sexta-feira, fevereiro 04, 2011
DORA KRAMER
Arquivo morto
Dora Kramer
O ESTADO DE SÃO PAULO - 04/02/11
A iniciativa pode ser louvável, mas não é nova. Ao propor ao Executivo e ao Legislativo a criação de um "pacto republicano" entre os três Poderes para modernizar e dar celeridade à Justiça, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Cesar Peluso, repete o gesto feito pelo então presidente do STF Gilmar Mendes há menos de dois anos.
Em abril de 2009, no auge dos escândalos dos atos secretos do Senado, em cerimônia solene na Casa, representantes dos três Poderes comprometeram-se com a mesmíssima proposta: garantir ao brasileiro "um sistema de Justiça mais ágil, efetivo e acessível".
Presidia o Poder Executivo Luiz Inácio da Silva, mentor da atual presidente, comandava o Legislativo o atual presidente do Congresso, José Sarney, que, envolvido até o bigode em toda sorte de denúncias, apresentou-se de bom grado como anfitrião da solenidade.
Apenas uma maneira de produzir fatos positivos, porém inócuos, como se constata ante a evidência de que nenhuma providência foi tomada para materializar o pacto.
A declaração, bem-intencionada, careceu de condições objetivas para sua realização e de sinceridade nos propósitos de pelo menos parte dos signatários. O Legislativo só interessado em mudar de assunto e o Executivo empenhado em sustentar o desvio.
Lamentavelmente, as boas intenções do Judiciário não encontraram na época, e continuam não encontrando agora, correspondência na realidade.
Em sã consciência ninguém pode apostar na possibilidade remota de o Parlamento tocar novas legislações e regulamentações necessárias às medidas contidas no "pacto" na maneira como funciona hoje: desinteressado de quaisquer assuntos que requeiram trabalho, inteligência e preocupação com o bem-estar do público pagante.
Desigualdade. Imagine o leitor o que não pensa um aposentado comum diante das notícias sobre as aposentadorias vitalícias de ex-governadores? Recebem benefícios de até R$ 25 mil por, no máximo, oito anos de trabalho. Alguns deles fazem jus ao pagamento tendo dado meses, às vezes dias de um serviço que não é profissão, é delegação.
José Roberto da Silva, pernambucano de Jaboatão dos Guararapes, escreve para registrar sua perplexidade.
Aposentado desde 1992, ele recebe R$ 1.400. Como ainda trabalha, desconta 11% do salário para o INSS. "A contribuição vai para o ralo, pois não posso me aposentar de novo nem acrescentar essa contribuição à minha aposentadoria."
São 18 anos de contribuição para nada. "Não seria mais justo por parte do governo conceder aos aposentados a isenção desse tributo? Não seria mais justo e honesto que a contribuição de 35 anos fosse depositada numa espécie de poupança? Ou então que isso assegurasse um plano de saúde?"
Na opinião de José Roberto da Silva, 69 anos, 37 de contribuição pelo teto máximo como oficial da marinha mercante, passa da hora de "mudarmos a história deste país".
Não é, no entanto, a visão do governo, cuja determinação dada pela presidente Dilma Rousseff ao ministro da Previdência, Garibaldi Alves, por intermédio do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, é a de que não pense muito nem menos fale em alterações no sistema previdenciário.
Da conclusão da reforma, Dilma desistiu. E determinou a interdição do debate no âmbito do ministério.
Como dantes. Não é de espantar a violência do governo do Egito em relação aos jornalistas estrangeiros, brasileiros inclusive, que registram a revolta popular contra Hosni Mubarak. Afinal, trata-se de uma ditadura e, como tal, é de sua essência a barbárie.
Já de democracias, como o Brasil, o que se espera é, no mínimo, um posicionamento firme em prol da liberdade como valor universal. A nota em que o Itamaraty "deplora" os "confrontos violentos" não traduz repúdio ao essencial: o regime de força.
MERVAL PEREIRA
Mubarak piscou
Merval Pereira
O GLOBO - 04/02/11
Ao dizer que pretende sair, mas que só não o faz para evitar o caos no Egito, o ditador Hosni Mubarak piscou pela enésima vez desde o início da crise. Tudo indica que o ditador egípcio Hosni Mubarak errou ao tentar dispersar as manifestações contrárias ao seu governo na base da ameaça. Ao colocar nas ruas bandos de capangas para se confrontar com os manifestantes, o governo egípcio tentava dar ao mundo uma demonstração de que existem cidadãos que se dispõem a sair às ruas para defendê-lo.
