quinta-feira, maio 26, 2011

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Nasp offline?
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/05/11

Pelo menos por ora, está congelado o projeto Nasp (Novo Aeroporto de São Paulo), proposto pela Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, com apoio informal da TAM e da Gol, à nova Secretaria de Aviação Civil.

O pedido de autorização para a construção do terceiro aeroporto em São Paulo não agradou Dilma. Ele esvaziaria os planos de valorizar a Infraero e a presidente pretende abrir o capital da empresa.

Nasp 2

A construção do novo aeroporto (com capacidade para receber 40 milhões de passageiros/ano, estacionamento para 13 mil carros, orçado em algo como R$ 5,3 bilhões) independeria de licitação, segundo um jurista de peso. Por ser operado em regime privado e em terreno particular.

Simplificando: o serviço não obrigatoriamente teria que ser delegado via contrato de concessão, que depende de loooongo certame público. Poderia sair por meio de mera autorização administrativa.

A intervenção estatal, segundo o mesmo jurista, seria limitada à segurança operacional e aspectos ambientais. Cabendo ao operador da empreitada toda a parte operacional.

Nasp 3Do outro lado da questão, encontra-se a Odebrecht. Sem terreno próprio para construir aeroporto, depende do Estado. Isto é, de desapropriações e licitações, para concorrer à construção/operação de um pretenso terceiro aeroporto no Estado.

Limitada, estaria de olho nas obras ou "puxadinhos" emergenciais dos atuais aeroportos, como Viracopos.

Nasp 4
Quem também advoga pelo insucesso de um terceiro aeroporto é David Neeleman, que tem frequentado muito Brasília.

Enquanto isso, sua Azul, com QG justamente em Viracopos, conduz road show a pleno vapor para sua oferta pública inicial de ações.

De molho
Aloysio Nunes, senador, ficou afastado da discussão interna do PSDB por estar com a mulher internada no Einstein.

Entre idas e vindas ao hospital, encaixou conversa com Serra e Barros Munhoz para tratar da convenção do partido.

Na mesma

Em meio a rumores de que o Pão de Açúcar estaria comprando o Carrefour Brasil, Abílio Diniz é curto e certeiro: "O Grupo está sempre aberto a novas oportunidades para crescer e não temos nada que mereça ser informado".

Restaurando

Bandeira da gestão de Carlos Augusto Calil, a restauração do edifício Sampaio Moreira, primeiro arranha-céu de SP, entrou no... "papel". Saiu o edital da Secretaria de Cultura dando 30 dias para as construtoras se habilitarem.

Orçado em R$ 16 milhões, o projeto é de Samuel Kruchin.

Ausente-presenteAinda mastigando o convite que recebeu de Lula para se filiar ao PT, Juca Ferreira tem uma certeza: não tem intenção de disputar a prefeitura de Salvador. Apesar de os desafetos estarem aproveitando sua ausência para dizer o contrário, o indispondo com o PT baiano, que já tem candidato próprio para o posto.

Trabalhando para a Secretaria Geral Ibero-Americana, em Madri, o ex-ministro vai além: "Agora que sabem que estou morando aqui, só falta dizerem que insuflei a ocupação da Porta do Sol".

Cinco letras
Chico Buarque decidiu o nome do seu próximo disco: Chico. Simples assim.

Na estrada
Fause Haten bateu o martelo: lançará seu primeiro disco em julho, assim que acabar a SPFW.

Na frente


Ambientalistas elegeram alguns vilões nesta briga em torno do Código Florestal. O deputado tucano Duarte Nogueira é um deles. "Ele rasgou o patrimônio genético ambiental do PSDB", ataca Mário Mantovani, do SOS Mata Atlântica.

Acontece, segunda, a pré-estreia para convidados, do esperado Quebrando o Tabu -documentário sobre drogas ancorado por FHC. Com depoimentos que vão de Bill Clinton a Paulo Coelho. No Shopping Frei Caneca.

Além de mostrar suas joias no Fashion Day, a Tiffany sorteará vários pingentes no Cidade Jardim. Hoje.

Wanderley Nunes fez pit stop em Barcelona para ver Pedro Henrique, sua cria, correr na Fórmula GP3. E aproveitou para trazer novas tendências.

Correção: É de Daniela Crespi a foto na coluna ontem, e não Daniela Morganti.

Descoberta de um gaiato: é tudo armação contra Dominique Strauss-Khan. Afinal, qual o francês tomaria banho antes de voltar para casa?

GOSTOSA

CARLOS HEITOR CONY - Tempos suculentos


Tempos suculentos
CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/05/11

RIO DE JANEIRO - A falta de assunto é regra geral para os cronistas. Eles são avaliados na medida em que tiram leite de pedra. Rubem Braga descrevendo o fim de mundo seria um chato, mas olhando uma borboleta amarela é um gênio.
Por bem ou por mal, costumo me queixar da falta de assunto, recurso que uso para nada dizer a respeito de tudo. Mas os tempos estão contra mim: assunto é o que não falta.
Vejamos: a morte de Osama bin Laden, o escândalo de Dominique Strauss-Kahn, duas beatificações quase simultâneas -um papa polonês e uma freira baiana (o céu deve estar mais divertido)-, a pneumonia de dona Dilma, a exumação de Salvador Allende, os bens do dr. Palocci, as futricas do novo Código Florestal, a prisão do jornalista que matou a namorada, a ideia de Barack Obama de colocar Israel dentro das fronteiras de 1967, um tornado que devastou o Missouri, o livro que ensina a falar errado, vulcões em erupção, casamento de gays e, ainda por cima, assunto pessoal de última hora, a morte, aos 97 anos, do Abdias do Nascimento, que encarnou o dr. Jubileu de Almeida -personagem de uma das melhores peças do Nelson Rodrigues ("Perdoa-me por me Traíres") que era, ao mesmo tempo, deputado (ou senador), tarado sexual e reserva moral da nação.
Um só desses assuntos daria uma boa série de artigos ou crônicas para qualquer iniciante no duro ofício de jornalista.
Já foi-se o tempo em que um profissional de imprensa era avaliado pela insistência com que descobria grandes e relevantes temas.
Eu devia estar escrevendo sobre o Abdias, que fazia aniversário junto comigo e com o Glauber Rocha, mas citei o Nelson Rodrigues aí em cima e, apesar de tantos e suculentos assuntos, termino a crônica com uma genial tirada de sua "Valsa nº 6": "Quando chove em cima das igrejas, os anjos escorregam pelas paredes".

