terça-feira, janeiro 25, 2011

MERVAL PEREIRA

Maconha, legalizar ou reprimir?
 Merval Pereira
O GLOBO - 25/01/11

A Comissão Global sobre Drogas encerra sua primeira reunião hoje, em Genebra, sob a coordenação do ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, com uma clara tendência, que certamente vai gerar muita polêmica: trabalhar pela legalização e regulamentação do uso da maconha como a melhor maneira de combater o tráfico de drogas e suas consequências.

Esse é um passo adiante do já dado pela Comissão Latino-Americana, que, além do ex-presidente brasileiro, tinha na sua coordenação os ex-presidentes César Gaviria, da Colômbia, e Ernesto Zedillo, do México, e defendeu a descriminalização da maconha, por ser a droga de uso amplamente majoritário no mundo (90% do consumo mundial de drogas) e, ao mesmo tempo, cujos malefícios podem ser comparados aos do álcool e do tabaco.

Fazem parte da Comissão Global políticos como Javier Solana, ex-secretário-geral da Otan e ex-Alto Representante para a Política Externa e de Segurança Comum da União Europeia; a ex-presidente da Suíça Ruth Dreifuss; George Schultz, ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos; e empresários como Richard Branson, fundador do grupo Virgin e ativista de causas sociais, e John Whitehead, banqueiro e presidente da fundação que construiu o memorial no lugar do World Trade Center, além de intelectuais como os escritores Carlos Fuentes, do México, e o peruano Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura.

A tese básica é que a política militarizada de combate ao tráfico tem sido muito custosa e, sobretudo, ineficaz, inclusive para os Estados Unidos, seu grande mentor, que gasta nela atualmente cerca de US$40 bilhões por ano.

Em 30 anos, o número de presos condenados por crimes relacionados com as drogas subiu de menos de 50 mil para 500 mil, representando um em cada quatro presos nos Estados Unidos. Enquanto isso, o preço das drogas está estabilizado ou decrescente, e o consumo não é reduzido.

Os estudos mostram que o tráfico de drogas também induz a outros tipos de crime. Segundo estatísticas, a média internacional de homicídios por cem mil habitantes mais que triplica em países produtores de drogas: de 5,98 em países não produtores de drogas, naqueles sobe para 17,05.

Os estudiosos reunidos em Genebra consideram que a política de "guerra às drogas", além de inócua na redução do consumo ou da produção, teve impactos graves na sociedade, como o rápido aumento da população encarcerada no mundo, aumentando também a violação dos direitos humanos; a restrição ao acesso de remédios essenciais como morfina, efedrina e metadona; criminalização dos usuários, o que impede um trabalho de saúde pública mais efetivo, como a prevenção da Aids.

Um dos maiores especialistas na política de redução de danos, Alex Wodak, diretor do Serviço de Álcool e Drogas do Hospital São Vicente em Sidney, na Austrália - que ajudou a implantar naquele país o primeiro programa de seringas descartáveis e de injeções sob supervisão para viciados -, mostrou estudos que demonstram que a terapia de metadona para substituir drogas ajuda a reduzir crimes: para cada cem pessoas em tratamento de metadona durante um ano, houve uma redução de 12% de roubos; 57% de arrombamentos e 56% de roubos de veículos.

Uma análise independente do programa de seringas na Austrália verificou que, de 1988 a 2000, foram evitados 25 mil casos de infecção por HIV e 21 mil casos de hepatite C. Até o ano passado, o programa foi responsável por evitar 4.500 mortes por HIV e 90 por hepatite C.

Nesse mesmo período, o programa de seringas custou US$119 milhões e poupou dos cofres públicos um mínimo de US$2 bilhões (há cálculos que chegam a US$7 bilhões).

Para reforçar a tese de que a legalização e a regulamentação do uso da maconha podem trazer benefícios, seus defensores comparam a situação atual com a fase da "prohibition" (proibição), como ficou conhecida a Lei Seca dos Estados Unidos, aprovada em janeiro de 1919, e que proibia a produção, a venda e o consumo de bebidas alcoólicas.

Na reunião de Genebra, Mike Trace, presidente do Consórcio Internacional de Políticas sobre Drogas, que já comandou o combate às drogas na Inglaterra, apresentou um trabalho mostrando que a legalização poderia criar um sistema supervisionado e transparente de distribuição de drogas, que daria às autoridades um maior controle sobre o suprimento, a demanda e a circulação das drogas na sociedade.

Embora essa quebra de paradigma não tenha sido tentada em nenhum lugar do mundo - mesmo porque o país que tentasse teria que se afastar das convenções da ONU -, Mike Trace vê como um sinal de que essa política começa a ser levada a sério o forte apoio que a Emenda 19 na Califórnia recebeu, tendo sido derrotada por pequena margem no ano passado.

David Mansfield, um especialista em projetos de desenvolvimento em áreas dominadas pelo tráfico, tem trabalhado em várias das maiores regiões produtoras de drogas na Ásia e América Latina nos últimos 20 anos.

LUIZ GARCIA

Mandato e emprego
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 25/01/11

Aposentadoria para quem exerce mandato político é tema recorrente, ou, com mais honesta simplicidade, um assunto que se recusa a ir embora. Na comunidade dos beneficiados, quase. todo mundo é a favor.

Minas é um caso interessante. Não apenas paga pensões a ex-governadores e suas viúvas, como uma lei estadual proíbe a divulgação dos nomes dos beneficiados e quanto cada um recebe. O estado é governado por Antonio Anastasia, do PSDB, partido que não se cansa de cobrar transparência nas despesas do governo federal. Anastasia falou sobre o assunto, mas se recusou a anunciar qualquer iniciativa para mexer na tal lei. Ou seja, falou mas não disse nada.

Do outro lado da cerca, o PT, pelo menos no Rio Grande do Sul, tem posição parecida: defende a pensão, mas o governador Tarso Genro prometeu enviar à Assembleia Legislativa um projeto de lei reduzindo as pensões de quem tenha outros vencimentos, no setor público ou na iniciativa particular.

Menos mal. Mas equivale a botar esparadrapo em fratura exposta. Porque o problema não é o valor e sim um equívoco deliberado: o de se tratar o mandato político como se fosse um emprego, e a política como profissão.

Não é novidade. Alguns anos atrás, a Câmara dos Deputados chegou muito perto de criar uma espécie de instituto de pensões e aposentadorias para seus membros. A iniciativa fracassou graças à péssima repercussão na opinião pública. Mas houve muita choradeira no velório da ideia.