Mas a estratégia foi tão mal construída que vários desses "manifestantes" a favor do governo foram identificados como agentes das forças de segurança do governo, e muitos deles tinham inclusive carteiras de identificação como policiais.
Em vez de demonstrar força, a ação dos capangas pagos pelo dinheiro dos contribuintes egípcios, que estão nas ruas justamente contra os abusos do Estado, trouxe à opinião pública internacional a certeza de que o governo de Mubarak não tem mais condições, sejam morais, sejam práticas, de conter a situação.
Se a ideia era assustar os manifestantes, que estão nas ruas há dez dias, também não funcionou, pois as manifestações só fizeram aumentar a partir da constatação de que os que protestam têm razões genuínas para estar nas ruas, enquanto os "defensores" de Mubarak só são mobilizados à custa de dinheiro, o que expõe ao mundo a fragilidade do atual governo.
Mubarak piscara várias vezes nos últimos dias, primeiro quando anunciou que não se candidataria a um novo mandato.
Depois, quando avisou que o vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, de seu esquema militar e nomeado nos primeiros dias da revolta popular para um posto que nunca havia sido ocupado, também não seria candidato.
Como não aplacasse a fúria das ruas, Mubarak teve que anunciar que seu filho Gamal, apontado como seu provável sucessor, também não disputaria as eleições de setembro, data que ele quer manter para as eleições que definiriam o fim de seu mandato.
Não parece ser o suficiente, porém, nem para os que estão nas ruas pedindo sua saída imediata, nem para os governos dos Estados Unidos e de países europeus como a França.
Ainda existe nesses governos a vontade de preservar o antigo aliado, mas não no poder. As pressões se direcionam para a convocação imediata de eleições, embora ainda se tente garantias para que Mubarak não tenha que sair foragido do país, o que parece cada vez mais difícil.
A repercussão da violência no Egito restringe cada vez mais a margem de manobra a favor de Mubarak.
Já é possível encontrar nos muros de Paris uma série de pichações relacionando a crise na Tunísia e no Egito com os problemas internos dos imigrantes, especialmente os dos países árabes que têm ligação histórica com a França e volta e meia incendeiam literalmente as relações com o governo, especialmente nas periferias da cidade.
A perseguição aos jornalistas estrangeiros que acompanham a crise e enviam seus relatos a partir do Cairo e outras cidades revoltadas, é mais um ingrediente contra o governo de Mubarak, que a cada dia vê seu campo de manobra ser reduzido.
A justificativa oficial para a perseguição a jornalistas estrangeiros é que a imprensa internacional estaria fazendo uma cobertura com o viés contrário ao governo, ajudando dessa maneira os manifestantes que querem a queda de Mubarak.
O fato de o primeiro-ministro Ahmed Shafiq ter pedido desculpas pelo ataque de partidários do presidente Hosni Mubarak aos manifestantes que pacificamente defendiam a democracia nas ruas mostra que a reação das gangues armadas e pagas pelo esquema policial de Mubarak, que deixou ao menos uma dezena de mortos e mais de mil feridos, muitos dos quais vagam pela Praça Tahrir como zumbis insistentes, só fez piorar a situação do governo.
Ele anunciou que as investigações revelarão quem está por trás "desse crime e quem permitiu que ele ocorresse", e eles serão "punidos". Shafiq foi incisivo: "Não há qualquer desculpa possível para atacar manifestantes pacíficos".
Na versão do ditador Mubarak, no entanto, os confrontos foram insuflados pela Irmandade Muçulmana, o que serve para aumentar o pavor que o Ocidente tem de que esse grupo radical islâmico assuma o poder com sua saída, embora claramente não esteja liderando a oposição.
Tanto o vice-presidente quanto o primeiro-ministro, militares do esquema governamental, haviam sido nomeados como alternativas para que o partido do governo continuasse no poder em caso de o ditador ter mesmo que desistir, o que foi devidamente interpretado pela oposição como uma tentativa de permanência no poder sem negociações.
O que acontecerá no Egito é um sinalizador para outros países da região que também estão às voltas com manifestações populares. E parece estar assustando muito além da região.
O fato de a China ter censurado a internet, especificamente para impedir consultas sobre a crise no Egito, é um sinal de que outras ditaduras não querem saber de manifestações contra autoritarismo, mesmo indiretas.
