sábado, outubro 11, 2014

Retrato de política brasileira - ANDRÉ GUSTAVO STUMPF

CORREIO BRAZILIENSE - 11/10

Em 1960, comando israelense sequestrou num subúrbio de Buenos Aires o alemão Adolf Eichmann, na época simples funcionário da Mercedes Benz na Argentina, acusado de ter sido o criador da solução final, que executou judeus na Europa em quantidades industriais. Ele foi levado para julgamento em Jerusalém com todas as preocupações de garantia de defesa ao acusado e pleno exercício das liberdades de imprensa. Seria o mais mediático dos julgamentos desde que se instalou em Nuremberg o tribunal para julgar os chefes do sistema nazista.

Hanna Arendt, alemã, judia, filósofa conhecida e reconhecida, foi escalada pela revista The New Yorker para fazer a cobertura do assunto sensacional. Ela produziu cinco magníficos artigos que se transformaram no livro Eichmann em Jerusalém, um relato sobre a banalidade do mal, publicado em 1963. A perplexidade da autora ocorreu quando ela percebeu que o monstro nazista era, na verdade, um burocrata disposto a cumprir ordens, incapaz de refletir sobre seus feitos e pronto para servir aos mais elevados escalões de seu partido.

Ele, aparentemente, não compreendeu a bárbara extensão de seus feitos. Apenas registrou que cumpriu as ordens recebidas e o fez com competência e eficiência. Era o que se esperava dele. Hanna Arendt chamou a esdrúxula situação de banalidade do mal. Ou seja, alguém pratica atos contra a humanidade e não tem a menor ideia do que está produzindo. Essa mesma sensação ocorre quando os jornais informam que na alta cúpula da Petrobras havia um grupo organizado para desviar verbas da empresa com objetivo de premiar empresas e naturalmente conseguir ganhos extraordinários. Paulo Roberto Costa, entre outras pérolas, admitiu repatriar algo em torno de US$ 23 milhões.

O mundo não caiu até agora, embora as notícias sejam cada vez mais estranhas, e até perturbadoras. A contadora Meire Poza depôs perante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito e narrou fatos de fazer corar frade de pedra. Afirmou que o Partido dos Trabalhadores pagou a multa imposta pelo supremo tribunal Federal a Enivaldo Quadrado, dono da corretora Bonus-Banval, no valor de R$ 28,6 mil. Também acrescentou que ela própria, sob a orientação de Alberto Youssef, emitiu notas fiscais frias no valor de R$ 7 milhões. O festival de irregularidades extrapola a designação simples de corrupção. Trata-se de uma administração dentro do governo cujo objetivo era gerar obras para criar vantagens e propinas que se destinavam a pagar campanhas de partidos, no caso, PT, PMDB e PP, e naturalmente produzir uma sobra que abastecia contas pessoais em bancos na Suíça e outros paraísos fiscais.

Não há até agora sinais de indignação na sociedade. A Petrobras é uma empresa pública, de capital misto, com ações cotadas em bolsa. Já foi uma das maiores do mundo. Perdeu substância e valor nos últimos anos, justamente quando a quadrilha atuou. A produção nacional de petróleo ficou estagnada na década e agora, muito endividada, faz enorme esforço para retomar seu tamanho e sua importância. A instituição tem à sua frente a mina de ouro negro do pré-sal, que exige pesados investimentos para retirá-lo de 5 mil a 6 mil metros de profundidade. O jogo de conveniência entre diretores e doleiros teve pesadas repercussões na economia brasileira e interferiu diretamente na política nacional.

É difícil encontrar adjetivos para tamanha ousadia. Só a banalidade do mal e a certeza da impunidade podem ter concedido tamanha liberdade de ação a meia dúzia de pessoas que não hesitaram em meter a mão no cofre. A teia de interesses é grande e abrange gente graúda. As investigações estão apenas começando e o juiz tem se cercado de cuidados para que parlamentares, ou pessoas que ocupam o primeiro escalão, não sejam mencionadas. Se ocorrer, só o supremo tribunal Federal poderá analisar e julgar os malfeitos. É melhor investigar o possível agora.

O assunto ganhou tamanha dimensão que dificilmente ficará de fora do debate eleitoral que se iniciou ontem. Ainda haverá duas semanas de pancadaria recíproca. Os marqueteiros vão criar fogo de barragem com pesados ataques para esconder esse cenário desolador. Melhor que tentar justificar o injustificável. O tamanho do desvio de dinheiro não é ação de amadores que resolveram passar o fim de semana em Paris. É trabalho de profissionais que decidiram ficar ricos e tornar seus filhos e netos também milionários. Retrato da política brasileira.

Vencer é um detalhe - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 11/10


BRASÍLIA - O técnico de futebol Carlos Alberto Parreira disse uma vez que o gol era só um detalhe. Foi crucificado. Mas ele estava certo. Sem treinamento, jogo coletivo, talentos individuais, esforço constante e uma defesa que recupere a bola e saiba sair jogando, é difícil um time marcar um gol e ganhar a partida.

A metáfora vale também para a política e eleições. Quando um prefeito, governador ou presidente da República perde uma eleição, é raro a derrota se dar por causa de um fato fortuito. Às vezes, pode acontecer (como um gol contra no futebol). Mas o mais lógico é a soma do trabalho durante quatro anos acabar se refletindo nas urnas.

A presidente Dilma Rousseff chega a este momento, faltando duas semanas para o segundo turno da corrida presidencial, com 49% de intenções de voto e 43% de rejeição. Numa conta simples, conclui-se que pode pescar apoios em apenas 8% do eleitorado. Não é impossível, mas tampouco é fácil ou simples.