No ano passado, o Congresso aprovou um projeto proibindo as candidaturas a mandatos no Senado e na Câmara de cidadãos já condenados por crimes comuns. Foi uma iniciativa óbvia: visava a impedir que o mandato servisse como asilo para bandidos endinheirados. O projeto, fruto de uma iniciativa popular jamais vista antes no Brasil - a campanha da Ficha Limpa - virou lei, sancionada em tempo recorde. Dos deputados ao presidente Lula, ninguém teve ânimo ou coragem de fazer frente a uma óbvia e enfática exigência da opinião pública.

Tratar mandato político como emprego obviamente não faz sentido. Não tem, claro, a gravidade da malandragem derrubada no ano passado, nem deve produzir uma reação da opinião pública sequer parecida como aquela que lavou nossa alma.

Mas políticos com mandatos executivos ou legislativos não deveriam esquecer que ficará bem limpinha a ficha dos homens públicos que tomarem a iniciativa de investigar essa história das aposentadorias de políticos. E, em seguida, acabar com a farra.

BRAZIU: O PUTEIRO

JOSÉ SIMÃO

Sampa urgente! Relaxa e boia!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/01/11

Desde menino que escuto: "São Paulo não pode parar". Não pode porque não tem estacionamento


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Feriadão da Afundação de São Paulo! AQUASSAB URGENTE! São Paulo foi fundada há 457 anos. E afundada na enchente de cinco minutos atrás! Afundação de Sampa!
E o Kassab já lançou uma montadora especial pra cidade: a HYNUNDAI! E programa de paulista é convidar os amigos pra ver a chuva: "Ah, vem ver a chuva aqui em casa que a gente chama uma pizza".
E quem vai entregar a pizza? O comandante Hamilton do Datena? Rarará! E São Paulo é a capital da gastronomia: todo mundo come todo mundo. E São Paulo tem tanto gay que devia se chamar SÃO PAULA!
E São Paulo é tão "workaholic" que tem carteiro na segunda-feira de Carnaval. É verdade. Uma vez eu passei o Carnaval em São Paulo na segunda-feira cedo e ouvi um grito: "Caaaarteiro!". E aí apareceu um outro e ligou a britadeira.
E eu sempre digo que paulista é o único povo que leva macarrão a sério. Eu sempre repito isso porque macarrão em São Paulo tem nome, sobrenome e recheio: torteli angolini al mascaporne com recheio de shiitake e shimeji!
Em São Paulo tem japonesa loira e bunduda! E outra instituição tipicamente paulista: a padoca! Padaria! Padoca e desmanche. Nunca vi cidade pra ter tanto desmanche. Toda rua em São Paulo é assim: uma padoca, um desmanche e uma agência do Bradesco!
São Paulo tem tanto buraco que você não consegue nem tomar uma Coca-Cola dentro do carro. Quando a lata tá chegando na boca, catapumba, engasga! Já tem buraco com carro dentro.
E já tem uma versão de "Sampa", do Caetano: "Alguma coisa acontece no meu piscinão/ que só quando eu fico ilhado na avenida São João/ É que quando eu cheguei por aqui/ comprei logo um jet ski". É o SAMPISCINÃO! E o Kassab disse que as obras antienchente estão surtindo efeito. Efeito Cascata. Rarará!
E desde menino que escuto esse slogan: "São Paulo não pode parar". São Paulo não pode parar porque não tem estacionamento. Carro em São Paulo tem que pagar IPTU. Bem imóvel.
São Paulo tem Capão Redondo, sendo que eu não sei o que é capão e muito menos por que é redondo. Em São Paulo ainda se come esfiha com Fanta! São Paulo tem tanto dinheiro que você só é rico na cidade dos outros. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

VINICIUS TORRES FREIRE

A volta da "crise da comida"
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/01/11

ALTA DOS PREÇOS DE GRÃOS, DE METAIS E DE COMBUSTÍVEIS PROVOCA INFLAÇÃO E TEMOR DE CRISES COMO AS DE 2008

Está de volta  a conversa sobre o risco de tumulto devido ao preço das commodities. Risco de a comida cara provocar convulsões em países pobres, inflação precoce em países ricos ainda deprimidos e altas de juros nos "emergentes" que agora carregam o crescimento mundial (China, Índia e até Brasil).
A situação ainda não se assemelha à de meados de 2008, quando a economia mundial superaquecida e o dinheiro barato na especulação com commodities inflacionaram arroz, milho e trigo do Egito ao México (lembra-se da crise da tortilla?).
Os tumultos na Tunísia e na Argélia têm sido em parte atribuídos ao preço da comida. A nova inflação dos alimentos seria devida à retomada forte do consumo no mundo dito emergente e, mais uma vez, à ação de especuladores no mercado futuro de commodities. A oferta de dinheiro barato no mundo rico, a juro zero, estimularia a especulação.
Ontem, Nicolas Sarkozy voltou a sugerir a regulamentação dos derivativos de recursos naturais (comida, minérios, combustíveis). A França ocupa a presidência do G20 e apresentou um esboço de seu plano de ação. As ideias do presidente francês sobre regulação financeira, câmbio e "reequilíbrio do poder econômico e político" mundial vêm sendo ignoradas por quem importa (EUA, China), mas seu discurso se soma à onda recente de alertas sobre a escassez de recursos naturais.
O tema está na pauta do Fórum Econômico Mundial, o de Davos. A OCDE acaba de soltar um estudo sobre os problemas de segurança alimentar nas próximas quatro décadas. O Banco Central Europeu entrou nessa dança, ao dizer na semana passada que o preço das commodities fez a inflação da eurolândia ultrapassar a meta implícita da região. Até a autorização para que se misture mais etanol de milho na gasolina, nos EUA, entrou nas listinhas recentes de perigos.
A multiplicidade de catástrofes naturais em grandes produtores de matérias-primas chamou a atenção para o risco de uma crise climática crônica afetar a oferta desses bens. Neste ano, pela primeira vez desde 2008 deve haver redução do estoque mundial de grãos, segundo estimativa do International Grains Council divulgada na sexta-feira passada. A FAO (burocracia da comida da ONU) e cúpulas de ministros de agricultura têm feito alertas sobre a nova crise da comida.
"Se não fizermos nada, há o risco de tumultos por causa de comida nos países mais pobres e um efeito muito negativo para o crescimento econômico global", disse Sarkozy.
Um tanto como em 2008, a discussão cheira a farisaísmo. Primeiro, porque há preocupação com o aumento marginal da fome e de outras necessidades, mas não com a fome "regular", "normal". Segundo e mais importante, porque nem mesmo após 2008 houve qualquer iniciativa de lidar com os empecilhos à oferta de comida em país pobre.
Além dos problemas causados por selvagerias políticas autóctones de África e sul da Ásia em particular, há os danos causados pelas políticas do mundo rico e da falta de assistência aos miseráveis. Em suma: 1) subsídios e barreiras comerciais em países ricos; 2) falta de infraestrutura e mercados agrícolas nos pobres; 3) falta de condições tecnológicas (se o Brasil fez agricultura tropical, a África pode ter a sua também). Disso, pouco se fala.