DEMÉTRIO MAGNOLI - Palocci e a hidra de duas cabeças


Palocci e a hidra de duas cabeças
DEMÉTRIO MAGNOLI

O Estado de S.Paulo - 26/05/11

Antônio Palocci não estará alheio à coincidência de que os lucros fabulosos de sua firma de consultoria tenham vindo à tona precisamente quando o governo Dilma Rousseff enfrenta uma encruzilhada crucial. De novo, mas numa conjuntura internacional diferente, eclode no núcleo do poder a disputa sobre o lugar do Estado na economia brasileira. Atrás do "fogo amigo" contra o chefe da Casa Civil está o projeto de radicalização do pacto lulista esboçado após a queda de Palocci, em 2006.

No primeiro mandato de Lula, a dupla Palocci-Henrique Meirelles funcionou como âncora da ortodoxia herdada, expressa nos três mandamentos oriundos do Plano Real: metas de inflação, câmbio flutuante e equilíbrio fiscal. O escândalo do caseiro abriu a oportunidade para o avanço dos "desenvolvimentistas" e, no segundo mandato, sob o comando ambivalente de Guido Mantega e Meirelles, surgiram os traços de um desenho alternativo, que tendia a suprimir o equilíbrio fiscal do tripé de política econômica. A quebra do Lehman Brothers, em 2008, rompeu o dique de contenção do Banco Central, propiciando a articulação do pacto lulista destinado a eleger Dilma Rousseff. Os vagalhões do tsunami seriam reduzidos a uma "marolinha" pela ressurreição do "Estado provedor".

No princípio, era necessidade. À estiagem global de liquidez o governo Lula contrapôs uma torrente de crédito e investimento que, em menos de um ano, reativou o crescimento interno. Depois, a necessidade foi retraduzida como virtude: o frenesi de gastos públicos aqueceu a caldeira da demanda interna, produzindo a fogueira de 2010. No ano eleitoral, a economia entrou em desabalada carreira, à custa de contratação de dívida pública, apreciação cambial e deterioração das contas externas.

Economia é política concentrada. O pacto lulista aliou o governo à fração principal do grande empresariado por intermédio do BNDES, das estatais e dos fundos de pensão. A inflexão de política econômica alicerçou-se sobre a convergência de duas motivações. Lula, que não se importa com ideias, consolidava uma aliança de poder que tornaria viável a transição para um governo destituído de seu carisma. Os arautos do capitalismo de Estado, representantes de uma doutrina, visualizavam a oportunidade para destruir alguns pilares da ortodoxia vigente. Fruto da convergência, surgiu a hidra de duas cabeças: uma política econômica que almeja conciliar voluntarismo desenvolvimentista e controle da inflação na moldura restritiva do câmbio flutuante.

Dilma montou seu governo à luz de um desejo continuísta, revigorando o poder de Mantega na equipe econômica, mas, simultaneamente, traçando um limite para as aventuras desenvolvimentistas pela nomeação de Palocci para o cargo fantasmagórico de primeiro-ministro. A hidra bifronte deveria seguir sua marcha, espalhando inconsistências ao longo de uma vereda providencialmente aberta pelos elevados fluxos externos de investimentos no Brasil. O repique inflacionário atual, num cenário de apreciação da moeda rodeado por incertezas externas, assinala a encruzilhada: cedo ou tarde, será preciso cortar uma das cabeças da hidra.

Decepar a cabeça desenvolvimentista exige a recuperação do equilíbrio fiscal por meio da redução dos gastos públicos, que possibilitaria mais à frente uma queda sustentada da taxa de juros. No curto prazo, porém, a inflação precisaria ser contida por aumentos inclementes dos juros. Em vários cenários externos malignos, a combinação de apertos fiscais e monetários provocaria uma recessão doméstica. A hipótese é politicamente dolorosa, talvez intragável, pois uma presidente sem carisma estaria declarando nulo o pacto lulista que a conduziu ao Planalto.

A alternativa, acalentada por figuras influentes, dentro e fora do governo, é decepar a cabeça ortodoxa, renunciando ao câmbio flutuante e ao sistema de metas de inflação. Num ambiente de aumento de preços internos, o governo usaria sua artilharia pesada para promover um vasto programa de obras e financiar o grande empresariado associado ao Estado. O real seria desvalorizado e o câmbio, posto sob cabresto. Sob a égide de um protecionismo restaurado, o mercado interno se converteria no eixo de expansão econômica. A hipótese equivale a um passeio às cegas num campo minado pelo retorno da inflação e pela queda dos salários reais.

A presidente pode adiar o desenlace, decidindo nada decidir, numa aposta equilibrada sobre as vultosas reservas internacionais do País e as esperanças numa evolução benigna do cenário mundial. O Ministério da Fazenda atribui as ameaças inflacionárias à especulação internacional nos mercados de commodities, silenciando acerca da orgia fiscal promovida no ano eleitoral. Hoje, num seminário conjunto do governo brasileiro e do FMI, Mantega repetirá sua peça acusatória contra as políticas monetárias dos EUA e da China, a fim de atribuir a fatores externos o impasse brasileiro. Ele tem alguma razão, como costumam ter uma pitada de razão todos os que invocam o espectro do "inimigo estrangeiro" para ocultar insolúveis dilemas internos.

"Não importam os nomes, a responsabilidade pela economia é minha", assegurou Dilma ainda antes da posse. Na política real, feita por pessoas de carne e osso, não por abstrações sociológicas, os nomes importam, sim - como sabem as fontes últimas das suspeitas que cercam o primeiro-ministro. Tais fontes evidenciaram apenas a película pública da história da firma de consultoria (ou de lobby, como sugere Michel Temer?), pois não pretendiam derrubar seu proprietário, mas tomá-lo como refém, provocando uma incapacitação política. O serviço, que contou com o auxílio involuntário do próprio Palocci, já está feito. O dilema econômico subsiste, mas o campo de batalha foi modificado.

JOSÉ SERRA - A indústria faz a diferença


A indústria faz a diferença
JOSÉ SERRA
O Estado de S.Paulo 26/05/11

Vira e mexe, defrontamo-nos com a tese de que "o Brasil está se desindustrializando" ou corre grandes riscos nesse sentido.

É bom esclarecer que o termo "desindustrialização" não significa declínio absoluto da produção do setor. Nem mesmo os casos notórios de perda de vitalidade industrial, como os Estados Unidos nos últimos 25 anos, acusam queda absoluta do produto manufatureiro. Em geral, desindustrialização tem que ver com a perda do poder da indústria de transformação para comandar o crescimento da economia.