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Dilma "contra" Lula
Fernando de Barros e Silva
FOLHA DE SÃO PAULO - 04/02/11
Dilma Rousseff caiu no gosto das pessoas que vivem no que Elio Gaspari costuma chamar de "andar de cima". As classes dirigentes parecem encantadas com a nova presidente. Quanto ao povo que a elegeu por causa de Lula, por enquanto é mais difícil saber o que está pensando, ou mesmo se estaria pensando algo a esse respeito.
Elogia-se em Dilma sobretudo o estilo. A discrição, a sobriedade, o formalismo dos gestos. É menos o governo que mal começou do que sua maneira de se comportar que tem arrancado entusiasmados aplausos dos analistas políticos.
Com mais ou menos consciência, elogia-se Dilma para criticar Lula -ou melhor, pretende-se atacar Lula elogiando Dilma, numa espécie de revanche póstuma e de efeito simbólico contra o boquirroto.
A agenda de boa parte da mídia tem sido intrigar Dilma e Lula, como se este fosse um governo de oposição, e não de continuidade.
O que os cães de guarda bem remunerados da imprensa governista chamavam de PIG (o Partido da Imprensa Golpista) hoje está mais para pug -o cachorrinho de madame.
Basta, por ora, que Dilma seja o negativo comportamental de Lula para sair bem na foto das elites. Se o Brasil fosse uma praia, é como se essas pessoas ficassem aliviadas com a retirada de cena do farofeiro.
Para além dos modos, há, é claro, razões objetivas sustentando a boa impressão da presidente. A extrema prudência na condução da economia é a primeira delas. O pragmatismo político é outra. Dilma também se mostra mais comprometida com os direitos humanos e menos disposta a patrocinar o antiamericanismo do antecessor.
Tudo isso tem colaborado para um clima geral de distensão no cenário político. O preço simbólico que essa comunhão cobrou até aqui foram as pauladas retóricas no lombo de Lula. Mas, como toda lua de mel, essa também tem prazo de validade. Mais adiante veremos o que havia de precipitação nesse súbito amor entre Dilma e a zona sul.
ANCELMO GÓIS
A cabeça de Agnelli
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 04/02/11
A manutenção, ou não, de Roger Agnelli no comando da Vale é mesmo discutida no governo. O Estado se acha no direito de meter o bedelho na empresa, alegando que, via BNDES e Previ, tem a maioria de seu capital.
Segue...
Mesmo que, num primeiro momento, isso possa diminuir o lucro da Vale e, com isso, os bônus de seus executivos, o sonho desses setores do governo é fazer a empresa intensificar seus investimentos em siderurgia e em outras áreas industriais. Ou, para citar outro exemplo, comprar mais navios por aqui e menos no exterior, como faz a Petrobras.
Para concluir...
No governo, não faltam elogios a Agnelli, cujo mandato atual termina em abril. Ele é apontado como um dos melhores executivos do país. A questão é saber se topa fazer este serviço ou se será preciso buscar outra pessoa.
Treinar pra quê?
Romário, que tomou posse esta semana como deputado, passeava ontem, por volta de 15h, pelo Rio Design Barra. Aliás, na véspera, nem se quisesse, o Baixinho ouviria o discurso de Sarney na abertura do Congresso. É que seus colegas deputados disputavam seu autógrafo sempre com uma desculpa tipo “é para o meu filho”.
No mais
A coluna já perguntou, mas não custa repetir: o que o deputado Henrique Eduardo Alves tanto deve ao colega Eduardo Cunha?
Agora vai
O ex-ministro do Futuro Mangabeira Unger será contratado para prestar consultoria ao governo de Rondônia, de Confúcio Moura.
Nas palavras do governador, Mangabeira será o “CEO do estado”.
Coisa de país rico
A revistona britânica “The Economist” fez a seguinte pesquisa: “Onde um senior manager (gerentão sênior) ganha mais?” Resposta encontrada, acredite: no... Brasil. Um profissional desses ganha mais em São Paulo do que em Nova York, Londres, Cingapura ou Hong Kong.
O riso de Collor
O ex-cara pintada Lindberg Farias não aguenta mais ouvir a pergunta: o que disse ao agora colega Fernando Collor para arrancar dele aquela gargalhada no encontro dos dois no Senado, como mostrou foto no GLOBO? O líder dos estudantes pelo impeachment de Collor tenta não mostrar irritação, mas também não revela de jeito algum.
Mário, 100 anos
Os Correios vão lançar um selo pelos 100 anos que o grande brasileiro Mário Lago, ator, compositor, faria em 2011. Merece.