GOSTOSAS

HÉLIO SCHWARTSMAN

De essências e oportunidades
HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/01/11

SÃO PAULO - Há algo de indigno na demissão de Pedro Abramovay da Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas. Ao que consta, ele perdeu o cargo por ter defendido o fim da prisão para pequenos traficantes. Pode parecer uma mudança radical, mas a proposta do ex-secretário era apenas consagrar num projeto de lei entendimento do Supremo que respalda o uso de penas alternativas para a lei de drogas. Sem demérito ao pretório excelso, o STF, não é bem uma célula revolucionária. O Judiciário é (ou deveria ser) o poder essencialmente conservador da República.
É aí, no "essencialmente", que reside o problema. Por mais que queiramos analisar uma questão de modo racional, esbarramos no essencialismo inato de nossas mentes: estamos sempre em busca de definições que encerrariam a natureza secreta das coisas.
Há aí várias implicações. De um lado, isso nos leva, por exemplo, a ser observadores detalhistas, que tentam ler em pistas externas a verdadeira essência dos objetos. Outros subprodutos são o prazer que extraímos de jogos e da arte.
Só que o essencialismo também nos faz acreditar em deuses e na astrologia e abraçar teses maniqueístas: um traficante é alguém que participa do mal e deve, portanto, ser atirado na cadeia.
O ponto é que essas categorias essenciais estão em nossas cabeças, mas não necessariamente no mundo. A natureza prefere o gradualismo. O sujeito que vende um pouco de droga para sustentar sua dependência é traficante ou viciado? E o que, por amizade, oferece cocaína a um conhecido?
Aqui, ou operamos com categorias mais flexíveis, ou vamos lotar nossas cadeias sem resultados no controle das drogas. Dilma e o ministro José Eduardo Cardozo conhecem o problema. Lamentavelmente, trocaram o essencialismo ligeiramente libertário da esquerda pelo essencialismo puritano de seus novos aliados políticos. O nome desse processo é oportunismo.

MÔNICA BERGAMO

É COR DE ROSA-CHOQUE
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/01/11

Após lançar, em novembro, o livro "Hoje É o Dia Mais Feliz da Sua Vida", a designer Elisa Stecca escolheu a cor da capa, o rosa, como tema de uma experiência que pretende levar a cabo por três meses. Refez o guarda-roupa para se vestir apenas de rosa no período. "É a mistura do branco, a união de todas as cores, com o vermelho, tom do chakra-base", explica.

Além disso, convidou amigos de diversas áreas para rechear seu blog na série "O Rosa Nosso de Cada Dia". Em cada post, a fixação pelo rosa vai se manifestar em textos de personalidades como a artista plástica Pinky Wainer e a chef Carla Pernambuco.

FÓRUM DIGITAL
A Associação dos Magistrados Brasileiros começou a articular junto ao Executivo formas de financiamento para a informatização do Judiciárioem todas as suas instâncias. O desembargador Nelson Calandra, presidente da AMB, já conversou com o ministro Aloizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia, e solicitou audiência com José Eduardo Cardozo, da Justiça.

FÓRUM DIGITAL 2

A ideia é usar linhas de crédito internacionais do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento. "É um caminho mais fácil do que tentar buscar recursos dentro do Orçamento da União", diz Calandra. Segundo ele, a lentidão do Judiciário se deve, em parte, ao nó da tramitação dos processos de papel.

GUERRA SANTA
Dilma Rousseff colocou no gabinete presidencial duas santas que estavam na Casa Civil. Antônio Palocci, que assumiu o posto, argumentou que as imagens eram dele por direito. A presidente respondeu que ele só poderia levar uma. Dilma escolheu uma santa Ana de madeira, feita em Minas Gerais no século 19, e Palocci ficou com Nossa Senhora das Dores.

TOP TOP TOP
A top Isabeli Fontana desfilará com exclusividade para a Animale, na sexta, no primeiro dia da SPFW. Ela dividirá a passarela com Raquel Zimmermann.

NAS ALTURAS
Glória Pires aprenderá a pilotar um avião. Sua personagem em "A Arte de Perder", de Bruno Barreto, a arquiteta Lota de Macedo Soares, alugará um teco-teco para mostrar, do alto, a pororoca à poetisa americana Elizabeth Bishop. "É uma metáfora do encontro de Lota, o Amazonas, com Bishop, o oceano Atlântico", diz ele.

ÓPERA NO INTERIOR
A Cia. Brasileira de Ópera retoma sua turnê pelo país no dia 30, com a apresentação de "O Barbeiro de Sevilha" em Jundiaí (SP). Na montagem, os cantores contracenam com personagens desenhados pelo cartunista ítalo-americano Joshua Held.

MÃO NA MASSA
A chef Bel Coelho e o restaurateur Cristiano Almeida estão recolhendo doações para os desabrigados da região serrana do Rio. Os donativos podem ser entregues até a manhã de sexta no restaurante Dui, nos Jardins. Seguirão em um caminhão da Cruz Vermelha para o Rio.

A QUATRO MÃOS
A cantora Angela Ro Ro convidou a colega Silvia Machete para fazerem uma canção juntas, mas cada uma em seu canto. A parceria surgiu após Silvia fazer uma participação especial no último show de Ro Ro.

METRAGEM
A Spray Filmes, do cineasta Fernando Grostein Andrade ("Coração Vagabundo") e do produtor Fernando Menocci, se mudará para uma vila no Jardim Paulista. A nova sede tem 500 m2.

