ 10 bilhões ao Tesouro.
E, ainda ontem, mesmo alertando que a crise continua forte, o presidente Obama disse que há progresso e mais esperança.
No Brasil, dá para dizer algo mais do que simplesmente que os indicadores da economia deixaram de piorar. Dá para dizer que melhoraram, especialmente nos segmentos que não dependem tanto do crédito ao consumo (veja gráficos). É preciso acrescentar que o resultado comercial (superávit) deste ano até a segunda semana de abril já é 10,9% mais alto do que no mesmo período do ano passado. E que a produção industrial parece mais robusta.
Nenhum desses indicadores pode ser tomado como garantia de recuperação. Crises como a atual estão sujeitas a recaídas e bastaria uma quebra de qualquer um dos símbolos da velha pujança dos países ricos para trazer de volta a retranca no consumo e no investimento.
Mas as apostas na vida econômica, profissional e nos investimentos não podem esperar até que haja 100% de certeza. Ninguém aposta mais, por exemplo, em que o Palmeiras foi o campeão paulista no ano passado. A hora de apostar é agora.
Confira
É por aí - De olho nas eleições, o governador José Serra ocupou, em São Paulo, um segmento que Lula ignorou: o das micro, pequenas e médias empresas.
Para atender às demandas da crise, o presidente Lula deu preferência à indústria de veículos e à construção civil. E, na semana passada, deixou vazar a informação de que estudava a redução de impostos para o setor de aparelhos domésticos.
Mas, se é para socorrer o setor que mais emprega, a faixa das micro, pequenas e médias empresas é bem mais abrangente. Emprega 17 milhões no Brasil e 9 milhões em São Paulo (dados do Dieese).
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