Esse é o cara, vírgula
Folha de S. Paulo - 03/04/2009 | |
NESTES DIAS em que o Supremo Tribunal Federal discute se aceita modificações ou se joga no lixo de uma vez por todas a Lei da Imprensa, herança asquerosa do regime militar que ajudou a retirar a condição de réu primário de dezenas de profissionais condenados apenas por expressar sua opinião, ainda há quem acredite que a imprensa deveria de alguma forma ser domesticada. Não conheço caso de excesso de liberdade de expressão. Que eu saiba, quanto mais democrática e justa a sociedade, mais o livre pensar e se expressar é valorizado. Mas nós tapuias ainda não perdemos a mania de ser capacho, a servilidade que vem dos tempos da escravatura. Basta ver o que acontece em qualquer coletiva de imprensa em que estejam presentes os presidentes do Brasil e dos EUA. Os jornalistas norte-americanos não se deixam intimidar e costumam fazer perguntas duríssimas ao seu chefe de Estado. Nós não podemos nos dar a esse luxo. Nas raríssimas entrevistas concedidas pelos presidentes brasileiros, os jornalistas são sempre escolhidos a dedo e as perguntas costumam vir cheias de obséquios. Claro, ninguém é louco de usar o expediente dos americanos se quiser voltar a ser credenciado pelo Planalto. A censura à biografia do cantor Roberto Carlos é outro episódio emblemático na história da nossa limitada liberdade de expressão. Por que volto a chover no molhado? Bem, na noite de quarta-feira os telejornais noturnos esbanjaram o uso do adjetivo "suposto" ao falar do dinheiro e das contas de Paulo Salim Maluf no exterior. Foi um tal de "dinheiro supostamente mantido no exterior" para cá e "supostas contas em paraísos fiscais" para lá que era de se perguntar se a grana preta que está sendo repatriada vem a ser uma doação dos bancos de Jersey e da Suíça à Santa Casa de Misericórdia. Como assim "supostamente"? O dinheiro não existe e não está voltando para casa? O que é que está faltando para tirar o "supostamente" da conversa? Sinto desapontar tanto ao nobre leitor quanto aos idiotas latino-americanos que ficaram empolgadíssimos com a troca de gentilezas entre Barack Obama e Lula, na cúpula do G 20, em Londres. Mas a expressão usada por Obama ao se referir a Lula, "That"s my man", não tem nada a ver com a tradução que foi empregada por meio mundo e seu vizinho. "That"s my man" não quer dizer "Esse é o cara". Está mais para: "Esse é o meu camarada" ou "Esse é o meu chapinha". O vídeo mostra ainda Obama dizendo que Lula é "o político mais popular do mundo", o que fez os barbudos dos sindicatos e das universidades tapuias praticamente rolarem pelo chão em orgasmos múltiplos. Mas, vem cá: se Obama estivesse falando sério, será que ele iria emendar dizendo que é por causa dos "good looks", da bela aparência, que Lula é considerado o político mais popular do planeta? I don"t think so. A troca de gentilezas entre os dois presidentes certamente foi das mais simpáticas. Mas, no frigir dos ovos, não significa absolutamente nada no que diz respeito às relações entre os EUA e o Brasil. O resto é torcida da turma do Fla-Flu ideológico... |
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