"PRESIDIR O PALMEIRAS, NEM PELA MEGA-SENA", DIZ BELLUZZO

Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-presidente do Palmeiras, falou à coluna um dia depois da eleição de sucessor. Mostrou um e-mail elogioso de Luis Paulo Rosenberg, vice de marketing do Corinthians. Criticado pela falta de títulos e pela situação financeira do alviverde, Belluzzo acha significativo uma manifestação respeitosa sobre seu mandato vir de um adversário.

Folha - Em junho de 2010, o senhor disse à coluna: 
"Os amigos falam que vou acabar tendo um troço [por causa do Palmeiras]". Em setembro, operou o coração.
Luiz Gonzaga Belluzzo - O Palmeiras tem pouco a ver com isso. É muita emoção, pressão, desgaste psicológico, mas estava escrito no meu gene que aconteceria.

O futebol deve mudar?
É fundamental sair das estruturas oligárquicas na CBF e nas federações. O futebol se universalizou e os times brasileiros não têm datas para excursionar. Poderíamos fazer pré-temporada no Qatar, mas temos que nos dobrar aos sátrapas locais, que se reproduzem no poder. Como disse Lula sobre Ricardo Teixeira: "Você está há 15 anos aí, está na hora de ir".

Concorda com Lula?
Concordo, mesmo que não fosse em relação ao Ricardo Teixeira. Pode ser qualquer um. O governo tem que ter política para o futebol. É de interesse público.

O Palmeiras foi o primeiro a negociar com Ronaldinho. Sente-se traído?
Não. O Assis [irmão e empresário do jogador] é incapaz disso. Traição é um ato excepcional de mau-caratismo. Esse é o comportamento normal dele.

Como reage às críticas de que, sendo economista, deixou dívidas no clube?
Ninguém inventa da noite pro dia uma dívida de R$ 90 milhões. Mas veja as receitas: R$ 55 milhões em 2006, R$ 103 milhões em 2010. Quase dobra.

Outra crítica é o acordo de licenciamento com a Record, que contrariaria a Globo.
Batalhei por uma melhoria no valor dos direitos de transmissão. Isso é tratado como se fosse um crime de lesa-pátria. Lesa a Globo, lesa a pátria. Isso me lembra o presidente Sarney, às vésperas do Plano Cruzado, que dizia: "Precisamos avisar o doutor Roberto Marinho".

Se Serra ganhasse, seria bom para o Palmeiras, time dele?

Seria. Ele não ajudou diretamente, mas o fato de ser governador me aproximou de gente que tinha condições de patrocinar o clube.

Como vê o governo Dilma?
Ela está indo bem, com trabalho, discrição. O Copom aumentou a taxa de juros, e ela respeitou a decisão do Banco Central, ainda que eu discorde da fúria do BC.

Pensa em voltar a alguma diretoria do Palmeiras?
Ex-presidente não pode aceitar outro cargo. Acho estranho ex-presidente [da República] ser prefeito de Cabrobó. E ser presidente de novo, nem se me oferecerem a Mega-Sena acumulada.

PINTA E BORDA
O ator Eri Johnson estreou a peça "Eri Pinta Johnson Borda" no teatro Renaissance, sob direção de Jairo Mattos. A ex-jogadora Milene Domingues levou Ronald, filho dela com Ronaldo, para ver o espetáculo. As atrizes Adriana Lessa e Fernanda Vasconcellos também conferiram a estreia.

CURTO-CIRCUITO

O espetáculo "Recordar É Viver", com Sérgio Britto e Suely Franco, estreia na sexta, às 21h, no Sesc Consolação. Classificação etária: 14 anos.

Mônica Salmaso e a Banda Mantiqueira fazem show hoje, a partir das 19h30, no Memorial da América Latina. Classificação etária: livre.

A mostra de grafite "Juneca, Um Nome que Virou Arte" será aberta hoje, no nBox.

O Armazém Piola será inaugurado hoje, às 19h, na rua Aspicuelta.

A Lello Condomínios distribui hoje 100 mil sacolas de lixo ecológicas para carros.

com ELIANE TRINDADE (interina), DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

CELSO MING

A gerente
Celso Ming 
O Estado de S.Paulo - 25/01/11

A presidente Dilma Rousseff está tentando passar para a opinião pública a imagem de que é gerente competente dos interesses do Estado.

É aparentemente por onde pretende obter sucesso como sucessora do presidente Lula, que fechou seu governo com mais de 80% de aprovação popular.

Em nenhum momento Lula pretendeu consagrar-se como administrador eficiente. Em oito anos de governo, seu forte foi a condução do jogo político e a comunicação direta com o eleitor, própria de líderes de tipo carismático. Para usar um tanto simplistamente as classificações de Max Weber, a demonstração de eficiência é característica das conduções burocráticas de poder.

O problema é que, quando se propõe a ser reconhecida como administradora competente, a presidente Dilma expõe-se mais diretamente às graves falhas de gestão. Nos primeiros 20 dias de novo governo, a opinião pública tomou conhecimento das gritantes lambanças cometidas pelo Ministério da Educação (MEC) na condução do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Desde 2009 os responsáveis pelo Enem vêm sendo reprovados na sua capacidade de proporcionar serviços de seleção. Agora, que os funcionários do governo deram provas cabais de incapacidade técnica, o ministro da Educação, Fernando Haddad, pretende a contratação de especialistas do setor privado, providência que poderia ter sido tomada muito antes.

Ainda nas primeiras semanas de janeiro, por ocasião das tragédias que aconteceram na região serrana do Rio, ficou demonstrada a falta de um esquema de prevenção de catástrofes naturais no País. Também se conheceram graves irregularidades em Feira de Santana (Bahia) nas vendas de imóveis do projeto Minha Casa, Minha Vida, conduzidas e financiadas pela Caixa Econômica Federal. Em seu discurso de posse, o ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho, reconheceu que a máquina do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) está tomada por fraudes, obra produzida por cupins humanos que ele se propõe a combater.

E as listas das irresponsabilidades e demonstrações de incompetência do setor público vão se acumulando diariamente nas denúncias dos jornais. É o que acontece nos portos, nos aeroportos, na manutenção das rodovias.

Mesmo em setores em que o governo é reconhecidamente competente, como na Receita Federal - e como sabe essa gente arrecadar impostos! -, graves violações de sigilo fiscal têm sido reveladas sem que até agora as autoridades tenham sido capazes de explicar como de fato aconteceram e como serão a partir de agora evitadas.

Essas manifestações de incapacidade administrativa são somente a ponta do iceberg que aflora acima da linha d"água. Esta não é uma característica apenas brasileira, mas por aqui é doença endêmica. Ressalvadas as exceções, as repartições públicas são conhecidas pela falta de comprometimento com o interesse público.

Dilma não é Lula e ela age corretamente ao procurar diferenciar seu governo do anterior. Mas, sabendo-se o que de fato é a administração pública federal, Dilma terá de se desdobrar para superar a vulnerabilidade da condição sob a qual ela mesma propõe ser avaliada.

COTAÇÃO DE EUROS EM DÓLARES

A recuperação do euro retratada acima começou quando Portugal conseguiu refinanciar ? 1,2 bilhão de sua dívida. Pode refletir compra de títulos da área do euro pela China. E leva o risco de as autoridades europeias se esquecerem de que o euro precisa de bases mais sólidas.

Hablas guarani?
O diário de Assunção ABC Color avisa que o Paraguai quer garantir a adoção do guarani como língua oficial do Mercosul, ao lado do espanhol e do português. Se isso acontecer, documentos e pronunciamentos terão tradução do e para o guarani.

NORMAL

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Microfone mudo
RANIER BRAGON - interino
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/01/11

Dilma Rousseff completa hoje 24 dias de governo com apenas uma manifestação pública de própria voz, a entrevista em que se dispôs a responder três perguntas por ocasião da tragédia que matou mais de 800 pessoas no Rio. Embora também tenha começado em ritmo bem abaixo do que desenvolveria ao logo de seus oito anos, Lula já havia, em igual período, concedido uma entrevista coletiva e feito cinco discursos, sem contar 13 briefings do seu porta-voz.
Dilma também desapareceu do Twitter desde que venceu as eleições. Há 43 dias ela não escreve nada para as 421 mil pessoas que a seguem no microblog.
Só pra contrariar Nesses quase três meses após o fechamento das urnas, suas manifestações no Twitter se limitaram a três ocasiões, uma delas após sua assessoria ser questionada se ela abandonaria a ferramenta.

Largada?
 
Apesar de avessa a holofotes até agora, Dilma tem quatro eventos públicos previstos para os próximos dias, além de outro planejado à "moda Lula": o anúncio de que remédios para hipertensão e diabetes serão distribuídos gratuitamente pelo Farmácia Popular, promessa de campanha. Hoje, o subsídio é de 90%.

Momo 
A presidente disse a assessores ter a intenção de passar o Carnaval em Fernando de Noronha.

Trololó 
A ênfase de Dilma na palavra "gestão" e a divisão do governo em fóruns levaram um aliado a desabafar: "Por estas e outras o Alckmin ganhou o apelido de Picolé de Chuchu".

Entre nós Passados poucos dias da "trégua" partidária, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) e o ministro Antonio Palocci (PT) voltaram ontem à mesa. Um partido atribui ao outro a autoria de acusações recíprocas publicadas na imprensa. A conclusão foi a mesma: a disputa provoca desgaste no governo como um todo.

Café... 
Tucanos mineiros e paulistas voltaram a trocar "bicadas" ontem pelo Twitter. Nárcio Rodrigues, secretário de Ciência e Tecnologia de Minas e aliado de Aécio Neves, postou no microblog texto de José Dirceu como argumento em defesa da candidatura do ex-governador ao Planalto em 2014.

...com leite 
A inspiração do mineiro revoltou Raul Christiano, correligionário de José Serra e dirigente do PSDB-SP: "Não acredito que companheiros de luta pela unidade do partido ecoem o texto de José Dirceu".

Imersão verde 
Fábio Feldmann (PV) reunirá amanhã representantes de ONGs que militam na causa da sustentabilidade para um jantar de "iniciação" com o tucano Bruno Covas, novo secretário estadual do Meio Ambiente.

Identidade 
O slogan "Cada vez melhor", concebido na gestão de Serra, permanece ilustrando as páginas do governo paulista quase um mês após a posse de Geraldo Alckmin.

Carimbo social 
Alckmin encomendou a publicitários um selo para padronizar as ações do programa do Fundo Social focado na qualidade de vida que integrará sete secretarias na capital.

Veja bem 
O futuro líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), diz que não tem relação com a indicação de Paula Maria Motta Lara para a Secretaria de Patrimônio da União. O convite teria sido feito diretamente pela ministra Miriam Belchior (Planejamento), com quem Paula Maria trabalhou na Prefeitura de Santo André.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

Tiroteio
"As centrais vão continuar cobrando. Se o governo Dilma não negociar, vamos intensificar nossas manifestações."
DE MIGUEL TORRES, VICE-PRESIDENTE DA FORÇA SINDICAL, respondendo a petistas segundo quem as centrais estariam atuando de forma mais dura do que a oposição em temas como a correção do salário mínimo.

Contraponto

Amuleto genealógico

Recém-empossada secretária de Justiça de São Paulo, a promotora Eloísa Arruda conversava com membros do primeiro escalão do governo paulista quando foi alertada por um colega sobre as medidas preventivas que ela deveria adotar para lidar com possíveis detratores na pasta. Um secretário advertiu:
-Tome cuidado com a inveja...
A secretária prontamente interveio, colocando ponto final na conversa:
-Fica tranquilo. Já tenho arruda no sobrenome.

RUBENS BARBOSA

Taxa de juros, um novo olhar
Rubens Barbosa 
O Estado de S.Paulo - 25/01/11

A combinação de alta da inflação com aumento do déficit público e das transações correntes acendeu a luz amarela - quase vermelha - no âmbito do governo e do setor privado. A reação imediata dos economistas e da mídia especializada ao repique da inflação foi considerar inevitável o aumento da taxa de juros, já a mais alta do mundo em termos reais.

Criou-se no Brasil o dogma de que a inflação pode ser contida com a elevação da taxa de juros, quando, na realidade, em países como o nosso, a relação de causa e efeito não ocorre necessariamente, ou não da mesma forma que nos países desenvolvidos. Há anos, em seguida às reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), o setor financeiro respira aliviado e o setor industrial repete as críticas, sem nenhum efeito prático, como ocorreu no último dia 19 de janeiro.

Chegou a hora de enfocar essa questão sob um ângulo novo. Em vez de reclamar do crescente gasto público e da insensibilidade das autoridades no tocante aos efeitos nocivos do aumento da taxa de juros sobre a os investimentos produtivos privados e sobre a dívida pública, que aumenta significativamente a cada movimento para cima dessa taxa, governo e setor privado deveriam começar um debate sobre os critérios empregados pelo Banco Central para defini-la.