A queda da fatia da indústria no produto é tradicional nas economias ricas. A partir de um certo estágio do desenvolvimento, a indústria vai mesmo cedendo participação ao setor de serviços. É diferente, porém, quando o recuo relativo da indústria manufatureira ocorre antes de a economia alcançar esse estágio. Nesse caso, seu menor dinamismo não é compensado pela expansão do setor de serviços, ainda influenciado por atividades de menor qualidade.

Isso define, como ocorre no Brasil, uma desindustrialização prematura. Note-se que nas economias em desenvolvimento mais dinâmicas (Índia, China e outras asiáticas), onde o PIB cresce rapidamente, o setor industrial tem estado sempre à frente. Já no grupo de países em desenvolvimento de menor crescimento, que o Brasil integra, a indústria vai ficando para trás. Diferentemente do que aconteceu entre 1930 e1980, houve queda da participação do setor no PIB de 13 pontos porcentuais entre 1985 e 2008 (dados da CNI). Desde 2004 até 2010, a fatia da indústria de transformação no produto caiu de 19,4% para 15,8%. No mesmo período, a taxa de crescimento industrial atingiu metade do ritmo do PIB.

Para compreender como isso começou é preciso levar em conta os estragos da superinflação que assolou a economia brasileira durante 15 anos, desde 1980, além dos efeitos a curto prazo da estabilização alcançada pelo Plano Real, em 1994, e solidificada nos anos seguintes, inclusive pela sobrevalorização do real, até 1998.

Desde a década passada a conjuntura externa mudou de sinal, tornando-se muito favorável ao comércio e às finanças do País. Mas isso não foi devidamente aproveitado como alavanca de desenvolvimento. Ao contrário, foram sendo criadas, ou consolidadas, condições negativas para a indústria: a maior taxa de juros reais do mundo, taxa de câmbio megavalorizada, a maior carga tributária entre os países emergentes, engessamento fiscal e acachapante taxa de investimento governamental.

Essa taxa reduzida explica o colapso da infraestrutura que deveria dar suporte à atividade produtiva em expansão. Além disso, o capital privado não é atraído a investir nessa área por causa da incapacidade da esfera federal para promover parcerias e da taxa de juros sideral. Trocando em miúdos: eleva-se fortemente o custo Brasil.

Com respeito à taxa de câmbio, isto é, à relação de troca entre o real e moedas estrangeiras, nunca antes neste país se atingiu um nível de apreciação tão escandaloso, não obstante ser considerado pelo atual governo como o último bombom da caixa de terapias anti-inflacionárias. O fato é que a política econômica lulista deixou avançar demais, de forma desnecessária, a apreciação do real. Agora, paga-se o preço.

Às questões anteriores adiciona-se o problema da tributação, que não favorece a agregação de valor e pune os investimentos e a exportação.

A indústria brasileira acabou se tornando, assim, refém de uma tesoura. De um lado, a lâmina da concorrência internacional, deteriorando a capacidade competitiva de nossas exportações de manufaturados. Do outro, a lâmina da concorrência dos importados, cada vez mais baratos. Como a China mantém seu câmbio fortemente desvalorizado e o Brasil faz o contrário, os produtos chineses podem apresentar preços internacionais em torno de 50% menores que os nossos.

Um dos principais efeitos da tesoura é o crescente déficit comercial de manufaturados: em 2005 o saldo comercial era positivo, de U$ 31 bilhões; em 2010 o déficit foi de U$ 35 bilhões!

A cada vez que importamos, por exemplo, uma válvula industrial, antes produzida no Brasil, estamos destruindo a capacidade empresarial e exportando bons empregos para o Sudeste Asiático. Aliás, a ocupação no segmento que produz essas válvulas caiu de 13 mil para 7 mil pessoas entre 2008 e 2011. No segmento de ferramentas de primeira linha, as importações triplicaram em três anos, com o desemprego de 17 mil pessoas. Porque somos ineficientes? Não. É o câmbio, estúpido!

A insensatez é tamanha que o Brasil, hoje, exporta celulose para a China e começa a importar papel de lá. Plantas de indústria do alumínio estão indo para o exterior processar a matéria-prima daqui extraída. A combinação do câmbio com a tributação está tornando inviável a indústria brasileira de metais.

Nossa renda per capita é quatro ou cinco vezes menor que a dos países ricos, temos índices imensos de pobreza e uma grande massa de pessoas desempregadas ou subempregadas. Enfrentar esse desafio implicaria dobrar a renda média dos brasileiros em 15 anos, com um crescimento superior a 5% ao ano.

Tal resultado depende de uma indústria dinâmica. Do contrário, não haverá aumento suficiente de bons empregos. Desperdiçaremos capacidade empresarial e dispensaremos os efeitos multiplicadores e aceleradores que o setor exerce sobre os outros segmentos da economia. A indústria é a via principal de penetração e difusão do progresso técnico na economia. É um setor em que a produtividade depende do seu próprio crescimento, num círculo virtuoso.

Intuitivamente, o Brasil percebeu essas coisas durante uns 50 anos do século passado. Agora precisamos reaprendê-las, num mundo mais desafiador, num país bem mais complexo. Mas vale a pena: a indústria pode fazer, sim, a diferença.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA


Deixa comigo
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/05/11

Em plena atividade na capital desde a véspera, Lula deu ontem sua contribuição à decisão governamental de engavetar o kit anti-homofobia que vinha sendo discutido pelo MEC e caiu na mira da bancada evangélica. Em reunião com senadores aliados, o ex-presidente contou que, surpreendido pelo debate, resolveu ligar para o ministro Fernando Haddad.
Com base na conversa com seu ex-colaborador, Lula tranquilizou a audiência: não havia, garantiu, nada decidido no governo a respeito daquele material. Horas depois, Gilberto Carvalho, que foi chefe de gabinete do petista e hoje ocupa a Secretaria Geral da Presidência, anunciou o arquivamento da iniciativa.

Despacho 
Na terça, em meio aos preparativos para votar o Código Florestal, Lula mandou chamar o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Sentidos 
De um PhD em Lula, sobre sua súbita hiperatividade: "Ele tem olfato".

Oremos 1 
Em reunião com Gilberto Carvalho, deputados evangélicos pediram a cabeça de Haddad, e ouviram do secretário-geral: "Como cristãos, vocês precisam perdoar o ministro". Resposta: "Perdoamos, mas ele tem que se retratar!".

Oremos 2 
A certa altura, Anthony Garotinho (PR-RJ) sugeriu: "Gilberto, chama lá a presidente. A gente sabe que ela está meio doente. Vamos fazer oração conjunta".

Dúvida 
Pergunta mais ouvida no Congresso ontem: se Antonio Palocci está firme, por que o governo cedeu tão rapidamente a Garotinho, que na véspera ameaçara convocar o ministro?

