JORNAL DO BRASIL- 07/02/09
As imagens do presidente Lula transpirando por todos os poros, a camisa amarfanhada e com manchas de suor, cabelos desgrenhados clamando pelo barbeiro e suspirando pelo pente e os exageros da indignação e da eloqüência, na safra de improvisos que assinala a retomada da campanha na hora certa ou precipitada, como a inauguração da primeira obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Manguinhos, no Rio, passou pela TV a impressão de insegurança, das primeiras dúvidas de quem nunca erra e sabe tudo. Convenhamos que não faltam motivos para justificar as suas apreensões.
Lula aposta as suas fichas no otimismo, embalado pela sua surpreendente biografia e com o arremate dos êxitos setoriais dos seus dois mandatos. E se as coisas deslizavam nos trilhos oficiais, na velocidade registrada pelas pesquisas, que acabam de bater o recorde de aprovação com o fantástico índice de 84%, o fantasma da crise econômica que varre o mundo arranha a nossa porta. Para o presidente é como um insulto pessoal. E é como quem aceita o desafio e provoca o adversário no centro do ringue, o tom da sua eloqüência. Insiste sempre na ciranda do velho realejo: para derrubar a crise é preciso enfrentá-la e não fugir dela.
Na seqüência, Lula repete a fórmula mágica da reinvenção do moto-contínuo: ricos, classe média e mesmo pobres não devem ter medo de dívidas, desde que não façam bobagens. Mas, se as lojas estão oferecendo preços remarcados, com reduções consideráveis nas vendas a prazo, com juros sedutores, a população deve comprar o que precisa ou apenas sonha. Pois é assim que gira a roda: o povo compra, o comércio precisa renovar o estoque e compra nas fábricas e a crise foge, com o rabo entre as pernas. O presidente não descarta, mas estimula a compra do carro novo, com prestações que passam de uma geração a outra, como herança duvidosa. Na troca, por pior que seja o calhambeque, sempre vale alguma coisa.
E prestações em até 90 meses, desde que caiba no salário, acaba não doendo no bolso. Mas, se a crise econômica encosta o governo contra a parede, exigindo cortes de verbas, controle da gastança, não é esta a imagem do governo vista do alto da arquibancada. E ou o governo está escondendo dinheiro debaixo do colchão ou a farra de desperdício nos três poderes sugere um descontrole que vai além do tolerável. Ao assumir pela terceira vez a presidência da Câmara, o elegante deputado Michel Temer, flor do PMDB-SP, anunciou como a sua prioritária preocupação provar como os deputados trabalham em suas bases. Ora, a TV-Câmara transmite todas as sessões da Câmara, não perdendo um aparte.
E mais comissões, CPIs e tudo que tenha um mínimo de suposto interesse para o público. Não basta para o exigente presidente da Casa. É preciso levá-la para todo o país, usando a rede pública de televisão, ou as das assembléias legislativas espalhadas por todos os estados. Tudo em defesa da operosidade dos deputados, que se esbofam nas folgas da semana de três dias úteis, atendendo às demandas dos seus eleitores, das prefeituras e dos estados. Ora, é difícil imaginar que flagrante de deputados pode ter o mínimo interesse para os milhões de telespectadores de todo o país. Festinhas em casas de família? Cochichos com eleitores pedintes, candidatos a uma assessoria na Câmara? Debates com vereadores, inaugurações de obras municipais? Francamente, o Congresso perdeu a noção do ridículo.
Entre outras coisas. Mas é velho o truque de desviar a atenção do que interessa, puxando conversa sobre trivialidades. O Congresso desconversa para não enfrentar a crise verdadeira que corrói a sua autoridade e esvazia as suas desculpas. A decadência do Congresso começou com a mudança para Brasília, em 21 de abril de 1960, uma cidade em obras, sem as mínimas condições de hospedar um governo. Para vencer a resistência de ministros, magistrados, senadores e deputados, além de especialistas, o presidente Juscelino Kubitschek apelou para a simpatia e para o irresistível argumento das mordomias, vantagens, benefícios. Aberta a tranqueira, nunca mais foi possível fechá-la ou simplesmente reduzir a voracidade dos pretendentes empistolados. Não se pode exigir do presidente da Câmara, deputado Michel Temer, que queime o seu cacife eleitoral fechando a porta de acesso ao cofre da Viúva.