O Banco Central tem como uma de suas missões principais a formulação, execução e acompanhamento da política monetária. Adicionalmente, exerce o controle das operações de crédito, formula, executa e acompanha a política cambial e as relações financeiras com o exterior; fiscaliza o Sistema Financeiro Nacional e o ordenamento do mercado financeiro; emite moeda e executa os serviços do meio circulante.

Com o objetivo de estabelecer as diretrizes da política monetária e de definir a taxa de juros, foi instituído, em 1996, o Copom, composto pelos membros da Diretoria Colegiada do Banco Central. A sistemática de "metas para a inflação", introduzida em 1999, foi determinada como diretriz de política monetária. Desde então, as decisões do Copom passaram a ter como objetivo cumprir as metas para a inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Formalmente, os objetivos do Copom são "implementar a política monetária, definir a meta da taxa Selic e seu eventual viés, e analisar o Relatório de Inflação". A taxa de juros fixada na reunião do Copom é a meta para a taxa Selic (taxa média dos financiamentos diários, com lastro em títulos federais, apurados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia), a qual vigora por todo o período, entre reuniões ordinárias do comitê.

O Copom faz uma análise da conjuntura doméstica abrangendo inflação, nível de atividade, evolução dos agregados monetários, finanças públicas, balanço de pagamentos, economia internacional, mercado de câmbio, reservas internacionais, mercado monetário, operações de mercado aberto, avaliação prospectiva das tendências da inflação e expectativas gerais para variáveis macroeconômicas. Após exame das projeções atualizadas para a inflação, são apresentadas alternativas para a taxa de juros de curto prazo e feitas recomendações acerca da política monetária. Ao final, procede-se à votação das propostas e se define a taxa de juros, sempre que possível, por consenso.

No caso dos EUA, o Federal Reserve Board (Fed) desempenha a função de banco central e tem competência regulatória e de supervisão das instituições financeiras, além de manter a estabilidade do sistema financeiro. Diferentemente do Banco Central do Brasil, o Fed tem a importante atribuição de alcançar objetivos algumas vezes conflitantes, como manter o emprego no nível mais alto possível, a estabilidade de preços, incluindo a prevenção da inflação (ou da deflação), e o nível moderado das taxas de juros a longo prazo. E tem também a competência de gerenciar a oferta de moeda, por meio da política monetária, e de fortalecer a posição dos EUA na economia global.

No Brasil, a análise comparativa das atribuições dos dois bancos centrais mostra uma preocupação estritamente monetária e financeira na discussão da fixação da taxa de juros, enquanto nos EUA há uma preocupação mais ampla, não limitada apenas às tendências da inflação ou deflação, mas igualmente com o nível de emprego e, portanto, com o crescimento da economia.

Trata-se de uma diferença de grande significação política. Nos EUA, o Fed é obrigado a preocupar-se com a situação geral da economia para manter a competitividade do país no contexto internacional. No Brasil, o Banco Central trabalha dentro de sua estrita competência, sem levar em conta esses critérios adicionais, e, na prática, fica refém de considerações às vezes conjunturais ou sazonais, ou sofre influência dos tomadores ou aplicadores, pessoas físicas ou jurídicas.

Depois de mais de 15 anos de bem-sucedida política econômica, que estabilizou a economia e manteve a inflação sob controle, o Brasil está entrando numa nova etapa, voltada para o crescimento, a expansão do mercado interno e a inserção competitiva no mercado externo.

Nesse contexto, impõe-se uma reavaliação de políticas que fizeram todo o sentido na etapa anterior, como, por exemplo, os critérios utilizados para a redução e a manutenção da inflação dentro de padrões mundiais aceitáveis, e a legislação cambial restritiva, adequada para uma situação em que a autoridade monetária teve de se preocupar com o controle cambial.

O Banco Central, assim, para definir a taxa de juros, não deveria continuar a basear sua análise da economia apenas em critérios financeiros. Caberia rever sua competência legal para incluir parâmetros de manutenção do emprego e do crescimento econômico, a exemplo dos bancos centrais dos EUA e da China.

PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP

GOSTOSA

XICO GRAZIANO

Tragédia anunciada
Xico Graziano 
O Estado de S.Paulo - 25/01/11

Muitos querem descobrir o culpado pelas enchentes. A pretensão expressa um raciocínio simplista, próprio da tradição cristã ocidental. No dualismo religioso, Deus enfrenta o diabo, o bem contra o mal. Será o temporal uma encrenca do demônio?

Vamos com calma. A chuva, na agricultura, é bênção divina. Na sua busca se rezam terços e fazem promessas. Inexiste na roça pior desgraça que a seca. As sementes esturricam no solo sem germinar e, se nascidas em pé, secam de dar dó. Faltar água na florada esteriliza as flores, aniquila a colheita. Sinônimo da fome.

Gente do campo incomoda-se ao escutar o homem do tempo, urbanoide, dizendo que vai fazer tempo ruim. Ora, nuvens escuras podem estragar a viagem para o litoral, acabar com casamento ao ar livre, molhar a churrasqueira. A lavoura, porém, agradece quando São Pedro lava o céu. Tempo bom!

Temporal é diferente. Se o terreno estiver exposto e, pior, lavrado, erosões se formam com a força das enxurradas. Ventos fortes quebram as plantas e terríveis voçorocas formam cicatrizes no solo. Estrago na roça.

Em meados do século passado, a conservação do solo tornou-se o maior desafio da agricultura brasileira. Estudos mostravam queda na produtividade agrícola, perda de sementes, fragilidade ante as pragas, custos crescentes. O cenário andava desolador em algumas regiões. Combater a erosão virou uma obsessão nacional.

O Incra promovia um concurso e premiava os produtores rurais conservacionistas. Lembro-me, no final dos anos de 1960, de a Fazenda Santana do Baguaçu, tocada em Pirassununga (SP) por meu tio, o agrônomo José Gomes da Silva, receber um daqueles valiosos certificados do governo. Plantio em curvas de nível, com terraços transversais à declividade do terreno, era a melhor receita conhecida contra o mal.

Funcionava, mas não resolvia totalmente o problema. Chuvas mais intensas "estouravam" as curvas de nível, piorando o dano. Foram necessários 30 anos para a agronomia desenvolver nova técnica, capaz de garantir a fertilidade agrícola nos países tropicais: o plantio direto. Uma maravilha.