#prontofalei 
De Lula, na terça, a senadores do PT: "Estão testando a Dilma. Se tirar o Palocci, o governo dela vai se arrastar até o final".

Dueto 
Ao se despedir de Marcelo Déda (PT-SE), Dilma brincou: "Nunca mais cantamos...". O governador se prontificou: "Quando precisar, o gogó está afinado".

Ah, é? 
Se Dilma está brava com o PMDB por causa da atuação do partido na votação do Código Florestal, anteontem, a recíproca é verdadeira. Deputados da sigla aliada dizem que a presidente abusou da intransigência na negociação e precisa entender que não pode ganhar todas. A despeito da tensão, os dois lados devem recolher as armas, ao menos por ora.

Com a barriga 
Sem acordo à vista a dois dias da convenção do PSDB, vozes sóbrias passaram a defender que se deixe para depois a definição do presidente do Instituto Teotônio Vilela. José Serra quer o posto. Aliados de Aécio Neves estão decididos a entregá-lo a Tasso Jereissati. Pelo estatuto, apenas a cúpula partidária propriamente dita precisa ser escolhida no evento de sábado.

Pagar para rodar 
Em sabatina na Assembleia, a nova diretora da agência reguladora dos transportes, Karla Bertocco, anunciou que o governo paulista implantará pedágio pré-pago para massificar a arrecadação eletrônica nas rodovias concedidas. A ideia é que os cartões com chip sejam oferecidos gratuitamente.

Visitas à Folha 
Antonio Anastasia (PSDB), governador de Minas Gerais, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Simone Souto Maior, superintendente de Imprensa, e José Edward Lima, superintendente-adjunto.

Gilberto Leifert, presidente do Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), visitou ontem a Folha. Estava com Edney Narchi, vice executivo.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio

"Como diz o amigo e conterrâneo Fernando Sabino, 'no fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim'."
DO SENADOR AÉCIO NEVES (PSDB-MG), contestando previsões apocalípticas para a convenção tucana deste sábado, que escolherá a nova direção do partido.

contraponto

Assim não vale

O ministro Orlando Silva (Esporte) viajava a Duas Barras (RJ) para participar da inauguração de estátua em homenagem a Martinho da Vila. Como na cidade não há aeroporto, o helicóptero pousou num campo de futebol, durante um jogo de veteranos.
Constrangido por interromper a partida, o ministro cumprimentou cada um dos ex-jogadores do Fluminense que participavam do amistoso beneficente. Um deles, o deputado federal Deley (PSC-RJ), brincou:
-Logo agora que o nosso time estava pressionando, o pouso do helicóptero quebrou o ritmo!

GOSTOSA

CELSO MING - Melhor do que o esperado


Melhor do que o esperado
CELSO MING
O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/05/11
O comportamento das contas externas do Brasil neste ano é bem melhor do que vinha sendo projetado pelo Banco Central.

O resultado nas transações correntes do ano até abril, ou seja, as contas que reúnem todos os fluxos de recursos com exceção dos fluxos de capital, está negativo como esperado, mas abaixo do previsto.

A balança comercial está registrando faturamento mais alto das exportações em consequência da forte melhora das relações de troca. Ou seja, os preços dos produtos exportados pelo Brasil estão subindo mais do que os preços dos importados. É a situação que reflete o bom desempenho das cotações das commodities agrícolas. É provável que as exportações deste ano ultrapassem os US$ 250 bilhões. (O Banco Central vem trabalhando com projeção de US$ 240 bilhões.)

A maior surpresa está na Conta de Capitais e tem a ver com o desempenho dos Investimentos Estrangeiros Diretos (IED). Apenas nos quatro primeiros meses do ano, o Brasil recebeu US$ 23 bilhões, 3,04% do PIB, ou quase 42% do que o Banco Central prevê para o ano inteiro (US$ 55 bilhões).

No período de 12 meses terminado em abril, o IED atingiu os US$ 63,7 bilhões (veja o gráfico). A entrada desses capitais durante 2011 tem tudo para ultrapassar esse volume. O mundo rico passa por uma forte crise e isso, por si só, coloca foco de luz no desempenho dos emergentes, entre os quais está o Brasil. Além disso, há enorme volume de recursos zanzando no mercado financeiro global. Essa massa de capitais ainda deve aumentar com as novas emissões do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).

No entanto, boa parte desse aumento do IED neste ano deve estar relacionada com a imposição de um IOF de 6% sobre a entrada de recursos destinados a aplicações em renda fixa. Já que ficou bem mais caro trazer recursos para o Brasil nessa rubrica, os administradores de capitais podem estar usando o IED. Esse dado parece confirmar a baixa eficácia dos dispositivos de controle do afluxo de capitais pelo governo federal.

Nada menos do que 62,2% dos investimentos estrangeiros estão indo para o setor de serviços, especialmente para telecomunicações, eletricidade e comércio. Outros 25,5% vão para a indústria e 12,3% para o setor primário (agropecuária e mineração). É mais um dado que confirma o forte crescimento do setor de serviços no Brasil.

No mais, ainda não há sinais de deterioração das contas externas em consequência da forte valorização do real, que tantos economistas vêm prognosticando. Por enquanto, o rombo em transações correntes vem sendo financiado com entrada de capitais de longo prazo ou pelo IED, recursos considerados de boa qualidade.

De todo modo, déficit em conta corrente equivale a consumo acima do desejado. O Brasil enfrenta crônico raquitismo em seu índice de poupança (não passa de 17% do PIB). Por isso, o consumo aquecido é indicador que aponta para uma das fragilidades da economia.

CONFIRA

Credor líquido

A dívida externa em abril atingiu US$ 242 bilhões. Como as reservas externas estavam em US$ 328 bilhões, o Brasil seguiu como credor líquido do resto do mundo.

Mais viagens

Nos quatro primeiros meses de 2011, o déficit no item Viagens Internacionais atingiu US$ 4,3 bilhões, ou 76,1% acima do déficit de igual período de 2010.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Investimento chinês no país vai a R$ 12 bilhões
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/05/11

Além de grande parceiro comercial do Brasil, a China intensifica sua participação no país como investidor.
Ultrapassou os R$ 12 bilhões o investimento total feito por capital chinês no país em 2010, segundo estudo realizado pelo CEBC (Conselho Empresarial Brasil-China), a ser divulgado amanhã.
O que chama a atenção não é mais o volume e sim a diversificação dos destinos dos recursos, segundo Sergio Amaral, presidente do CEBC.
"Entre os investimentos anunciados e confirmados, se destacam os setores de energia, agronegócio, siderurgia, telecomunicações e educação", afirma Amaral.
"Não se restringem mais apenas a matérias primas."
Para este ano, os recursos devem se reorganizar em direção à indústria e aos setores de tecnologia avançada.
Energia, mineração e siderurgia foram responsáveis por 90% do volume de investimento anunciado em 2010, segundo a entidade.
O interesse chinês no país se traduz predominantemente em fusões e aquisições, que representaram quase 50% dos recursos em 2010.
Joint ventures tiveram participação de cerca de 25%.
O investimento por meio de projetos novos superou também os 20% dos recursos em 2010.

NA OBRA

A empresa de engenharia Mills deve investir R$ 337,2 milhões neste ano.
A companhia acaba de adquirir duas novas máquinas, chamadas de JLG 1500SJ, que são plataformas aéreas telescópicas.
Os equipamentos são utilizados para atingir grandes alturas em obras.
A Mills adquiriu outras três plataformas do modelo JLG 150HAX, que também é usado para a elevação de funcionários.
As plataformas atingem quase 50 metros de altura e podem ser usadas na construção de estádios.
A companhia atua em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Pernambuco, Rio Grande do Sul, entre outros Estados.

MODO DE PREPARO

A Cargill inaugura seu primeiro centro de inovação na América Latina no dia 6 de junho, em Campinas, no interior de São Paulo.
O investimento da companhia no projeto foi de cerca de R$ 20 milhões.
"Escolhemos a cidade de Campinas porque é uma região com forte núcleo acadêmico e disponibilidade de profissionais que possuem formação técnica no setor", afirma o presidente da empresa no Brasil, Marcelo Martins.
O centro também atenderá a demanda das indústrias da Cargill de outros países latino-americanos.
Os novos laboratórios desenvolverão ingredientes para produtos derivados de leite, bebidas, doces e pães.
"Nós temos planos de expandir o projeto, pois há área e instalações para criarmos outros ingredientes", afirma.

LATINO
André Loes será o economista-chefe do HSBC para a América Latina. O banco anuncia o novo cargo de Loes hoje. O economista será responsável por análises de temas regionais e continuará como economista-chefe no Brasil. Ele passou a trabalhar na instituição em 2008, após oito anos no Santander.

CASA SEGURA
As seguradoras apresentaram aumento de 15% no segmento residencial no primeiro trimestre deste ano, ante o mesmo período de 2010.
O faturamento da Bradesco Auto/RE no setor foi de R$ 71 milhões, o que representou um crescimento de 49%. A carteira da companhia superou a marca de 1,6 milhão de residências seguradas.
O grupo Banco do Brasil & Mapfre teve aumento de 16,5% no segmento residencial. Os prêmios da Porto Seguro chegaram a R$ 21,8 milhões no trimestre, com crescimento de 4,3% em 12 meses. Já a carteira da SulAmérica aumentou 14,9%.

PABX 
A Intelbras acaba de inaugurar um escritório regional em Brasília. A empresa, que atua nos setores de telecomunicação, informática e segurança eletrônica, quer atender a demanda do governo federal em novas tecnologias.

Na unha 

A Orgânica, empresa de cosméticos e acessórios para banho, lançará seis produtos de cutelaria, como alicates, cortadores de unha, tesoura e pinça. O investimento para a entrada no novo segmento foi de R$ 4 milhões.

Mudança 
A Funenseg (Escola Nacional de Seguros) contratou Maria Helena Monteiro, que foi vice-presidente de recursos humanos e administração da SulAmérica por dez anos, como a sua nova diretora de ensino técnico.

SEM COMPROMETIMENTO
Os trabalhadores jovens, entre 18 e 29 anos, se mostram sem comprometimento com os seus empregadores, segundo estudo da GfK.
No levantamento, realizado com mais de 30 mil funcionários, em 29 países, apenas 21% dos jovens estão muito envolvidos com seus empregadores. No Brasil, esse índice cai para 20%.

Ombudsman Carlos Fernández González, protetor do investidor da Bolsa de Madri, participa na próxima semana de fórum na BM&FBovespa. Marcelo Trindade, ex-CVM, e Suzana Singer, ombudsman da Folha, estarão presentes.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK e VITOR SION

CONTARDO CALLIGARIS - A fantasia (presumida) de DSK


A fantasia (presumida) de DSK
CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/05/11

"Li no "Times" de Londres desse domingo que Dominique Strauss-Kahn (DSK, na imprensa francesa), no dia de sua prisão, sentou-se numa poltrona de primeira classe do Air France 23 para Paris e fez um comentário sobre a aeromoça da cabine: "Bonita bunda". Isso, num tom suficientemente alto para que outros passageiros (e, presumivelmente, a própria aeromoça) ouvissem.
A seguir, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional e candidato socialista à Presidência da França foi retirado de seu assento e preso, acusado do estupro de uma mulher que entrara na sua suíte de hotel para fazer a limpeza.
Desde então, outras mulheres vieram a público para revelar que elas foram, no passado, vítimas de assédio sexual ou estupro por Strauss-Kahn. Todas declaram que calaram-se, convencidas de que a palavra delas pesaria menos do que a do poderoso DSK.
A quantidade e qualidade das acusações excluem a hipótese de armação da extrema direita francesa, que se beneficiaria com a saída de cena do candidato socialista.
Pois bem, DSK não foi julgado ainda. Mas apareceram numerosos comentários de leitores e colunistas da imprensa internacional, dos quais discordo -e talvez seja interessante explicar por quê.
Imaginemos que as acusações contra Dominique Strauss-Kahn se confirmem. Muitos perguntam: como é possível que um homem prestes a realizar seu sonho político não saiba se controlar e se deixe levar por compulsões "animalescas"?
Para Minette Marrin (do "Times"), "quando ele é possuído pelo espírito do "chaud lapin" (coelho excitado), DSK perde qualquer interesse pelos sentimentos de uma mulher. Ele os ignora e se impõe à mulher, agarrando-a e amassando-a como um dono (...) que não vê nada de errado na ideia de que a mulher não goste; talvez ele nem seja capaz de entender se ela gosta ou não".
Ora, o padrão presumido de DSK não é "animalesco" e é totalmente consistente com seu projeto de vida. Ou seja, o que acontece não é que Strauss-Kahn não controlaria um impulso secreto, que não teria nada a ver com sua vida pública. Ele não pula em qualquer mulher, aconteça o que acontecer. Ao contrário, aparentemente, sua fantasia dominante é a expressão coerente de uma ambição política, de domínio.
Ou você acha que é por acaso que ele teria escolhido mulheres que ele conseguiu manter no silêncio pela simples força de seu status?
A fantasia em jogo no caso (presumido) de Strauss-Kahn é mais complexa (e mais grave) do que o "simples" estupro; ela diz: "Eu te agarro, te uso, E VOCÊ NÃO VAI OUSAR NEM PIAR SOBRE ISSO".
Diferente do que diz Marrin, o Strauss-Kahn das denúncias se importa muito com o que pensam as mulheres, pois ele preza (acima de tudo, talvez) a frustração e a impotência exasperada de suas vítimas, incapazes de denunciá-lo.
Ou seja, à vista das acusações, DSK goza de uma fantasia de poder (mais do que propriamente sexual): seu prazer está em criar uma situação em que a vítima será e se sentirá derrotada, no silêncio. O caso relatado pelos passageiros da Air France é emblemático: a aeromoça não falaria, exatamente como as outras.
De repente, em Nova York, uma camareira imigrante africana teve a coragem de falar.
A ideia de que o senhor feudal teria o direito de deflorar as noivas de suas terras (dito "direito da primeira noite") é provavelmente um mito -ao menos, enquanto instituição jurídica.
Mas o tal "droit de cuissage" (direito de encoxar), embora não instituído, devia ser uma fantasia exercida sem dificuldade e sem risco: quem ousaria se queixar de ser agarrada pelo senhor das terras, e qual noivo ousaria pedir satisfação?
A família de meu pai é originária de uma cidade perto de Ivrea, no Piemonte, onde se celebra o carnaval com a Batalha das Laranjas.
É assim: uma jovem da cidade é escolhida "filha do dono do moinho" e simboliza uma mulher do povo, que cortou a cabeça de um duque que exigiu passar com ela a famosa primeira noite.
Milhares de cidadãos, vestidos a caráter, do domingo à terça de Carnaval, metralham com laranjas os guardas do duque que desfilam pela cidade de charrete. Alguns dizem que é um despropósito: são toneladas de laranjas desperdiçadas, a cada ano. Mas eu sempre achei que valia a pena".

