Na morte da bezerra
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já há algum tempo elabora raciocínios para tentar convencer o PSDB a pôr o bloco de 2010 na rua. Fala em abertura do partido para a sociedade, valorização dos sindicatos, universidades, associações como espaços de debates de temas que deveriam ser adotados pelos tucanos na construção de um diálogo com o interesse nacional.
Tem pregado no mais árido dos desertos.
Já o presidente Luiz Inácio da Silva, em seu pragmatismo de elaboração zero e eficácia total, fez o PT captar a mensagem traduzindo a coisa ao molde do velho ditado segundo o qual cobra que não anda não engole sapo.
Abstraindo a lisura dos métodos, fato é que andou. Acrescentou 10 pontos porcentuais aos ínfimos índices de um ano atrás da ministra Dilma Rousseff nas pesquisas de opinião e, do ponto de vista da percepção pública, conseguiu alterar a situação.
Lula estava numa sinuca eleitoral, sem candidato viável à sucessão, assistindo do alto de sua popularidade ao adversário fazer bonito na preferência do eleitor. Antecipou o processo e agora empurra o PSDB para um dilema: definir a candidatura o quantos antes sem dividir irremediavelmente o partido e administrar o favoritismo durante 18 longos meses.
Para o governo, que partiu do zero, o que vier é lucro, todo ganho é contabilizado como vitória. Para o PSDB, cujo ponto de partida foi o topo, qualquer perda será vista como derrota. Na chamada batalha da comunicação, trata-se de uma vantagem considerável para o campo governista.
Basta ver que a redução de 3 pontos percentuais no índice do governador de São Paulo na última pesquisa, mereceu mais destaque que o fato de José Serra contar com 43% das preferências contra os 13% da candidata patrocinada pelo presidente de 84% de popularidade.
Objetivamente, o "retrato" instantâneo é: o eleitorado acha Lula uma ótima figura, não obstante, se a eleição fosse hoje daria ganho de causa não à sua candidata, mas ao principal oponente. E aqui o termo "opositor" é evitado de propósito.
Nem Serra nem o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, se portam como adversários explícitos do governo.
Fazem uma declaração crítica aqui e ali, impõem um ou outro reparo ao modo Lula de governar, suas oportunidades perdidas e malefícios provocados pela unanimidade pretendida, mas, no geral, ficam ali comendo umas goiabas, dando tempo ao tempo.
Ambos armam seus jogos, é verdade. Aécio se desloca para a eventualidade de se abrir uma oportunidade de ganhar a preferência. Serra conquista adeptos, neutraliza adversários, dirime conflitos, amarra pontas.
Numa situação normal, seria esse mesmo o calendário do período. Mas o cenário é tudo, menos normal. Há mais de um ano o presidente da República disse ao que viria: avisou à oposição que ganharia a eleição e mandou dizer à Justiça Eleitoral que considerava suas regras restritivas muito hipócritas.
Sendo ele franco, partiu para a mais sincera afronta à lei deixando muito claro que quem se incomodar que vá procurar seus direitos porque a luta, ou melhor, a campanha, continua.
O PSDB só viu o tamanho da encrenca agora, diante da quermesse eleitoral que o governo patrocinou para prefeitos de todo o País durante dois dias em Brasília, enquanto o principal partido de oposição se ocupava do importante debate a respeito da legitimidade dos métodos aplicados pelo deputado José Aníbal na sua recondução à liderança na Câmara.
Resultado: os tucanos estão na posição contrária à dos petistas, com candidatos demais e campanha de menos. Discutem uma forma "democrática" de escolher o candidato fazendo de conta que não existe, na prática, a primazia do governador de São Paulo e o PT, tarefeiro, aceita o centralismo e vai em frente, reunido sob a luz do poste amigo.
Procurado para resolver a transcendental questão do líder, FH deu uma chacoalhada na tropa. Em outras palavras, pediu que parassem de tolice e tratassem de apressar o processo de construção da unidade e do discurso marcadamente de oposição, mostrando o que partido entende precisa ser mudado ou corrigido no atual governo.
A direção do partido assegura que entendeu e agora vai. Só falta decidir quando, como, por que e com quem.
Osso duro
A primeira tarefa do novo corregedor da Câmara, deputado ACM Neto, é especialmente delicada para ele, integrante do DEM que acabou de desligar o deputado Edmar Moreira, alvo de representação por quebra de decoro parlamentar.
Se decidir que a ação não procede, ACM estará dizendo que seu partido se livrou do castelão das Gerais sem motivo, pois não serve para ficar no DEM, mas serve para continuar deputado sob a jura do decoro parlamentar.
Se resolver acatar, será acusado de atender à orientação partidária. É um dilema, para o qual a pior solução é a omissão e a transferência da responsabilidade para o desmoralizado Conselho de Ética.
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