Hoje, Abraham Goldstein, presidente da B’nai Brith Internacional, será recepcionado na casa de Ernesto Maier Rymer para celebração do Kabalat.
João Arbex homenageia Maristela Kubitschek no Monte Líbano, amanhã.
A Beija-Flor ensaia hoje no Vivo Rio.
Compositores e músicos de Botafo-go fazem show sábado no Guanabara.
Hoje, Aleh abre a programação de Verão da Maracatu Brasil.
A Le Lis Blanc lança sua coleção.
Nei Lopes e Wilson Moreira fazem show hoje no ensaio do Simpatia É Quase Amor, no Parada da Lapa.
Carlos Malta e Pife Muderno tocam hoje no Democráticos, na Lapa.
Antonio Jorge Pinheiro, da Mídia 1, abre a cadeira eletiva de Mídia e Entretenimento na PUC.
É hoje a abertura da 9ª edição do Sesc Rio Noites Cariocas.
A conta da luz
A Secretaria e a Fundação municipal de Educação de Niterói completaram a marca de 20 meses ininterruptos sem pagar as contas de luz A dívida acumulada das duas é de R$2 93 milhões A Ampla diz que vai cortar a energia das unidades administrativas nos próximos dias. A rede escolar terá o fornecimento mantido.
De mãos dadas
A operação para instalação da UPP do Morro de São Carlos vai repetir o modelo bem sucedido da invasão do Alemão. Serão 700 policiais. Além da PM e da Polícia Civil, a Secretaria de Segurança do Rio convidou as polícias Federal e Rodoviária. A Marinha, de novo, vai ceder os equipamentos.
Churrasco de pizza
A churrascaria Pampa Grill, na Barra, no Rio, vai diversificar e abrir uma pizzaria. Deve inaugurar no fim do mês. A Pampa Pizza terá 160m² e ficará ao lado da churrascaria.
Gaúcho na Saara
Está à venda na Saara, comércio popular do Centro do Rio, uma camisa do Flamengo com o rosto do Ronaldinho Gaúcho.
Custa R$25. Mas um camelô da área disse que vendeu ontem por R$15.
Os cabelos de Paes
De Eduardo Paes, subindo nas tamancas depois de ler aqui que, segundo fãs, teria pintado os cabelos: —Só pode ser sacanagem! Pintar cabelo é demais! São 41 anos de idade, muito trabalho desde cedo e nenhum cabelo branco, sem precisar pintar.
ELIANE CANTANHÊDE
Agora, basta!
ELIANE CANTANHÊDE
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 04/02/11
BRASÍLIA - Diplomatas são treinados para ter sangue-frio, paciência, linguajar sutil e habilidade. Mas eles também são de carne e osso, e a paciência do embaixador brasileiro no Cairo, Cesário Melantonio, 40 anos de Itamaraty, parece que se esgotou ontem.Ele considera, como qualquer pessoa razoável e qualquer regime que se preze, que o ditador Hosni Mubarak ultrapassou todos os limites ao jogar os cães -e policiais à paisana, travestidos de "manifestantes pró-governo"- contra jornalistas estrangeiros, não importando a nacionalidade.
A fúria atingiu jornalistas de aliados como os Estados Unidos (o maior de todos...) e de todo o resto: da Turquia, da Alemanha, da França. Nem os brasileiros escaparam, como relatam, com a adrenalina ainda alta, Corban Costa e Gilvan Rocha, da EBC.
A partir daí, o diplomata Melantonio abandonou o "diplomatês" e falou em claríssimo português o que estava achando daquilo tudo: "Uma barbárie". Também classificou o governo de Mubarak de "gerontocracia" (numa referência à idade provecta do ditador) e opinou claramente sobre as chances de permanência de Mubarak no poder, ou da vitória de seu filho Gamal nas eleições de setembro: "O regime está morimbundo".
Em sua terceira nota, o governo Dilma Rousseff continuou excessivamente cauteloso, mas subiu o tom, ao usar um verbo pouco usual nos suscetíveis textos diplomáticas, onde uma vírgula pode mudar tudo: "deplorar". O Brasil, enfim, "deplora" o que ocorre no Egito.
Pelo que se vê, ninguém dá mais um tostão furado pela sobrevivência política de Mubarak, há 30 anos no poder. Agora, o problema passa a ser outro: depois dele, quem -ou o quê- virá no país árabe?
PS - É digno de registro: nunca antes neste país a primeira mensagem presidencial ao Congresso não merece uma só linha entre alguns dos principais jornais brasileiros.
CLÁUDIO HUMBERTO
“A população não quer que o Brasil dê abrigo a criminosos”
SENADOR FLEXA RIBEIRO (PSDB-PA) PEDINDO A EXTRADIÇÃO DO BANDIDÃO CESARE BATTISTI
COM OS COFRES ZERADOS, DILMA SEGURA OS GASTOS
A presidente Dilma Rousseff revelou ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que sua determinação durante 2011 será o corte de gastos para fazer um caixa. Nada de investimentos novos. Liberações apenas para as obras prioritárias do PAC. Ela garante que vai mesmo resistir à pressão do presidente da Câmara, Marco Maia, para liberar os recursos das emendas parlamentares, prometidos na campanha dele.
MÃOS ABANANDO
Diante de tanta choradeira, Eduardo Campos não conseguiu liberar um real. Dilma pediu paciência ao aliado e prometeu abrir a mão em 2012.
FEZ-SE LUZ
Furnas se livrou da turma do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ): como esta coluna antecipou, Flávio Decat será o novo presidente.
EFEITO DOMINÓ
A oposição planeja um “Dia de Fúria”, hoje, na Síria, contra o ditador Bashar al-Assad, que condecorou Lula na visita a Brasília, em 2010.
PÕE NA CONTA
Lula inaugura no exterior um dos privilégios de ex: quatro seguranças o acompanham no Fórum Social Mundial, que começa hoje no Senegal.
PARA NÃO LARGAR FUNCEF, PETISTA ESNOBA MANDATO
O presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, criou um jeitinho esperto de disputar mandato de deputado sem perder o comando do bilionário fundo de pensão da Caixa, no caso de derrota: em vez de renunciar, pediu “licença”, supostamente sem amparo legal. Terceiro suplente, voltou à Funcef, mas o PT exige que ele reivindique na Justiça Eleitoral a vaga da deputada Iriny Lopes (PT-ES), nomeada ministra de Políticas para Mulheres. Mas Lacerda reluta: não quer largar o osso da Funcef.
VAGA É DO PT
O PT quer a suplência ocupada por Camilo Cola (PMDB), certo de que a vaga da ministra Iriny Lopes pertence ao partido, não à coligação.
LARGANDO O OSSO
Guilherme Lacerda tem chances de obter liminar no Tribunal Superior Eleitoral que o torne deputado, mas ele teria de renunciar à Funcef.
RECORDAR É MATAR
O governo não esquece: no episódio do caseiro Francenildo, Guilherme Lacerda foi solidário a Jorge Mattoso (Caixa) e contra Antonio Palocci.
MEIRELLES, O ESPORTISTA
Antes da convocação para chefiar a Autoridade Pública Olímpica, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles havia sido convidado pelo governador Agnelo Queiroz a comandar a o comitê “Brasília Copa 2014”, cuja prioridade será a luta para sediar o jogo de abertura.
SAIA JUSTA NO TCU
O ministro Aroldo Cedraz provocou grande constrangimento entre os colegas do Tribunal de Contas da União: mesmo sendo o relator, não apareceu para o julgamento do caso das poderosas empreiteiras que tentam privatizar os portos na mão grande. Pegou muito mal...
DIGITAIS
O programa tucano, na TV, foi fortemente inspirado na campanha do governador mineiro Antonio Anastasia, e tocado pelos jornalistas Eduardo Guedes e Marcio Aith, ex-assessor de José Serra, hoje com Geraldo Alckmin.
POR QUE NÃO TE CALAS?
Nem a ex-mulher Marta Suplicy aguenta o chatíssimo ex-Eduardo Suplicy (PT-SP). Teve de cortar o som do microfone para ele se mancar e parar de falar bobagens, em defesa do bandido Battisti.
ESCOLHA INFELIZ
O PSDB deve indicar para a Comissão de Infraestrutura a senadora Marisa Serrano (MT), aquela que não conseguiu controlar a CPI dos Cartões Corporativos. Não diferencia nota fiscal de fatura.
ANTES QUE SEJA TARDE
João Havelange foi muito atacado ao sugerir a demolição do Maracanã, velho e inviável, como Wembley. O presidente de honra da Fifa sabia o que dizia: agora, técnicos avisam que o teto do estádio é velho, pesado e não suporta a reforma prevista. É hora de botar o Maraca abaixo.