GOSTOSA

DORA KRAMER - Fratura exposta


Fratura exposta
DORA KRAMER
O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/05/11

São vários os fatores que expõem a fragilidade política de Dilma Rousseff como presidente da República, sendo o mais recente e mais evidente a entrada de Luiz Inácio da Silva em cena.

Há outros, como a necessidade de esconder que a pneumonia contraída na volta da viagem à China não era “leve” como inicialmente anunciado, a recusa de tratar em público de suspeitas envolvendo seu principal auxiliar ou a demora em reagir a questões importantes como as sucessivas demonstrações de que há algo de muito errado no Ministério da Educação.

O recuo na distribuição do chamado “kit anti-homofobia” aconteceu não por causa de uma avaliação rigorosa sobre a adequação ou inadequação de uma campanha daquela natureza junto aos alunos do ensino fundamental, mas em função do temor de que católicos e evangélicos do Congresso não sustentem apoio a Antonio Palocci na crise.

Lula desembarcou em Brasília nesta semana não só para comandar a defesa do ministro Palocci, mas também para tentar conter a crescente insatisfação no PT e no PMDB com o estilo distante e animoso da presidente.

Para o público externo, galvaniza as atenções inventando uma versão qualquer para jogar suspeições sobre o PSDB a fim de desviar o foco das desconfianças sobre o enriquecimento anômalo do ministro e da evidência de que, se conspiração contra Palocci há, ela está dentro do PT e não na oposição.

Para o público interno, funciona como dique para conter a contrariedade das bancadas e suprir as carências do Planalto no momento em Palocci está fora de combate e que o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, se confirma na condição de nulidade.

A situação não é nova, vem se desgastando nos últimos dois meses, mas acabou se agravando com a crise que imobilizou Palocci conjugada à necessidade de uma articulação competente diante de uma questão importante como a votação do Código Florestal.

Um exemplo da carência de atributos de Dilma para lidar com o Congresso aconteceu na tarde de terça-feira, quando o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, foi ao palácio comunicar os termos para a votação do Código Florestal naquela noite.

O líder comunicou a Palocci o apoio do PMDB à emenda que permite a manutenção das produções agrícolas existentes em áreas de preservação permanente antes de 2008. Palocci levou a informação à presidente, que, então, mandou comunicar ao vice-presidente Michel Temer que se o partido insistisse no apoio à emenda demitiria todos os ministros do PMDB.

Uma impossibilidade evidente. Temer e Palocci precisaram contornar a situação fazendo ver a Dilma que aquele não seria o melhor momento para deflagrar uma guerra dessa envergadura.

O PMDB manteve a posição e à presidente foi transmitida a avaliação de que a emenda seria derrubada no Senado.

Se não for, ela terá de arcar com o desgaste do veto junto ao setor agrícola e até se expor ao risco de ver o veto derrubado.

Uma complicação à qual um governante não faz frente se não tiver experiência, vocação e tino políticos. Como Dilma Rousseff não tem, acaba de transferir essa tarefa a Lula. Tal transferência pode até resolver o problema de imediato.

Mas abre enorme flanco com a cessão da autoridade presidencial a outrem. E não a um outrem qualquer: a Lula que sabe como ninguém potencializar poder político.

Decorre daí uma anomalia: o encolhimento da figura da presidente de direito e a expansão do papel de um ex-presidente numa informalidade institucional jamais vista em qualquer país do mundo civilizado.

Passivo

Quando o Supremo Tribunal Federal rejeitou a denúncia contra o ministro no caso da quebra do sigilo bancário de Francenildo Costa, o fez por falta de provas. Talvez fosse outra a decisão se os detentores de informações importantes tivessem se manifestado no tempo adequado.

Como a Caixa Econômica Federal, que tardou, e falhou, ao só agora informar à Justiça que a responsabilidade foi do gabinete do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

JOSÉ SIMÃO - Sarney cancela o fim do mundo!


Sarney cancela o fim do mundo! 
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/05/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
"Após 11 anos do crime, Pimenta Neves é preso." Mas JÁ? Pra que essa pressa toda?
E o Rubinho sumiu! "Procura-se tartaruga perdida, grande estima, com a família há 18 anos. Gratifica-se bem!" Quem tava tomando conta da tartaruga, o Suplicy?
E o Corinthians quer contratar novo técnico: o Palófi! Assim já começa com 20 pontos a mais.
E esta da Folha: "Sexo oral dá câncer na boca". Como disse uma amiga minha: "Por que não avisaram isso ontem?". Sexo oral dá câncer na boca! Errado. Sexo oral dá cãibra na boca! Rarará! No máximo pode dar LER: lesão por esforço repetitivo! E sabe como se fala sexo oral em Minas? Chupar um queijo! Rarará!
Não dá pra fazer mais nada: beber dá ressaca e cirrose, transar dá Aids e churrasco dá colesterol. Viver dá câncer!
E o fim do mundo? E aquele monte de americano panaca esperando o fim do mundo? Que não veio! Diz que foi o Sarney que cancelou o evento: "Como fim do mundo? Eu ainda tenho 50 mandatos pra cumprir". E estão adiando tanto essa data do fim do mundo que vai acabar sendo sediado no Brasil, no estádio do Corinthians.
E o discurso do Obama? Folha: "Obama quer Estado palestino com as fronteiras de 1967!". "Piauí Herald": "Obama quer Suzana Vieira com o traçado de 1967". Quando ela ainda tinha 82 anos.
Sensacionalista: "Após plano de paz para a Palestina, Obama tem nova missão: quer que o Serra dê um abraço no Fernando Henrique". Rarará!
E eu já sei o que vão perguntar pro Palófi na CPI: "Como o senhor conseguiu multiplicar tudo por 20? Nós também queremos!". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E por que eu sou contra a CPI? CPI quer dizer Comissão de Perguntas Imbecis. Na última CPI um deputado perguntou: "Qual o seu modess operandi'?". O meu modess operandi é o Sempre Livre!
E outra pergunta que eles gostam de fazer: "O senhor leu a "Veja" esta semana?". Rarará! Quem gosta de CPI é telejornal!
E adorei esta: "Ministro tunisiano para a juventude anuncia demissão pelo Twitter". Mas é o ministro perfeito pra juventude. Não pode pedir demissão! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

COMIDA SUJA

CLÓVIS ROSSI - Dilma, cadê você?


Dilma, cadê você?
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/05/11
São Paulo - A presidente sumiu. Não fala, raras vezes é vista em público, não negocia politicamente. Ou, se negocia, o faz tão mal que perde talvez a mais importante votação no Congresso, apesar de ter, em tese, uma maioria folgada.
Não foi uma derrotazinha. Foi vergonhosa, na avaliação que fez, antes do vexame, o líder do governo, Cândido Vaccarezza.
Para fechar o quadro, reaparece em Brasília seu antecessor e padrinho, Luiz Inácio Lula da Silva, com o velho truque de atribuir um escândalo (no caso, o da fortuna do ministro Antonio Palocci) a uma tentativa de desestabilização do governo. Bobagem.
Contraria, de resto, a história do governo Lula. Com o mesmo personagem no centro, o escândalo do caseiro desestabilizou, sim, o próprio Palocci, mas o governo Lula só fez se dar bem daí para a frente, assim como o país. O Brasil cresceu mais, Lula reelegeu-se e virou um homem de R$ 200 mil por palestra.
Não dá para dizer que foi porque Palocci caiu, como é óbvio. Mas é igualmente óbvio que a queda não desestabilizou nada, talvez porque o ministro era menos essencial e menos poderoso do que dizíamos os jornalistas (vide coluna de ontem de Vinicius Torres Freire).
Se, em 2006, quando ainda havia fumaça nas cinzas do mensalão, a queda de Palocci foi facilmente absorvida, agora então é tudo mais tranquilo, até porque o céu econômico é quase de brigadeiro.
O que atrapalha é o desaparecimento da presidente Dilma, fato agravado pela desenvoltura de seu antecessor. Ficamos assim: surge um escândalo com Palocci, Lula demite Palocci. Surge outro escândalo com Palocci, mas Dilma nem demite Palocci nem exige que ele se explique nem sai publicamente em sua defesa.
Vai acabar dando a sensação de que Dilma está apenas esquentando a cadeira para a volta de quem nunca se foi.

ELIANE CANTANHÊDE - Lula sobe, Dilma desce


Lula sobe, Dilma desce
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/05/11

Tá valendo tudo, até recolher o kit anti-homofobia do MEC, para tentar conter a base aliada e evitar uma CPI e a convocação do primeiro ministro, ops!, do chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, para explicar o crescimento estonteante do seu patrimônio.

Sem explicações e consumindo gordura e energia para fechar qualquer canal de investigação (Polícia Federal, Receita e Conselho de Ética, além de CPIs e de comissões ordinárias do Congresso), Dilma fica refém, sucessivamente, de Lula, de Palocci (que, depois dessa, está liberado para tudo...) e dos aliados vorazes e acostumados ao jogo bruto, especialmente no PMDB.

Vêm daí a derrota na votação do Código Florestal na Câmara, a trombada entre PT e PMDB, a sem-cerimônia das bancadas evangélica e católica, o recuo nas cartilhas educativas anti-homofobia.

Tudo isso é potencializado pelo semi-imobilismo de Palocci, que é o negociador político do governo e, convenhamos, tem mais o que fazer enquanto não explica qual o projeto da ‘Projeto’.

A descoordenação começa nele e avança pelos demais líderes de Dilma no Congresso. Na Câmara, o do governo, Cândido Vaccarezza, e o do PT, Paulo Teixeira, batem de frente. No Senado, o do governo, Romero Jucá, também tem lá suas explicações a dar, e não é de hoje. E o do PT, Humberto Costa, ainda tem que comer muito feijão.

Nesse quadro, Lula aumenta e Dilma diminui já no seu quinto mês de governo. Ele ganha desenvoltura e assume o tom, a articulação, a estratégia. E ela se tranca nos palácios. Pode apostar: Lula deve estar sendo muito mais procurado — e acionado — do que a presidente da República. Por todos os motivos, isso não é nada bom nem para Dilma nem para seu governo.

PS

Com leucemia, Itamar Franco fica de molho por 30 dias. Um desfalque e tanto numa oposição aturdida e sem voz em que ele vem tendo natural destaque.