Pior para Dilma é o clima de país partido que ela e o PT estimularam nas últimas décadas. Na narrativa petista, o Brasil hoje se divide entre ricos contra pobres, regiões Norte e Nordeste contra as demais. Nesse clima beligerante --apesar da roupa azul clara na sua primeira propaganda de TV-- não é fácil em duas semanas estender a mão, dizer que o "governo novo" terá "ideias novas".

Pode ser que no dia 26 de outubro a contabilização dos votos pela Justiça Eleitoral dê mais quatro anos para Dilma. Nesse caso, estará validada toda a tática usada até agora, o discurso do medo, o estímulo ao ódio e ao combate em áreas nas quais seria melhor buscar convergências.

No caso de Aécio Neves, o PSDB portou-se como aquele jogador que ficou quase parado, perto da área adversária. Uma bola parece ter sobrado e há boas condições para marcar o gol. Mas, como dizem os comentaristas esportivos, nessas horas, o chute não precisa de força. É só jeito.

Nunca antes na Petrobras - PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA

CORREIO BRAZILIENSE - 11/10

É espantoso o tamanho da organização criminosa montada para desviar dinheiro da Petrobras. A roubalheira se estendia a outras áreas, além da de Abastecimento, sob a direção de Paulo Roberto Costa. A confirmarem-se as delações do homem-bomba e do doleiro Alberto Youssef, o mensalão - que levou parte da cúpula do PT à cadeia - foi café pequeno perto das maracutaias que sangraram os cofres da estatal nos governos Lula e Dilma.

Apesar do silêncio de Lula (que no mensalão jurou não saber de nada ), e de Dilma afirmar que também não tinha conhecimento da ladroagem na Petrobras, a maior parte do dinheiro afanado, contaram Costa e Youssef, ia para o PT, o PP e o PMDB. Em vez de beneficiar escolas públicas e hospitais, a grana do petróleo jorrava mesmo era para o bolso de espertalhões e foi parar em campanhas eleitorais que mostram, na tevê, um Brasil de mentira no qual muita gente sonha em viver.

De início, agentes da PF investigavam um esquema de lavagem de dinheiro comandado por Youssef. Meio por acaso, acabaram descobrindo a jazida de corrupção na Petrobras. Se, antes, estimava-se que a quadrilha comandada pelo doleiro havia movimentado R$ 10 bilhões, as revelações dos réus à Justiça Federal apontam para cifra ainda mais astronômica.

Foi com medo de acabarem como Marcos Valério, operador do mensalão punido com a maior pena por participação no escândalo, que Costa e Youssef - que se dizem apenas um elo menor do petroduto - fizeram acordo com a Justiça. Em troca da redução da sentença, eles prometeram contar tudo sobre o assalto à estatal. Por isso, sabe-se agora, em detalhes, pela versão dos dois, como a maior empresa brasileira transformou-se num poço sem fundo de corrupção durante os governos petistas.

Acordo programático - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 11/10
As negociações para que a candidata terceira colocada, Marina Silva, una-se à campanha de Aécio Neves neste segundo turno da eleição presidencial, chancelando uma decisão que já foi tomada pela maioria de seus eleitores, podem ter um final feliz neste fim de semana se prevalecer o entendimento em torno de pontos programáticos que estão sendo discutidos pelos dois grupos.

Ambos estão tratando o assunto com muita delicadeza, pois não querem constranger a outra parte e desejam que a união, se ocorrer, faça-se em torno de pontos de acordo que signifiquem avanços no que seria uma unidade para dar ao país um governo progressista que ressalte o melhor do espírito da social democracia encarnada pelo PSDB.

Marina tem deixado claro que não tem interesse em derrotar o PT apenas para vencer a disputa eleitoral, por vingança contra a presidente Dilma pela maneira com que foi tratada na campanha eleitoral, mas para proporcionar ao seu partido de origem condições de rever seus erros e retornar às suas raízes, que teriam, na visão dela, sido perdidas nas disputas políticas dos últimos anos.

Ela vê no momento em que o PSDB chega ao segundo turno a chance de os tucanos ressaltarem seus laços sociais, que deram origem ao Plano Real e a diversas ações para a criação do que Fernando Henrique chamava à época de "rede de proteção social". Dentro desse espírito, foram criadas a Bolsa Escola, o Auxílio Gás, o Bolsa Alimentação e o Auxílio Alimentação, que originaram o Bolsa Família quando o governo Lula, por sugestão do governador tucano Marconi Perillo, unificou esses programas.

A preocupação dos dois lados durante as negociações foi sempre enfatizar que acordos estavam sendo negociados em torno de programas, e não de cargos ou futuras posições num eventual governo. Marina, por seu lado, tem ressaltado em conversas nos últimos dias, inclusive com membros do PSDB, que não faria nunca um acordo político que não fosse baseado em políticas públicas, e que não se coloca como dona das melhores práticas nem das melhores ideias.

Quer apenas salientar que um acordo programático como o que está sendo costurado será um avanço na negociação política no país, e que tanto ela quanto Aécio Neves têm o mesmo objetivo, que é o de unir forças para fazer as mudanças de que o país necessita. Ela sabe que o resultado das urnas deu a Aécio Neves a primazia das propostas, e apresentou sugestões que, a seu ver, ressaltarão o empenho social do PSDB.

A união nessas bases servirá também para que a campanha do tucano rebata as acusações que vêm sendo feitas pela candidata Dilma, colocando a disputa como sendo entre pobres e ricos, Norte e Nordeste contra Sul e Sudeste. O resultado das eleições desmente essa visão simplista do que saiu das urnas, como analisa o cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio de Janeiro. Ele e sua equipe desenvolveram um trabalho de análise dos resultados eleitorais com base na divisão geográfica dos votos e têm um banco de dados das eleições presidenciais desde a redemocratização do país em 1989.

