Por enquanto, Dilma está ganhando os votos do núcleo duro do eleitorado de Lula. Aqueles cuja lealdade ainda não é ameaçada pelos efeitos da crise
A pesquisa do instituto Sensus apontou uma aparente contradição. A popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva caiu significativamente, mas a candidata dele, Dilma Rousseff, ganhou pontos nos cenários eleitorais para 2010. E há outro dado aparentemente ainda mais estranho. Cresceu a importância de Lula como cabo eleitoral. O contingente de entrevistados que prometem votar no nome indicado por ele para sua sucessão pulou de 15,6% para 21,5%. Desencontros numéricos como esses costumam alimentar teorias de conspiração entre os torcedores contra ou a favor do governo. A verdade, prosaica, é que eles podem ser explicados com um olhar mais atento à pesquisa.
Para começar, é bom olhar com calma para a popularidade do presidente e de sua administração. A avaliação positiva do governo caiu 10 pontos e a aprovação ao desempenho de Lula caiu oito. São números significativos em qualquer pesquisa. Mas o fato é que os índices continuam altíssimos. A aprovação de Lula está em 76,2%. Significa que ele tem o apoio de três entre cada quatro brasileiros. É um enorme patrimônio eleitoral. Para se ter uma ideia do que isso significa, basta comparar com a posição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em março de 2001, quando tinha o mesmo tempo de mandato que Lula tem hoje. A aprovação era de 45,6% e a desaprovação, de 45,4%.
Em resumo: Lula pode não estar tão bem quanto no final do ano mas continua em posição privilegiada. Se vai mantê-la ou não, depende de muitas variáveis. O andamento da crise, as medidas do governo para enfrentá-la e a capacidade do presidente mostrar, no discurso, que a culpa não é dele. E ele vem se esforçando para isso.
É um erro tomar por um escorregão verbal a frase em que ele atribuiu os problemas da economia mundial aos erros de “gente branca e de olhos azuis”. O presidente sabia o que estava falando e, mais importante, para quem. Seu alvo não era o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, que assistiu constrangido ao ataque. Lula mirou no seu público. Queria mostrar aos brasileiros mais pobres que a encrenca é coisa dos gringos. A declaração pegou mal na imprensa internacional, mas ele está de olho é na audiência interna.
Tudo bem, mas como explicar os movimentos divergentes: a subida da candidata no momento da queda do presidente? A razão é política. Por enquanto, Dilma está ganhando os votos do núcleo duro do eleitorado de Lula. Aqueles cuja lealdade ainda não é ameaçada pelos efeitos da crise. Vamos aos números. Na simulação em que enfrenta José Serra (PSDB), a ministra obteve 16,3%. Em outro cenário, no qual o candidato tucano é Aécio Neves, ela apresenta desempenho semelhante. Chega a 19,9%.
Na mesma pesquisa, 21,5% dos entrevistados disseram que o candidato apoiado por Lula é o único em que votariam. Ou seja, a votação dela ainda cabe no contingente de eleitores cativos do presidente. Além disso, historicamente os institutos de opinião pública apontam que o PT teria a simpatia de cerca de 20% do eleitorado. Dilma está conquistando os votos de casa.
Não é pouca coisa. Há um ano, ela patinava em torno dos 3%. Seu nome aparecia nas pesquisas ao lado de outros presidenciáveis com assento no governo Lula, como Tarso Genro ou Patrus Ananias. Vem ganhando espaço, de maneira lenta mas constante. Tornou-se o único nome do PT nos formulários dos pesquisadores. Aos poucos, vem sendo assimilada pelo partido e seus simpatizantes. É verdade que com graus diferentes de entusiasmo, variando da euforia ao pragmatismo. Mas ninguém mais discute sua primazia para suceder Lula. Ao menos em público.
Um dado interessante: o grupo que promete votar no candidato de Lula subiu seis pontos de janeiro para cá. Ao mesmo tempo, caiu em oito pontos a parcela de entrevistados que condicionava seu apoio a conhecer antes o candidato oficial. Pois bem. O nome do governo está definido. É Dilma. Ao que parece, pela transferência de votos, ela vem sendo bem recebida.
No Nordeste, região onde o presidente é mais bem avaliado, sua candidata tem o melhor desempenho, chegando a 26,5%, contra 38% de Serra.
Essa é a boa notícia para o governo. A ruim é que os eleitores cativos de Lula e do PT não são suficientes para vencer uma eleição presidencial. Para ganhar, Dilma terá de conquistar votos na classe média e em outros segmentos menos vinculados ao governo. Uma tarefa que a crise econômica torna ainda mais complicada. |
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