Em Furnas, o Carnaval começa na quinta
No lusco-fusco da festa, querem alcançar a caixa dos aposentados da Fundação Real Grandeza |
NOSSO GUIA, com sua trajetória de sindicalista; a ministra Dilma Rousseff, com seu currículo no setor de energia; e o senador Jarbas Vasconcelos, com as credenciais de caçador de malandros, deveriam marcar um encontro para as 14h de quinta-feira na sede da Fundação Real Grandeza, no Rio de Janeiro. A essa hora começará a reunião do Conselho Deliberativo do fundo de pensão dos trabalhadores das Centrais Elétricas de Furnas, destinada a destituir seu presidente, Sérgio Wilson, e o diretor de investimentos, Ricardo Nogueira.
Com um capital de R$ 6,3 bilhões, 12.500 associados, 6.500 aposentados e pensionistas, a Real Grandeza administra o ervanário dos trabalhadores da estatal que gera 10% da energia elétrica do país. As artes de Asmodeu entregaram esse gigante a donatários do PMDB do Rio.
Pelo menos um de seus presidentes, o arquiteto Luiz Paulo Conde, teve sua indicação publicamente assumida pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A degola dos dois administradores do fundo disparou uma mobilização inédita no sindicalismo brasileiro. Os funcionários de Furnas pararam seu escritório central na segunda-feira e ameaçam ir à greve, sem reivindicar coisa alguma. Querem apenas proteger o patrimônio de suas aposentadorias. Entregue a administrações ruinosas, a Real Grandeza passou por diversas caixas do "mensalão" e perdeu R$ 153 milhões no Banco Santos. Um de seus gerentes de análises de investimentos tinha a proteção de Delúbio Soares. A canibalização fez com que o fundo fechasse suas contas com um superávit de míseros R$ 2 milhões. (A atual diretoria encerrou 2008 com R$ 1,2 bilhão.)
O caso da Real Grandeza desceu dos céus como resposta àqueles que criticaram o senador Jarbas Vasconcelos por falta de "especificidade". Se os dois administradores praticaram atos impróprios, nada melhor do que expô-los à luz do Sol. No entanto, são acusados de mau relacionamento com a diretoria de Furnas. (Falta definir "bom relacionamento".) Eles só podem ser demitidos pelo Conselho Deliberativo, composto por seis titulares. Três são indicados por Furnas e pela Eletronuclear. Os demais são eleitos pelos funcionários e pelos aposentados. Cada titular tem um suplente. O golpe já foi a voto no ano passado e perdeu de 6 a 0. Logo depois apareceu uma oferta: os aposentados levavam a presidência da fundação, mas entregavam a diretoria de investimentos (logo ela). Foi rebarbada.
Desde janeiro de 2008, quando começaram as pressões pela degola dos dois servidores, renunciaram 6 dos 7 titulares e suplentes indicados por Furnas. Três nas últimas semanas.
Na caça aos dois administradores há um aspecto curioso. Eles têm mandato até outubro deste ano. Para que a pressa? Mais: por que a reunião do conselho foi marcada para logo depois do Carnaval?
MENSALÃO 2.0
A entrevista do senador Jarbas Vasconcelos ao repórter Otávio Cabral espalhou um clima de preces e perplexidades em todas as bancadas da base de apoio de Nosso Guia. Há no ar um cheiro de enxofre parecido com aquele que surgiu em setembro de 2004, quando se começou a pronunciar a palavra "mensalão". O miasma ficou no ar até junho de 2005, quando Roberto Jefferson chutou o balde com uma entrevista a Renata Lo Prete.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota enamorado da polícia paulista. Ele segue com atenção o movimento da tropa em Paraisópolis. Trata-se de um daqueles lugares que os candidatos chamam de bairro e os governantes de favela.
O idiota é um devorador de estatísticas e adorou o último balanço que os coronéis divulgaram. Em 10.642 revistas a PM apreendeu 3,4 quilos de maconha, 1,3 quilo de crack, 337 gramas de cocaína e quatro armas.
Feita a conta, Eremildo concluiu que as revistas renderam, na média, três gramas de maconha (não dá uma tragada), um grama de crack (não dá para acender), e 0,3 grama de pó (não dá para achar). Mais: uma arma para cada 1.300 revistas.
O idiota acredita que a pontaria social e os métodos da PM paulista estão acima de qualquer suspeita.
ERRO
Estava errada a informação aqui publicada segundo a qual o governo federal tem R$ 150 milhões para gastar em publicidade no exterior. A verba é de R$ 15 milhões, ou seja, tem um zero a menos.
A EMBRAER E DEUS
Quando nadava em dinheiro, a Embraer foi à Justiça para impedir que concorrentes contratassem seus engenheiros. Agora ela anunciou que vai demitir 4.000 trabalhadores. Em dezembro circulou uma estimativa segundo a qual seriam dispensados exatamente 4.000 funcionários. O presidente da empresa, Frederico Curado, foi categórico: "Não vou comentar especulação, não há fundamento". Havia, mas Curado agrediu o Primeiro Mandamento: "O futuro a Deus pertence".
RELÓGIO ADIANTADO
Em agosto passado o "New York Times" publicou um extenso perfil do professor Nouriel Roubini, o "Doutor Fim do Mundo". Desde 2006 ele sustentava a proximidade de uma crise financeira de proporções bíblicas. O economista Anirvan Banerji, do FMI, ironizou-o dizendo que ele se assemelhava aos relógios parados: estão certos duas vezes por dia. Quando o governo americano abriu sua seção de pacotes financeiros, Roubini advertiu que era inútil começar pelo resgate do sistema bancário. Mais importante, dizia, era promover a renegociação das dívidas de 9 milhões de mutuários de casas próprias. Agora que o companheiro Obama botou US$ 75 bilhões no pano verde, lubrificando a renegociação que poderá conter os despejos, fica entendido: Roubini é um relógio adiantado.
SUCESSÃO
De um conhecedor do Vaticano: "São grandes as chances de que o sucessor de Bento 16 (81 anos) seja o primeiro papa dos tempos modernos nascido fora da Europa. Se você espreme as controvérsias criadas no pontificado de Ratzinger, sobra só a raiz anacrônica do eurocentrismo".
QUEREM CRIAR O IPVA DO B
Tramita na Câmara dos Deputados e por um triz não foi votado em dezembro um projeto que cria uma gracinha chamada Inspeção Técnica Veicular, ou ITV. Ele prevê o loteamento do país em benefício de cinco, 15 ou 25 concessionárias encarregadas de vistoriar os 50 milhões de automóveis e caminhões. É um projeto jacaré: o sujeito só vê o olho, chega perto e ele abre a boca. Trata-se de um novo tributo, cobrando uma tarifa por um serviço que hoje está embutido no IPVA.
Arma-se uma privataria petista. A tunga prevê concessões de até 20 anos e, como o negócio é novo (novíssimo), não poderão concorrer oficinas mecânicas ou quem tiver vinculação com o setor automotivo.
O jacaré poderá reaparecer a qualquer momento.
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