Se a geografia do voto petista se alterou radicalmente de 2002 para 2010, a da recente eleição presidencial é bastante semelhante à anterior, em que Dilma foi eleita pela primeira vez. O que difere essa das demais eleições, segundo o professor Romero Jacob, é a divisão socioeconômica do voto nas mesmas geografias. O resultado é mais complexo do que dividir a posição do eleitorado em polos opostos, pois existem na mesma região eleitores de diversos tipos e classes sociais.

Dizer que apenas os pobres votaram em Dilma no Nordeste é um engano, adverte Romero Jacob, pois as classes mais altas também se beneficiam da economia reforçada pelo programa Bolsa Família. (Amanhã, os desafios dos candidatos).

O horário eleitoral e a natureza da política - OLIVEIROS S. FERREIRA

O ESTADO DE S.PAULO - 11/10


A idade me permite recordar as eleições que ajudaram a construir o Brasil de hoje. Sou levado a discordar do padrão acadêmico: a política era diferente, feita de fato com participação popular! Não havia eleição sem comícios e os que se faziam antes dos pleitos eram - e foram de fato - a terra em que, lançadas as sementes pelos partidos (apenas 13, 14, se contarmos o PCB, na ilegalidade, mas sempre com seus candidatos), floresciam as lideranças reais. Desde 1945 até o dia (fatal para a política) em que se criou o horário eleitoral gratuito, era nos comícios, com discursos exaltados, que as raízes dessas lideranças e as das candidaturas se firmavam.

Os comícios eram um grande espetáculo. E um ponto de encontro. Eu me deslocava para a Praça da Sé ou a Roosevelt para ouvir Jânio, Carvalho Pinto, Ademar de Barros, outros candidatos de maior ou menor peso verbal e eleitoral. Mas não só eu, saíamos todos de casa ou do trabalho e nos juntávamos à massa para aplaudir ou gritar contra um candidato, dependendo do orador - que precisava ser bom! Cada um com seu público: Emílio Carlos, Carlos Lacerda, padre Godinho, quem tivesse conquistado a simpatia popular, abusando que fosse da boa vontade dos que se punham em desacordo!

O horário eleitoral gratuito e obrigatório matou tudo isso, acabou com o patético de cada eleição e de cada comício. Faça-se a história dessa instituição dita democrática porque oferece a cada partido a possibilidade de usar a TV para difundir seu programa e apresentar seus candidatos. Alguém viu ou ouviu no horário gratuito o programa desses partidos que aí estão? Ou ouviu algum candidato apresentar seu programa de ação? Promessas, mesmo que sejam de mais escolas, creches e postos de saúde, não são programas de ação.

Mas não só o horário eleitoral gratuito matou tudo isso. As reações coletivas a determinados fatos permitem sempre visão mais correta do que terá ocorrido e do que ocorre. Só compreenderemos o getulismo e por que tudo mudou em 29 de outubro de 1945 se atentarmos para um pormenor: depois do 10 de novembro de 1937, quando a PM do Distrito Federal (Rio de Janeiro, capital da República) fechou o Congresso, a política passou a ser feita em torno de pessoas, indivíduos que o ditador cultivava para deles fazer seus interventores (servidores) nos Estados. A política era Vargas e sua vontade. Escolhido o interventor, a política nos Estados mais importantes, nas cidades do interior, girava igualmente em torno de sua vontade, a do interventor que o seria enquanto Vargas permitisse e, como tal, senhor da PM, que era a polícia e era o poder. Vargas, chefe revolucionário e ditador, pouco precisou fazer para criar inimigos pessoais. E inimigos políticos Vargas os teve, sim! Inimigos na sua visão intelectual do Brasil, que viam o País sob outra luz que não o corporativismo e a ditadura. Inimigos porque pensavam o Brasil de modo diferente e como e o que fazer para que fosse grande e respeitado.

Nos comícios havia sempre um momento em que eu me perdia no coletivo e tinha consciência de estar formando aquilo que depois seria chamado de opinião pública. Nos comícios, não em pesquisas, os analistas buscávamos descobrir como estava o humor popular - e em nossa presumida sapiência errávamos: os comícios do brigadeiro tinham muito mais gente que os do Dutra; portanto, Eduardo Gomes deverá ganhar as eleições... mas perdeu em 1945 e 1950. Contudo foi nos comícios que o udenismo se consolidou como estado de espírito cívico-eleitoral e foi do udenismo (dos comícios) que nasceu o lacerdismo, não ao contrário. E sem Getúlio não teria existido o udenismo. Ou os comícios nos quais não só o líder perdia a voz - fato que não mereceria notícia, pois seria corriqueiro demais -, mas todos a perdiam.

É significativo que o período de novembro/1937 a outubro/1945 seja sempre mencionado como "ditadura Vargas", e não como Estado Novo. É como se até o 10 de novembro dependesse exclusivamente da vontade e da autorização de Vargas, como se as forças e os atores políticos e sociais que desejavam o fim do regime democrático (a começar por Góes Monteiro) não estivessem em cena. Se falamos "ditadura Vargas" é porque a política passa a ser e se consolida como uma obra individual.

Hoje o que temos? Espantei-me ao ver que num sábado um jornal dedicava página inteira a comentar que este ou aquele candidato estava rouco. Irremediavelmente rouco.