As imagens do presidente Lula transpirando por todos os poros, a camisa amarfanhada e com manchas de suor, cabelos desgrenhados clamando pelo barbeiro e suspirando pelo pente e os exageros da indignação e da eloqüência, na safra de improvisos que assinala a retomada da campanha na hora certa ou precipitada, como a inauguração da primeira obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Manguinhos, no Rio, passou pela TV a impressão de insegurança, das primeiras dúvidas de quem nunca erra e sabe tudo. Convenhamos que não faltam motivos para justificar as suas apreensões.
Lula aposta as suas fichas no otimismo, embalado pela sua surpreendente biografia e com o arremate dos êxitos setoriais dos seus dois mandatos. E se as coisas deslizavam nos trilhos oficiais, na velocidade registrada pelas pesquisas, que acabam de bater o recorde de aprovação com o fantástico índice de 84%, o fantasma da crise econômica que varre o mundo arranha a nossa porta. Para o presidente é como um insulto pessoal. E é como quem aceita o desafio e provoca o adversário no centro do ringue, o tom da sua eloqüência. Insiste sempre na ciranda do velho realejo: para derrubar a crise é preciso enfrentá-la e não fugir dela.
Na seqüência, Lula repete a fórmula mágica da reinvenção do moto-contínuo: ricos, classe média e mesmo pobres não devem ter medo de dívidas, desde que não façam bobagens. Mas, se as lojas estão oferecendo preços remarcados, com reduções consideráveis nas vendas a prazo, com juros sedutores, a população deve comprar o que precisa ou apenas sonha. Pois é assim que gira a roda: o povo compra, o comércio precisa renovar o estoque e compra nas fábricas e a crise foge, com o rabo entre as pernas. O presidente não descarta, mas estimula a compra do carro novo, com prestações que passam de uma geração a outra, como herança duvidosa. Na troca, por pior que seja o calhambeque, sempre vale alguma coisa.
E prestações em até 90 meses, desde que caiba no salário, acaba não doendo no bolso. Mas, se a crise econômica encosta o governo contra a parede, exigindo cortes de verbas, controle da gastança, não é esta a imagem do governo vista do alto da arquibancada. E ou o governo está escondendo dinheiro debaixo do colchão ou a farra de desperdício nos três poderes sugere um descontrole que vai além do tolerável. Ao assumir pela terceira vez a presidência da Câmara, o elegante deputado Michel Temer, flor do PMDB-SP, anunciou como a sua prioritária preocupação provar como os deputados trabalham em suas bases. Ora, a TV-Câmara transmite todas as sessões da Câmara, não perdendo um aparte.
E mais comissões, CPIs e tudo que tenha um mínimo de suposto interesse para o público. Não basta para o exigente presidente da Casa. É preciso levá-la para todo o país, usando a rede pública de televisão, ou as das assembléias legislativas espalhadas por todos os estados. Tudo em defesa da operosidade dos deputados, que se esbofam nas folgas da semana de três dias úteis, atendendo às demandas dos seus eleitores, das prefeituras e dos estados. Ora, é difícil imaginar que flagrante de deputados pode ter o mínimo interesse para os milhões de telespectadores de todo o país. Festinhas em casas de família? Cochichos com eleitores pedintes, candidatos a uma assessoria na Câmara? Debates com vereadores, inaugurações de obras municipais? Francamente, o Congresso perdeu a noção do ridículo.
Entre outras coisas. Mas é velho o truque de desviar a atenção do que interessa, puxando conversa sobre trivialidades. O Congresso desconversa para não enfrentar a crise verdadeira que corrói a sua autoridade e esvazia as suas desculpas. A decadência do Congresso começou com a mudança para Brasília, em 21 de abril de 1960, uma cidade em obras, sem as mínimas condições de hospedar um governo. Para vencer a resistência de ministros, magistrados, senadores e deputados, além de especialistas, o presidente Juscelino Kubitschek apelou para a simpatia e para o irresistível argumento das mordomias, vantagens, benefícios. Aberta a tranqueira, nunca mais foi possível fechá-la ou simplesmente reduzir a voracidade dos pretendentes empistolados. Não se pode exigir do presidente da Câmara, deputado Michel Temer, que queime o seu cacife eleitoral fechando a porta de acesso ao cofre da Viúva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário