Escreveu, não leu
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/06/11
RIO DE JANEIRO - "Você pode estar se perguntando: "Mas eu posso falar os livro?" Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico". Sim, você conhece esse texto. Consta de "Por uma Vida Melhor" (Editora Global), livro elaborado pela ONG Ação Educativa e distribuído para 4.326 escolas.O livro, aprovado pelo Ministério da Educação, recebeu críticas, inclusive minhas, baseadas nesse e em outros trechos em que a autora parece adotar uma postura populista quanto à língua. Uma funcionária da dita ONG conseguiu meu número de telefone e ofereceu-se para me enviar o trecho inteiro, para me convencer de que não era "nada daquilo". Respondi que, mais do que o trecho, gostaria de ler o próprio livro, se pudessem me mandar um exemplar -já que ele não está à venda nas livrarias.
Ao ouvir que a ONG não dispunha de mais nenhum, espantei-me: "Mas, como? Rodaram quase 500 mil livros e não sobrou nada?". Dias depois, o ministro da Educação , chamou de "fascistas" os que atacaram o livro sem lê-lo. Não sei sua opinião sobre os que defenderam o livro também sem lê-lo.
Mas um indício de que o ministro precisa dar um pulo aos capuchinhos foi a revelação, na mesma semana, de que material didático de matemática aprovado por seu ministério e distribuído para 37 mil escolas continha batatadas ainda piores. Segundo esse material, 10 -7 = 4, 16 - 8 = 6 e 16 - 7 = 5.
Estendendo o raciocínio da professora de português, você "pode dizer" que 10 - 7 = 4, mas deve ficar atento porque, dependendo da situação, corre o risco de ser vítima de preconceito aritmético. Donde ir à escola para aprender a falar ou a contar direito deixa de ter importância, e a utilidade de um ministério da Educação -que aprova livros sem lê-los- se torna discutível.
2 comentários:
Prezado Ruy Castro,
Sempre fui admiradora do seu trabalho, mas devo dizer que nesse caso dos livros didáticos você está errado. Começo pelo de Matemática: conta errada é errada mesmo, o MEC descobriu o erro e mandou recolher os livros. Caso encerrado.
Quanto ao livro de Português, é fato que quase todos o criticaram sem ter lido. O capítulo em que se encontra a frase que causou comoção nacional chama-se "Escrever é diferente de falar" e destina-se a explicar aos alunos de EJA que, numa escrita formal, não podem ser usados os mesmos recursos linguísticos da língua falada coloquial. Nesse contexto vem a afirmação de que se pode falar "os livro" na conversa cotidiana descontraída. Isso é verdade, você sabe disso. Todo mundo FALA 'os livro' na comunicação informal. É verdade também que quem disser "os livro" ou "nós pega os pexe" em situação formal e pública de uso da língua falada vai ser vítima de preconceito linguístico - vai ser chamado de ignorante, etc. O livro está correto.
Esse posicionamento, há muito tempo é aceito no Brasil,nos USA, na Europa. Os Parâmetros Curriculares Nacionais, publicados em 1997/1998, no governo FHC, pelo Ministro Paulo Renato, orientam o ensino nessa direção. O PNLD, programa também inaugurado na era FHC (1996), adota esses critérios na avaliação dos livros didáticos. Há 15 anos, portanto, os livros didáticos brasileiros trabalham, com correção e responsabilidade o FATO social da variação linguistica, ensinando os alunos a falar e escrever de modo adequado a cada situação de comunicação.
Você tomaria um chopp com alguém que usa a língua padrão formal em todos os contextos?
Um abraço.
Maria da Graça
Caro Castro:
Realmente, você que tem uma visão crítica da realidade, das forças que se debatem na sociedade, decepcionou seu leitor. Você foi extremamente infeliz ao andar por uma seara cujas veredas você desconhece completamente. Sua comparação entre os dois livros mostra que você padece de interpretação e repete discursos prontos. Seu texto não tem base científica é um tremendo sofisma.
Afonso cardoso
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