Apesar de que ainda se façam comícios que alegram as "bases" e de que saibamos quanta gente eles concentram, o grande comício agora somos nós, dez ou pouco mais, que nos reunimos para um drinque e/ou jantar, a ouvir, em vez de música, candidatos trocando amenidades a respeito de programas de dimensão municipal (sim, pois o Estado não os preocupa!). Assistimos a uma cena apelidada de debate em que os "atores" devem respeitar regras preestabelecidas que orientam as críticas permitidas, muito bem-educadas para que ninguém seja ofendido e reclame, em nome da lei, seu "direito de resposta". No grupo que assiste ao debate na TV, eu sou EU, preocupado com parecer mais inteligente e arguto que meu companheiro de copo. O espírito crítico apontará se as ideias foram bem expostas, se houve cuidado com a lógica e quem mal domine o português.

A política deixou de ser, antes de tudo, criação mental coletiva, patética; tornou-se ação individual, sem emoção. Ausente dela o Estado, não haverá inimigos. Reduzida a uma troca de ideias entre adversários cordiais, o patético perdeu-se na obrigação de dizer e ouvir frases que pareçam ser um programa de governo. Imaginamos poder fazê-la apenas ponderando os atributos pessoais de cada "ator".

Sinto muito, meus amigos, mas isso não é fazer política.

Desemprego e “estatística criativa” - BERNARDO SANTORO

GAZETA DO POVO - PR - 11/10


Apesar dos péssimos indicadores econômicos gerais do Brasil, pelo menos em um setor a economia brasileira parece se salvar: o baixo índice de desemprego, que, de acordo com o IBGE, foi de apenas 5% no mês de agosto. Qual a explicação para este fenômeno, dada a deterioração da economia nacional?

A grande resposta está no modo de medição desse índice de desemprego, que é equivocado tanto aqui no Brasil quanto no resto do mundo. Entrando no site oficial do IBGE, especificamente nas notas metodológicas da Pesquisa Mensal de Emprego, se averigua que a base desse cálculo é apenas a População Economicamente Ativa (ou PEA), sendo essa PEA composta de pessoas ocupadas e pessoas desocupadas.

As pessoas ocupadas são consideradas, para todos os efeitos, como empregadas, não importando em absoluto que tipo de emprego elas possuam. São consideradas empregadas as informais, as que ganham menos de um salário mínimo e até as que vivem de bicos, o que já reduz bastante a quantidade de “desempregados”.

Se isso já não fosse uma maquiagem real do desemprego no Brasil, outro fator determinante para a suposta diminuição do desemprego é a amplitude do conceito de População Não Economicamente Ativa (ou Pnea). Fazem parte dessa Pnea os aposentados, os estudantes (mesmo aqueles em idade economicamente ativa, acima de 16 anos), as pessoas desalentadas (aquelas que, de tanto não conseguir emprego, acabaram desistindo e se conformando) e as pessoas marginalmente ligadas à PEA (aquelas que só trabalharam por pouco tempo, foram despedidas e depois desistiram de procurar novo emprego). Todo integrante da Pnea não é contado para fins de desemprego, mesmo que esteja desempregado contra a sua vontade e prefira fazer outra coisa por causa disso.

Portanto, para que uma pessoa seja considerada desempregada, ela precisa ser economicamente ativa, estar procurando um emprego e não trabalhar nem sequer esporadicamente em qualquer coisa. São tantas as exigências da pesquisa para que se possa classificar alguém como desempregado que fica realmente difícil ser considerado assim. A burocracia brasileira é tão grande que até para ser considerado oficialmente desempregado o Estado atrapalha.

E aqui entra o fenômeno do Bolsa Família. A falta de oportunidades reais e estáveis de trabalho, fruto da deterioração econômica, atrelada ao Estado de bem-estar social brasileiro que garante em algum nível, ainda que precário, acesso a vários bens e serviços públicos, juntamente com a concessão de uma verba em dinheiro para compra de bens e serviços no mercado (o Bolsa Família propriamente dito), estimulou a criação de uma nova classe social que perdeu o interesse em ser útil para a sociedade: a geração “nem-nem”, ou seja, nem trabalha, nem estuda. A perda desse interesse em trabalhar imediatamente põe essas pessoas dentro da categoria de Pnea, não sendo consideradas, pelo IBGE, como desempregadas.

Estima-se que a real taxa de desemprego no Brasil, sem o estímulo ao “nem-nem”, seria em torno de 20% da população jurídica e economicamente capaz (acima de 16 anos e sem incapacitação), o que é uma taxa bem diferente dos 5% do IBGE ou dos 10% do Dieese. Enquanto continuarmos mascarando nossas mazelas com “estatística criativa”, não combateremos de fato as causas da nossa crise socioeconômica: falta de liberdade econômica e excesso de tributação e burocracia.

O Brasil fica para trás - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 11/10
O Brasil não pode mais continuar fazendo de conta que a forte desaceleração de sua economia é algo sem importância. Nem mesmo o velho truque de debitar o mau resultado da atual política econômica brasileira a fatores externos - argumento que já não se sustenta - pode servir de biombo para a urgência de uma mudança de rumos e métodos.

Não há como esconder que, este ano, o Produto Interno Bruto (PIB) terá desempenho inferior ao de anos recentes, quando se cunhou a expressão "pibinho" para identificar o baixo crescimento de 2,7% verificado em 2011, de apenas 1% em 2012, e de 2,3% em 2013. Para este ano, nem os mais otimistas esperam mais de 0,5% e não faltam analistas que apostam em crescimento zero.

Isso é muito mais do que uma série estatística ou uma mania de economista que não trabalha para o governo. É o cardiograma de um doente que caminha acelerado para perigoso estado de precarização. Essa situação chama a atenção do mercado e de organismos internacionais que, até recentemente, viram o Brasil surgir como um dos países emergentes de maior dinamismo. Instituições do mercado financeiro, como as agências internacionais de verificação de risco (rating), chegaram a elevar a classificação do país como destino confiável de capitais e seguro para a concessão de créditos.