GOSTOSA

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - A quem interessa


A quem interessa
LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
O GLOBO - 26/05/11

Seguindo a velha regra que já ajudou a identificar tantos culpados, na ficção e na vida – pergunte sempre a quem mais interessa o crime –, seria possível imaginar o próprio Sarkozy disfarçado de camareira entrando naquele quarto para tentar o Strauss-Kahn. Que, como se sabe, assedia sexualmente qualquer coisa com duas pernas. A ninguém aproveitou mais a desmoralização do provável candidato socialista à sua sucessão do que a Sarkozy. Mas as teorias conspiratórias sobre uma possível armadilha para o grande Kahn, que já eram improváveis, não resistiram às provas coletadas e não parece haver mais dúvidas (pelo menos no momento em que escrevo) de que a camareira
foi forçada a fazer o que não queria, como tantos países emergentes constrangidos pelo FMI. E que o Sarkozy não estava por perto.
As multidões que protestam nas ruas da Espanha contra os políticos em geral e as medidas de austeridade do governo em particular (nos moldes das impostas pelo FMI a economias subdesenvolvidas e que o Strauss-Kahn criticava quando era do outro lado), como as manifestações recentes na Inglaterra e na França, são uma reação à proposta indecorosa de que a maioria sacrifique-se para resolver uma crise da qual não é culpada. No caso do estouro das finanças que há
dois anos reverbera pelo mundo, está claro quem são os culpados e a quem aproveita o crime. O capital financeiro não precisa sacrificar nada e ainda é subsidiado, e cria dificuldades para resolver as crises com dívidas incontroláveis que assolam a Espanha e outros países – com as quais os bancos também lucram.
Uma curiosidade liga as manifestações na Europa com as revoltas nos países árabes. Nos dois casos, pelo que se ouve, são as redes sociais que estão convocando e organizando os movimentos populares. Quando se esperava que o resultado da interligação do mundo por uma malha eletrônica fosse um enclausuramento geral – todo mundo preso à sua telinha –, houve o contrário. A Internet botou todo o mundo na rua!

CLÁUDIO HUMBERTO



“A presidente assistiu ao vídeo e não gostou”
MINISTRO GILBERTO CARVALHO SOBRE O KIT GAY DO MEC, DE PROMOÇÃO DO HOMOSSEXUALISMO

PALOCCI AINDA É MÉDICO DO GOVERNO PAULISTA 
O ministro Antonio Palocci (Casa Civil) é um homem de sete instrumentos: além das consultorias milionárias quando era deputado, e mesmo durante e depois da campanha de Dilma, continua no governo paulista como médico sanitarista em Ribeirão Preto, terra natal e berço político. O Portal da Transparência informa que Palocci não é servidor requisitado do governo paulista, mas sua assessoria garante que sim.

MAIS UMA? 
Acúmulo de cargos poderia caracterizar acumulação ilegal e indevida de emprego público, passível de ação por improbidade administrativa.

COMO DELÚBIO 
O ex-tesoureiro do mensalão Delúbio Soares foi condenado por improbidade por embolsar ilegalmente salários do governo de Goiás.

CAMISINHA DE FORÇA 
Sob pressão da “Frente da Família”, Dilma mandou bem, suspendendo o “inapropriado” kit gay do MEC. Já o obsceno “kit salva Palocci”, fica.

FALTA EXPLICAR 
Entreouvidos no gabinete de Dilma, ontem: “Marina Silva precisa ainda explicar por que os seringueiros votaram em Serra...”

LULA DEFENDEU PALOCCI, MAS FALOU MAL DE DILMA 
Nas reuniões com deputados e senadores aliados, em Brasília, o ex-presidente Lula falou bem do ministro Antonio Palocci, defendendo-o das acusações, mas surpreendeu falando mal do estilo ensimesmado da presidente Dilma. Ele a criticou por não fazer política. No caso do Código Florestal, ela nem sequer ouviu o relator do projeto, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), um aliado. E amargou uma derrota histórica.

REPETECO NO SENADO 
Experiente senador do PMDB avisa: o governo enfrentará no Senado a tendência que o derrotou na Câmara, na votação do Código Florestal.

ANISTIA SERÁ DE DILMA 
Editando um novo decreto, prorrogando a vigência do atual, na prática a presidente Dilma anistiará os agricultores ameaçados de punição.

O LÍDER 
Os defensores do Código Florestal ironizaram o deputado Sarney Filho, chamando-o de “líder do desenvolvimento sustentável do Maranhão”.

FALA, PATRIOTA 
O chanceler Antonio Patriota deveria interpelar sua colega da Espanha, Trinidad Jiménez, que visita Brasília hoje, por que o país dela continua hostilizando, humilhando e deportando turistas brasileiros diariamente.

ARROGÂNCIA E DERROTA 
A arrogância espanhola impressiona até no mercado financeiro. O presidente do banco Santander, Marcial Portela, agendou almoço com o governador Sérgio Cabral, na sexta (20), dia do leilão do Berj e da folha dos 440 mil servidores do Estado. Mas perdeu para o 
Bradesco. 

DESCULPAS EM PARTICULAR 
Após afirmar que na tribuna que para Dilma o novo Código Florestal era uma “vergonha”, o líder trapalhão do governo na Câmara, Cândido Vacarezza (PT-SP), em particular, pediu desculpas a Aldo Rebelo.

ELE NÃO AGRADA... 
A derrota acachapante na votação do Código Florestal foi mais um grande revés de Cândido Vaccarezza desde a fracassada candidatura a presidente da Câmara dos Deputados.

LÍDER DELE MESMO 
Paulo Teixeira (SP), líder do PT que defende as plantações de maconha para cooperativas de viciados, disse não saber se Dilma acha o Código Florestal “uma vergonha”. Não sabe mesmo: Dilma não fala com ele.

ENTULHO AUTORITÁRIO 
O governo de Agnelo Queiroz (PT) mantém o velho entulho autoritário de condicionar manifestações em Brasília a prévia “autorização” da Polícia Militar. Está no artigo 5º, inciso XVI da Constituição cidadã: protestos sem armas são livres “independentemente de autorização”.

O QUE É ISSO, CARA? 
Em discurso no parlamento britânico, Barack Obama reforçou a importância econômica de EUA e Europa, dizendo que “Brasil, China e Índia crescem aos trancos e barrancos”. No Brasil, só “barraco”. 

ALVORADA SEM VISITA 
O palácio da Alvorada, residência oficial do governo e sede de despachos ocasionais de Dilma, foi fechado ontem à visitação pública, sem maiores explicações. O Planalto também não disse por quê.

PENSANDO BEM... 
...está definitivamente presa a língua de Palocci. 

PODER SEM PUDOR
TOMANDO A TEMPERATURA
Interventor em Minas, Benedito Valadares tinha o hábito de reunir comitivas enormes, incluindo belas moças, em viagens de lazer a Araxá. Os rapazes da cidade adoravam essas visitas, entre eles Tatão Inglês, que vestia terno de linho branco e gravata vermelha – o que lhe rendeu o apelido “Termômetro”. Certa vez, em uma dessas viagens, a “rainha da caravana” sumiu. Logo o deputado José Maria Alkimin deu a explicação a Valadares:
– Ela foi tomar a temperatura...
Como ninguém entendeu, Alkimin explicou a piada:
– ...escapou com o “Termômetro”.