Nesse sistema, o solo não é arado nem gradeado para receber as sementes. Máquinas modernas preparam apenas o sulco de plantio sem remexer no terreno todo, que permanece coberto pela palhada seca. Sem plantio direto os solos arenosos do Cerrado estariam destruídos pela erosão.

Nesse processo, os agricultores descobriram que de nada adianta amaldiçoar a tromba d"água. Sabendo-a inevitável, há que prevenir o seu furor, contrapondo-a com boa agricultura. Aprenderam também que, às vezes, o fenômeno da erosão ocorre mesmo em áreas nativas, como o provam as grotas. Existem catástrofes naturais.

Pense agora na cidade. Nessa mesma época da luta contra a erosão no campo, o fortíssimo êxodo rural invadiu os municípios. Durante décadas o território urbano foi ocupado descontroladamente, moradias roubando as várzeas dos rios. Populações tomaram encostas, asfalto impermeabilizou o solo. Mais tarde, o lixo entupiu bueiros.

Passava o tempo, caoticamente cresciam as metrópoles. Nada segurava o ímpeto do chamado progresso. A expansão urbana nascia no ventre da explosão populacional, carregada de promessas e sonhos, miséria e suor. Habitações precárias ergueram-se alhures, zero de engenharia, mãos calejadas transformadas em pedreiros de araque. Deus nos acuda.

Quem tem culpa pela tragédia da chuva? Todo mundo, e ninguém. A sociedade inteira paga agora pelos erros da civilização, no Brasil e no mundo. Na maioria das vezes, simplesmente a natureza reage às afrontas da soberba humana. O barranco derriça lama, enquanto o rio toma de volta seu quintal. Áreas de risco namoram a morte.

O poder público deveria, sim, ter normatizado a expansão urbana, evitando os desastres. Quando o fez, poderia ter fiscalizado rigidamente, impedindo que casas fossem construídas em áreas frágeis. Mas os governos, infelizmente, permaneceram lenientes. E a sociedade dormiu no ponto. Nada superou a busca do emprego, somada ao desejo do lar.

Políticos, de todos os naipes, pouco fizeram. A direita nunca ligou para o povo. A esquerda tudo justificava na luta pela moradia. Alguns até ofereciam "kit construção" nas épocas eleitorais, como ocorria aqui, nos mananciais paulistanos. Religiosos construíam igrejas para arrecadar o dízimo nos precários bairros. Sobravam alguns acadêmicos a alertar, sem encontrar eco na opinião pública.

Para arrematar o drama, chegou o aquecimento global. Eventos extremos fazem parte da agenda das mudanças climáticas. A pluviometria indica que as chuvas se concentram. É verdade, portanto, dizer que antes não chovia assim. Também é certo que outrora inexistiam tantos riscos. O resultado aparece tristemente na televisão. A desgraça apetece à imprensa. E tende a piorar.

De pouco adianta procurar culpados. Ninguém também aguenta mais ver autoridades anunciando verbas, nem pisar na lama para aumentar a sua fama. Gente oportunista bancando moralista. Basta. Tirar as enchentes da emergência: assim começa a solução contra essas tragédias anunciadas.

Uma lei, urgente, deveria obrigar os municípios a realizar um plano decenal, a favor da ocupação ordenada do seu território. Nele, prevenção deve virar mantra. Uma década com trabalho ininterrupto, dinheiro garantido, cronograma definido, transparência total. Somente assim, com planejamento urbano, se enfrentam as enchentes assassinas.

No campo, o plantio direto ajudou a salvar a lavoura. Na cidade, com agenda atrasada, a lição de casa, obrigatória, será mais complexa. E precisa ainda enfrentar os azares da política. Prefeito que desleixar deveria perder o mandato. Na hora.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Preço sobe, mas roubo de cobre recua no país
MARIA CRISTINA FRIAS

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/01/11

Apesar da alta no preço do cobre, as ocorrências de roubo do metal, problema recorrente no país, caíram com força no ano passado.
O prejuízo do setor com roubos ficou em R$ 7,4 milhões em 2010, quase 27% inferior ao registrado no fim de 2009, segundo o Sindicel (sindicato do setor).
Os assaltos a cargas e fábricas ficaram mais frequentes entre 2006 e 2007, quando o preço do metal ultrapassou a média de US$ 7.000 por tonelada. Em 2007 foram roubadas cerca de 840 toneladas. O problema se agravou no ano seguinte.
Um movimento de dispersão da indústria que se intensificou em 2010, especialmente para a região Sul, contribuiu para a recente queda dos casos, diz Sérgio Aredes, presidente do Sindicel.
"Hoje há uma quantidade maior de processadores primários do cobre que montaram suas unidades em Santa Catarina. A rota de lá até São Paulo está mais segura", diz.
Passaram a ser menos utilizadas as rotas da Bahia e do Rio de Janeiro até São Paulo, onde está concentrada a indústria de condutores produzidos, segundo Aredes.
Também contribuiu para o resultado um aumento do uso de escolta.
No ano passado, 425 toneladas foram roubadas, queda de 40%. Mesmo com o preço do metal em torno de US$ 9.500, o setor estima que os níveis de 2008 não devam voltar. "Hoje já não há mais roubo em fábricas, com o aumento do investimento em segurança. Só nas estradas."

Brasileiro gasta mais que o dobro com saúde que com educação

O brasileiro gasta mais que o dobro com saúde do que usa para educação, afirma pesquisa do Credit Suisse.
Cada família do país utiliza 9,8% dos seus rendimentos com assistência médica. Os gastos com educação são de 4,6%, segundo o estudo.
A porcentagem do salário destinada para saúde no Brasil é a maior entre os sete países analisados. Egito e Arábia Saudita vêm em seguida com 7,1% e 6,0% das despesas, respectivamente.
Entre os governos pesquisados, o brasileiro também é o que mais gasta com saúde, com 3,5% do orçamento, ao lado da Rússia, de acordo com o Credit Suisse.
Os investimentos públicos em educação, porém, são ainda maiores no Brasil, com 5,2% do total.
O país que dá mais atenção para educação é a Arábia Saudita, que direciona 5,6% das despesas para o setor.
Em parceria com a AC Nielsen, o Credit Suisse ouviu 13 mil pessoas para o estudo.