Desencantadas, essas agências sinalizam com rebaixamento das notas dadas ao Brasil. Já o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) não param de alertar para o fato de que a perda de fôlego do país vem ganhando dimensão preocupante, pior que a média de nossos vizinhos e das demais economias emergentes.

Na quinta-feira, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, ao comentar o último relatório sobre a economia mundial, foi clara ao colocar o Brasil entre os países que, ao caminhar mais lentamente que os demais no rumo da recuperação econômica depois da crise de 2008/2009, estão ficando para trás.

Ela não sugere nada desconhecido dos que sabem que o país precisa de nova condução da política econômica: investimentos em infraestrutura para animar a retomada do crescimento e a manutenção de programas sociais, como o Bolsa Família, para evitar o aumento da pobreza enquanto o crescimento permanecer tão baixo.

Christine, como qualquer economista atualizado, sabe que a manutenção por mais tempo de crescimento tão medíocre como o dos últimos quatro anos (em 2010, o PIB tinha crescido 7,5%) vai comprometer importantes conquistas sociais e, principalmente, colocar em risco o emprego e a renda da população. Menos de 24 horas depois, o IBGE divulgou a quarta queda mensal seguida do emprego na indústria brasileira.

O que a chefe do FMI não disse é que, se a retomada do crescimento depende dos investimentos em infraestrutura e na ampliação dos negócios, nada vai sair do lugar enquanto persistir a falta de confiança na política econômica e a perda da credibilidade do governo, que tem abusado do improviso na política de incentivos e da criatividade na administração fiscal.

Aparelhamento criminoso - EDITORIAL ZERO HORA

ZERO HORA - 11/10

Apesar do contexto eleitoral em que estão sendo divulgadas, as gravações dos depoimentos dos chamados delatores do esquema Petrobras _ o ex-diretor Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef _ merecem a atenção dos brasileiros, pois confirmam não apenas o loteamento político da estatal como também o desvio sistemático de recursos para os partidos que se apropriaram de parte da administração pública. As informações dos beneficiários da delação premiada revelam um organizado esquema de corrupção, com empresas formando um cartel para superfaturar contratos com a Petrobras e pagando propinas em dinheiro vivo para os políticos ocupantes das diretorias da estatal _ tudo com a anuência do governo, que afinal é o responsável pela distribuição de cargos.
O aparelhamento político de empresas públicas é duplamente danoso para o país, pois compromete a eficiência dessas organizações e abre caminho para as fraudes. Corruptos e corruptores se valem do despreparo e da frouxidão moral destes dirigentes políticos para sugar recursos do povo brasileiro, sob o olhar cúmplice de governantes que colocam seus projetos de poder acima dos interesses do país.
Tal deformação não é exclusividade do atual governo, embora tenha assumido proporções absurdas nas últimas administrações. Por isso, independentemente de quem a população brasileira escolher para comandar o país pelo próximo mandato, o eleito deve assumir o compromisso de desinfetar a administração federal e as estatais desta praga chamada corrupção.
Também está mais do que na hora de uma reação contra os financiadores do propinoduto, que só pensam nos seus interesses e se submetem ao jogo sujo dos contratos condicionados ao pagamento de percentagens a políticos. Claro que os maiores responsáveis são os homens públicos que traem a confiança dos eleitores, mas quem forma cartel e superfatura obras e serviços também não pode alegar inocência.
Nenhum governante tem o direito de se apropriar do Estado e muito menos de dividir a administração pública entre amigos e apoiadores para sustentar seu projeto de poder. Num regime democrático, o Estado pertence ao povo e cabe a cada cidadão, pelo voto, escolher quem tem idoneidade para receber a concessão temporária da administração.

A barra vai pesar - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 11/10


Deu a lógica nos resultados iguais das primeiras pesquisas dos dois maiores institutos brasileiros, Ibope e Datafolha, sobre a intenção de voto para o segundo turno da eleição presidencial: o oposicionista Aécio Neves à frente de Dilma Rousseff, 51% contra 49% dos votos válidos, por enquanto dentro da margem de erro. Deu a lógica porque, afinal, a soma dos votos recebidos pelos dois principais candidatos oposicionistas no primeiro turno - Aécio Neves e Marina Silva -, no total de 57 milhões (56,8%), superou com folga os 43,2 milhões (41,8%) dados a Dilma Rousseff.

Esses números dizem que a considerável maioria dos brasileiros quer mudança. E mudança significa apear o PT do poder. Se alguém tem alguma dúvida sobre o caráter antipetista dos votos dados a Marina Silva no primeiro turno, basta lembrar que a própria campanha de Dilma Rousseff se encarregou, de forma brutal e indigna, de estigmatizar a candidatura do PSB. É difícil de acreditar que o eleitor de Marina deixe de se ater agora à opção que lhe resta: votar em Aécio.

Mas também é óbvio que nem todos os votos que Marina teve em 5 de outubro serão automaticamente transferidos para Aécio. Mas o forte efeito psicológico tanto, por um lado, da tendência de crescimento da candidatura tucana nas últimas três semanas quanto, por outro lado, da frustrante reversão das expectativas petistas, somado ao substancial apoio a Aécio anunciado por antigos adversários e lideranças políticas ao longo da semana que passou - e ainda as recentes más notícias para Dilma Rousseff e o PT a respeito do desempenho da economia e do escândalo da Petrobrás -, tudo isso certamente influenciará a decisão do eleitor.

É preciso levar em conta, contudo, que na defesa de seu projeto de poder o lulopetismo não terá escrúpulos de apelar a qualquer recurso que estiver a seu alcance, como a ominosa falácia de que o PT tem o monopólio da virtude e todos os seus adversários são também inimigos do povo que só pensam em sacrificar os despossuídos em benefício das elites perversas.

É claro que só quem é mal informado acredita em patranhas como a de que qualquer presidente eleito que não seja do PT acabará com todos os projetos sociais dos governos petistas, principalmente o Bolsa Família. E Lula e Dilma decidiram também proclamar agora que a infâmia está em afirmar que há pessoas mal informadas no Brasil, deturpando deliberadamente declaração feita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

A direção em que os ventos eleitorais estão soprando indica que a tropa de choque petista terá trabalho pesado até o dia 26. Por exemplo, uma vez que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está cumprindo aviso prévio e anda com a credibilidade em baixa, Dilma designou Aloizio Mercadante, atual ocupante do Gabinete Civil, para não deixar sem resposta qualquer ataque da oposição na área da Economia. Aloizio tem credenciais para a missão: foi, em 1994, o arauto petista do fracasso antecipado do Plano Real.

Na Comunicação, além do notório João Santana, marqueteiro do Brasil dos Sonhos e das Malvadezas, anda assoberbado o jornalista Franklin Martins, aquele que desde que era ministro da Comunicação Social de Lula está obcecado pela ideia de decretar o "controle social" da mídia. No comando do site oficial da campanha de Dilma, Martins tem a responsabilidade de municiar a militância que atua nas redes sociais com toda sorte de informação que não pega bem na boca de quem fala oficialmente em nome do PT e de sua candidata.

À frente do partido permanece vigilante Rui Falcão, com a importante missão, que não lhe tem dado descanso nos últimos dias, de protestar com indignação contra as denúncias de corrupção no governo que a mídia se vê na obrigação de divulgar todos os dias e de prometer que vai processar criminalmente quem quer que seja que se atreva a questionar os elevados padrões morais da companheirada.

É esse o circo de horrores que provavelmente os brasileiros serão obrigados a assistir nas duas próximas semanas, como preço a pagar pela ousadia de cogitar a alternância no poder.

A indecisão de Marina - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 11/10

Apesar de Marina Silva ser ideologicamente mais próxima do PT, a campanha difamatória conduzida contra ela no primeiro turno abalou as chances de um acordo com Dilma


Marina Silva, a candidata do PSB que ficou em terceiro lugar na eleição à Presidência da República, adiou a declaração (inicialmente prevista para quinta-feira passada) de apoio ao tucano Aécio Neves na disputa que ele trava neste segundo turno com a petista Dilma Rousseff, candidata à reeleição. Marina, que com suas teses não conseguiu empolgar eleitores suficientes para ir ela mesma ao segundo turno, mas obteve expressivos 20 milhões de votos, condiciona agora a sua adesão a Aécio à aceitação, por parte deste, de vários pontos do programa derrotado nas urnas.

Até aí, nada a condenar. Nas melhores democracias do mundo, apoios e coalizões se dão precipuamente em torno de programas, bem ao contrário do costumeiro neste Brasil em que os partidos, grandes, pequenos ou nanicos, preferem trocar as respectivas adesões por cargos no futuro e eventual governo. Logo, se sinceras as exigências da candidata derrotada, não há de se estranhar que seus milhões de eleitores sejam também representados no programa de Aécio. Trata-se, no caso, até de respeitar o pensamento de uma corrente minoritária (mas expressiva) do eleitorado, insuficiente para eleger a candidata, mas que via nela a possibilidade de adoção de algumas de suas ideias.

O currículo político-ideológico de Marina, no entanto, a coloca muito mais perto do PT que do PSDB. As páginas desse currículo mostram-na ligada a movimentos da esquerda radical; como militante do PT desde os tempos da criação do partido; eleita para vários mandatos, de vereadora a senadora, pelo PT; no exercício do cargo de ministra do Meio Ambiente no governo Lula; e, também, em atitude passiva diante do escândalo do mensalão, que envolveu a legenda. Em seguida, já filiada ao Partido Verde, candidatou-se em 2010 à Presidência, obtendo praticamente o mesmo índice de votos que alcançou no pleito do dia 5 passado. Naquela ocasião, coerente com a posição pessoal e de sua nova legenda, levantou a mesma plataforma ambientalista que defendia como ministra. Estas e tantas outras bandeiras também fazem parte do ideário da Rede Sustentabilidade, partido que não conseguiu homologação a tempo, levando Marina a integrar-se ao PSB como vice na chapa de Eduardo Campos, a quem, com sua morte trágica, substituiu como candidata à Presidência.

Por isso, não surpreende que, entre as demandas apresentadas por Marina a Aécio, esteja inclusive um aceno ao Movimento dos Sem-Terra (MST) e a outros movimentos sociais, além do recuo em outros itens da pauta tucana, como a redução da maioridade penal. A alguns pode parecer que Marina esteja querendo, na prática, substituir um programa bem-sucedido o suficiente para ir ao segundo turno por outro que nem isso conseguiu.

Mas, se a ideologia pessoal empurra Marina mais para o lado do PT, a campanha difamatória movida por seu ex-partido, quando ela se mostrava a opção mais viável para derrotar Dilma, parece ter destruído todas as pontes que poderia haver entre as candidatas. Marina foi impiedosamente esmagada pelo marketing petista; vê-la abraçada a Dilma faria pensar em um caso clássico de síndrome de Estocolmo.

Em 2010, Marina preferiu a neutralidade entre Dilma e o tucano José Serra. Agora, a situação é um pouco diferente: várias das legendas que se uniram em torno de Marina já fecharam com Aécio, incluindo o próprio PSB, apesar de algumas dissidências. Resta a definição da própria Marina, que precisa calcular o risco: se ela está adiando o anúncio apenas para tentar arrancar de Aécio mais concessões programáticas, e se o tucano julgar que pode vencer mesmo sem o apoio formal da ex-ministra, ela pode acabar desvalorizada.


Fundo do poço - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP 11/10


Escândalo na Petrobras adquire grandes proporções às vésperas do segundo turno; efeito eleitoral do episódio ainda é incerto


Depois de Delúbio Soares, Silvio Pereira e outros tantos nomes do mensalão, já nem parece o caso de qualificar como estarrecedoras as revelações do doleiro Alberto Youssef e de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, sobre os desvios de recursos na empresa.

Em depoimentos à Justiça Federal, estimulados pelo instituto da delação premiada, os dois personagens descreveram com naturalidade o esquema de propinas nos contratos firmados com a estatal.

Na Diretoria de Abastecimento, controlada por Costa, PT e PP dividiam a messe da corrupção. Ao primeiro partido estavam reservados 2% do valor dos contratos arranjados, enquanto 1% ia para a segunda sigla e intermediários.

Reencontram-se, na participação do PP, nomes conhecidos do público. Obtiveram notoriedade durante o mensalão o deputado José Janene, morto em 2010, e seu assessor João Cláudio Genu. No PT, o nome de Delúbio Soares é substituído pelo do novo tesoureiro da agremiação, João Vaccari Neto.

Segundo os relatos, mais garfadas alimentavam o caixa petista. Em outras diretorias, que não foram objeto da partilha de cargos com a base aliada, o PT garantia a integralidade da propina.

Quanto ao PMDB, contentava-se com o 1% da Diretoria Internacional, para a qual indicara Nestor Cerveró, um dos principais arquitetos da operação Pasadena.

Nenhuma empresa deixava de pagar a propina, conta Paulo Roberto Costa. Referia-se a um conjunto de empreiteiras do qual faziam parte --segundo confirma Alberto Youssef-- Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez e outras de menor notoriedade.

Diferentemente do episódio que envolve o metrô de São Paulo e o PSDB, não surge neste inquérito uma delação por parte das próprias empresas corruptoras --declarações de um ex-diretor da Siemens foram decisivas para desencadear o escândalo tucano. Ao contrário, todas as citadas negam participação no esquema.

Apesar dessas objeções, e mesmo que nada, por enquanto, esteja comprovado e ainda menos julgado, o caso Petrobras muito provavelmente terá efeitos sobre o cenário eleitoral. Com que intensidade, porém, não se sabe.

As revelações reforçam as críticas do PSDB ao aparelhamento do Estado pelos governos do PT, mas não é especialmente confortável para os tucanos o papel de defensores inflexíveis da ética pública.

Talvez o melhor que possam fazer os candidatos, nesta altura, seja propor reformas mais amplas do ponto de vista do controle sobre os negócios do Estado e do próprio sistema político, de modo a minimizar o que há de estrutural nos mecanismos de corrupção.

Não é fácil; em meio à facilidade das acusações, um interessado silêncio predomina nesse aspecto.

Um exemplo positivo de negociação política - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 11/10


Mesmo que Aécio e Marina não se entendam sobre o segundo turno, a tentativa terá valido pelo seu nível, muito diferente do fisiologismo praticado nas alianças petistas


A candidata Marina Silva, do PSB, transformou em bandeira de campanha a defesa da “nova política”, em que valem as alianças tecidas em torno de programas e a qualidade ética dos políticos. Governar com os “bons” de cada legenda virou símbolo da da ex-senadora, outrora PT e ministra de Lula.

Independentemente das convicções de Marina Silva, caso ela se elegesse não haveria mesmo alternativa a não ser se sustentar em um arco de partidos, por ela ser candidata de uma legenda peso-médio, o PSB. De mais a mais, é tamanha a fragmentação da estrutura partidária brasileira que, seja quem vença eleição hoje no Brasil, a barganha entre partidos é inevitável na busca pela governabilidade.

Derrotada por Aécio Neves (PSDB) na disputa pela ida ao segundo turno contra a candidata à reeleição Dilma Roussef (PT), Marina pratica o que prega, ao negociar com os tucanos um entendimento programático para aderir à candidatura de Aécio.

Faz muito bem. Não apenas por coerência, mas também porque é necessário enfatizar, e cada vez mais, a melhor forma de se exercitar a negociação político-partidária.

Não é grave alguma demora para o desfecho desta negociação, embora haja limites para a indecisão numa campanha tão curta. Marina tem razão em reivindicar de Aécio Neves que adote pontos do seu programa para que o apoie. Mas necessita de bom senso e sensibilidade para avaliar se, diante do mesmo adversário comum de 2010, o melhor é repetir a abstenção daquele ano, posição que poderá ser entendida hoje como autoritária, de negação do jogo político saudável.

Nenhum dilema, porém, retardou o apoio a Aécio dos ex-candidatos Eduardo Jorge (PV) e Pastor Everaldo (PSC), entre outros. O mapa definitivo das adesões depende de condicionantes regionais que interferem nessa acomodação de terreno político-partidário.

O importante é os principais candidatos de oposição, Aécio e Marina, estabelecerem nítida diferença com o fisiologismo com que o PT negocia suas alianças desde a primeira campanha presidencial vitoriosa de Lula, em 2002. Foi quando houve a reunião a portas fechadas entre José Dirceu e Delúbio Soares, do PT, e Valdemar Costa Neto, então PL, em Brasília. Enquanto Lula e José Alencar, também PL, esperavam na sala, os três acertaram as cifras do dote de Alencar para ele ser o vice de Lula.

Percebeu-se depois que ali já estava presente o embrião do mensalão e do atual escândalo na Petrobras, em que acordos são caucionados em dinheiro de origem obscura, em nome de um projeto de poder.

Tanto tempo depois, Dirceu e Valdemar, mensaleiros condenados, estão presos, e Aécio e Marina podem firmar um acordo de campanha de forma translúcida e em bases éticas. Mesmo que não se entendam, terá valido pelo nível da negociação.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Lula mentiu. Eu não falei de Nordeste ou de nordestinos”
Ex-presidente FAHC sobre os boatos difundidos pelo ex-presidente petista


MEDO MANTÉM CONDECORAÇÕES

Os comandantes do Exército e da Aeronáutica se fingem de mortos e 2 anos após a condenação por corrupção dos mensaleiros José Genoino e José Dirceu, até hoje não cumpriram a legislação que os obriga a cassar as condecorações concedidas à dupla de presidiários. Ambos têm medo de contrariar a cúpula do PT e sobretudo a presidente Dilma. A condenação da dupla completou dois anos no dia 3 passado.

CASSAÇÃO

O Decreto 3446/2000, ignorado pelos comandantes, manda cassar medalhas de condenado por crime contra o erário, como é o caso.

HONRARIA

José Genoino foi homenageado com a Medalha do Pacificador, uma das mais importantes do Exército. E a mantém até hoje.

JUSTIÇA

José Dirceu ganhou a condecoração da Ordem do Mérito Aeronáutico, também entregue a Genoino quando ele era réu do mensalão, no STF.

DEBAIXO DA CAMA

O Ministério da Defesa e os comandantes militares se escondem para não dar explicações sobre o medo de cumprir a lei e cassar medalhas.

BNDES TOMA DINHEIRO A 11% E EMPRESTA A 5%

Esgotados os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), o BNDES, que financia recursos em valor secreto para Cuba e Angola (além, claro, de Eike Batista), passou a se abastecer com dinheiro do Tesouro: foram R$ 450 bilhões nos últimos cinco anos. Só que os recursos do Tesouro são pagos à taxa Selic, que está em 11% ao ano, enquanto o BNDES cobra só 5%. São R$ 30 bilhões de subsídio/ano.

PAROU

Não se sabe o efeito, para a economia real, da dinheirama jogada fora pelo BNDES, mas o fato é que o Brasil não cresce há três anos.

TÁ FEIA A COISA

Pior: não se vê solução na briga FAT x BNDES para resolver o rombo bilionário no Fundo, que banca o seguro-desemprego e abono salarial.

MISSÃO PARA O MPF

A situação do Fundo de Amparo ao Trabalhador é mais feia do que se tem revelado, e clama por intervenção do Ministério Público Federal.

NA PISTA

Após denúncias contra Sérgio Machado (Transpetro), o PMDB já cogita nomes para suceder seu padrinho Renan Calheiros no comando do Senado: Garibaldi Alves, Luiz Henrique, Valdir Raupp e Romero Jucá.

FINGINDO-SE DE MORTO

Sem saber o que dizer, o PMDB decidiu não se manifestar e “aguardar as provas” das graves denúncias de Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef contra Sérgio Machado e Jorge Zelada, indicados pelo partido respectivamente para a Transpetro e diretoria da Petrobras.

CONFIANTE

Sobre as acusações bombásticas de Alberto Youssef contra figurões da República, o advogado Antonio Figueiredo Basto afirmou que seu cliente “está confiante” que a Polícia Federal vai proteger sua vida.

ESQUISITICE

Foram recebidas com desconfiança pesquisas do Ibope e do Datafolha, divulgadas quinta à noite, com números rigorosamente iguais. Ficou parecendo coisa combinada para diminuir a própria margem de erro.

EBOLA CAIU DO CÉU?

Oposicionistas aguardam a confirmação do ebola, anunciado no exato dia em que foi revelada a espantosa corrupção na Petrobras, durante os governos Lula e Dilma. Desconfiam que o ebola pode estar sendo usado em lugar de “descobertas” de petróleo, para abafar o escândalo.

MOLEZA ELEITORAL

Pelas agendas divulgadas no site, o presidente dos Correios, Wagner Pinheiro, terá bastante tempo livre para atuar nas campanhas do PT. Trabalho, só de 9h às 12h e de 15h às 18h. Já o salário, R$ 44,5 mil.

TÁ DIFÍCIL

Pesquisa encomendada por Jofran Frejat (PR) representou balde de água fria na própria campanha: ele está a 22 pontos percentuais de Rodrigo Rollemberg (PSB), o líder na disputa pelo governo do DF.

DEBATE DA BAND

No debate da Band, Rodrigo Rollemberg (PSB) ignorou as provocações de Jofran Frejat (PSB), que o definiu como “o novo Agnelo de novo”, referindo-se ao governador que teve só 20% dos votos, no 1º turno.

RODA MOINHO

Chefe da campanha de reeleição de Lula no mensalão, o marqueteiro João Santana terá novo desafio: reeleger Dilma em pleno Petrolão.


PODER SEM PUDOR

DEVO, NÃO NEGO

Antônio Carlos Portela gostava de política e ajudava os amigos que viviam de política, em Petrópolis (RJ), sobretudo avalizando suas dívidas. Um desses amigos perdeu a eleição e, quebrado, não tinha como pagar o empréstimo obtido no banco, com o aval do seu Portela.

- O título está vencido - cobrou o gerente do banco.

- Eu sei - respondeu.

- Como avalista, o sr. é solidário - insistiu o aflito bancário.

- Claro! Sou amigo dele e estou inteiramente solidário. Se ele não pagou, é porque tem seus motivos. Então eu também não pago.