TACADA
A Vollo, importadora e distribuidora de acessórios esportivos, projeta aumento na prática de esportes incomuns para os brasileiros e investe em novas linhas.
De olho na Olimpíada de 2016, a marca, que comercializa produtos para badminton, beisebol, tênis de mesa e tênis, vai investir R$ 8 milhões no primeiro semestre deste ano em ampliação de itens e lançamento de uma nova linha de futebol.
"A demanda por acessórios de badminton tem crescido, principalmente depois que escolas públicas introduziram o esporte no currículo escolar", diz Ernesto Yang, sócio da companhia.
Como os equipamentos para esses esportes são mais caros, do que os de futebol, por exemplo, "o avanço das classes sociais também tem impulsionado a demanda", segundo Yang.
Cerca de 80% dos produtos da marca são fabricados na China. "Queremos aumentar a participação dos acessórios produzidos no Brasil, para cerca de 50%. Não podemos ficar com toda a posição lá fora, devido à variação cambial", diz.

ENGENHEIRO NA ESCOLA
Para combater a escassez de mão de obra de engenheiros no Brasil, o Seesp (Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo) criou o Isitec (Instituto Superior de Inovação e Tecnologia).
O instituto deve iniciar o primeiro curso de graduação, em engenharia de inovação, a partir de 2012.
A instituição terá parcerias internacionais e também com a FNE (Federação Nacional dos Engenheiros).
O investimento feito pela entidade mantenedora, a Seesp, foi de cerca de R$ 2 milhões, até o início da operação, além da construção do prédio próprio.
O custo de manutenção do 1º ao 5º ano da primeira turma é de R$ 23 milhões. O valor da mensalidade na graduação será de R$ 1.000.

BALCÃO
A confiança do comércio no Rio fechou o ano com o maior nível desde 2003. O indicador de confiança ICC, que avalia a percepção dos empresários do setor, medido pela Fecomércio-RJ, fechou dezembro com 146,15 pontos, 1,6% acima da pontuação registrada em novembro. Em dezembro, os setores mais otimistas foram os de papelarias, calçados, farmácias e supermercados. Pelo décimo primeiro mês seguido, nenhum setor apresentou resultado abaixo do ponto de equilíbrio (100 pontos). A parte do índice que avalia a situação futura teve retração.

Pergunte... As autoridades participantes do Fórum Econômico Mundial, que acontece entre amanhã e domingo na cidade de Davos, na Suíça, responderão a perguntas enviadas pela internet ao final das principais sessões do evento.

...ao líder O primeiro entrevistado será o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev. As perguntas enviadas serão selecionadas por votação na página do fórum no site YouTube (www.youtube.com/davos).

Parceria O Grupo Competence, rede de agências publicitárias de João Satt Filho, firmou parceria com Thiene 2080, empresa especializada em consultoria de negócios em marketing comercial.

Dó, ré, mi O mercado de instrumentos musicais está em expansão no país. A Sonotec Music & Sound, importadora e distribuidora, projeta aumento de 30% de suas operações para este ano. A expectativa da empresa é que sejam importadas 145 mil peças, com crescimento de 25% em relação ao ano passado.

PREVENÇÃO

ILIMAR FRANCO

Rede de intrigas em Furnas
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 25/01/11

A direção do PMDB desconfia que um grupo ligado ao PT de Minas Gerais é que anda produzindo dossiês contra a gestão do presidente de Furnas, Carlos Nadalutti Filho. Mas não pretende criar caso, pois o partido também quer trocar a cúpula da estatal. O partido já está passando um pente-fino nos quadros técnicos da empresa para fazer suas indicações. Os nomes serão apresentados ao ministro Edison Lobão (Minas e Energia), encarregado pela presidente Dilma Rousseff de promover a substituição no comando da empresa. O PMDB levantou todas as nomeações no setor elétrico e conclui que 60% dos técnicos são indicações do PT. 

Prevenção
O secretário de Meio Ambiente do Rio, Carlos Minc, quer que a reconstrução na Região Serrana seja feita respeitando a reserva legal e as áreas de proteção permanente em todas as propriedades. “A lei existe, cumpra-se”, prega Minc.

Faróis baixos
Desânimo na Aeronáutica com a decisão da presidente Dilma Rousseff de recomeçar o processo de escolha dos caças, que se arrasta desde o governo FH. Como todos os aviões já foram analisados anteriormente, inclusive o russo, oficiais da Força Aérea não veem sentido técnico nem estratégico na decisão, a não ser adiar essa despesa. Embora prefira o sueco Gripen, a Aeronáutica ficaria mais do que satisfeita com o francês Rafale. “Para quem tem um Fusquinha, está ótimo”, disse um oficial.

Qual o objetivo do PMDB de SP? Ampliar seus quadros, abrir o partido. E uma das aberturas se dá pela vinda do prefeito Gilberto Kassab. E, além dele, muitos outros virão” — Michel Temer, vice-presidente

Reestruturação
O presidente do Instituto Chico Mendes, Rômulo Mello, está com os dias contados. E o novo presidente do Ibama só será nomeado no final de fevereiro, depois que saírem a licença para a usina de Belo Monte e para o asfaltamento da BR-319.

Stress no PSB

A relação entre os governadores Eduardo Campos (PE) e Cid Gomes (CE), ambos do PSB, azedou. Cid se queixa de Campos não ter cumprido acordo segundo o qual ele indicaria o secretário-executivo do Ministério da Integração e o pernambucano, o da Secretaria dos Portos. Campos diz não lembrar desse compromisso. Mas não é só isso. Os demais governadores do PSB se ressentem de Cid e Eduardo terem peso maior nas decisões internas e nas negociações com o governo federal.

A dieta: os ministros fecham a boca

A maioria dos ministros do governo Dilma Rousseff adotou como regra, neste início de gestão, não fazer declarações públicas. 

Como o governo é de continuidade, consideram que não há necessidade de falar sobre as novas metas e planos de cada pasta. 

Há muitos ministros novos e paira no ar um temor de pisar na bola. A demissão de Pedro Abramovay, da Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas do Ministério da Justiça, deve ampliar ainda mais o medo da ribalta. 

RECONDUÇÃO. O líder do PMDB, Henrique Alves (RN), vai ser reeleito para o cargo. A bancada tem 79 deputados e ele já coletou mais de 60 assinaturas pela sua permanência na liderança. 

VERDES. Com o apoio de Marina Silva, o deputado eleito Alfredo Sirkis (PV-RJ) vai disputar a liderança da bancada. O
PV elegeu 15 deputados.

IRONIA Ex-presa política a presidente Dilma Rousseff inaugura sexta-feira no Rio Grande do Sul a usina termelétrica Presidente Médici - Candiota III.