NEGÓCIO FECHADO
Os empresários Cássio Aurélio (Caenge), Sergio Sebba e Antonio Carlos Lassi Lopes (Café Export) venderam à imobiliária Brookfields, por R$ 200 milhões, o shopping FreePark, em área valorizada de Brasília. O shopping será mantido, mas terá torres de escritórios e flats.
OUSADIA
A Polícia Federal fechou seis rádios piratas em Tianguá (CE), suspeitas de envolvimento com o crime organizado. Perdeu tempo: 24 horas depois, todas estavam abertas, com o aval de um sargento da PM.
PENSANDO BEM...
...no Egito, nem sempre ajoelhou, tem que rezar.
PODER SEM PUDOR
POR QUE JÂNIO RENUNCIOU
O senador José Sarney contou ontem a Alexandre Garcia, na GloboNews, que era presidente e recebeu no Palácio Alvorada o então prefeito paulistano Jânio Quadros, acompanhado do então ministro José Aparecido Oliveira (Cultura). Papo vai, papo vem, Jânio cutuou Aparecido e lembrou, divertido, por que havia renunciado sete meses após assumir a Presidência da República:
– Foi por causa da comida aqui no Alvorada, presidente. Muito ruim...
SENADOR FLEXA RIBEIRO (PSDB-PA) PEDINDO A EXTRADIÇÃO DO BANDIDÃO CESARE BATTISTI
A presidente Dilma Rousseff revelou ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que sua determinação durante 2011 será o corte de gastos para fazer um caixa. Nada de investimentos novos. Liberações apenas para as obras prioritárias do PAC. Ela garante que vai mesmo resistir à pressão do presidente da Câmara, Marco Maia, para liberar os recursos das emendas parlamentares, prometidos na campanha dele.
MÃOS ABANANDO
Diante de tanta choradeira, Eduardo Campos não conseguiu liberar um real. Dilma pediu paciência ao aliado e prometeu abrir a mão em 2012.
FEZ-SE LUZ
Furnas se livrou da turma do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ): como esta coluna antecipou, Flávio Decat será o novo presidente.
EFEITO DOMINÓ
A oposição planeja um “Dia de Fúria”, hoje, na Síria, contra o ditador Bashar al-Assad, que condecorou Lula na visita a Brasília, em 2010.
PÕE NA CONTA
PARA NÃO LARGAR FUNCEF, PETISTA ESNOBA MANDATO
O PT quer a suplência ocupada por Camilo Cola (PMDB), certo de que a vaga da ministra Iriny Lopes pertence ao partido, não à coligação.
LARGANDO O OSSO
Guilherme Lacerda tem chances de obter liminar no Tribunal Superior Eleitoral que o torne deputado, mas ele teria de renunciar à Funcef.
RECORDAR É MATAR
O governo não esquece: no episódio do caseiro Francenildo, Guilherme Lacerda foi solidário a Jorge Mattoso (Caixa) e contra Antonio Palocci.
MEIRELLES, O ESPORTISTA
Antes da convocação para chefiar a Autoridade Pública Olímpica, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles havia sido convidado pelo governador Agnelo Queiroz a comandar a o comitê “Brasília Copa 2014”, cuja prioridade será a luta para sediar o jogo de abertura.
SAIA JUSTA NO TCU
O ministro Aroldo Cedraz provocou grande constrangimento entre os colegas do Tribunal de Contas da União: mesmo sendo o relator, não apareceu para o julgamento do caso das poderosas empreiteiras que tentam privatizar os portos na mão grande. Pegou muito mal...
DIGITAIS
O programa tucano, na TV, foi fortemente inspirado na campanha do governador mineiro Antonio Anastasia, e tocado pelos jornalistas Eduardo Guedes e Marcio Aith, ex-assessor de José Serra, hoje com Geraldo Alckmin.
POR QUE NÃO TE CALAS?
Nem a ex-mulher Marta Suplicy aguenta o chatíssimo ex-Eduardo Suplicy (PT-SP). Teve de cortar o som do microfone para ele se mancar e parar de falar bobagens, em defesa do bandido Battisti.
ESCOLHA INFELIZ
O PSDB deve indicar para a Comissão de Infraestrutura a senadora Marisa Serrano (MT), aquela que não conseguiu controlar a CPI dos Cartões Corporativos. Não diferencia nota fiscal de fatura.
ANTES QUE SEJA TARDE
João Havelange foi muito atacado ao sugerir a demolição do Maracanã, velho e inviável, como Wembley. O presidente de honra da Fifa sabia o que dizia: agora, técnicos avisam que o teto do estádio é velho, pesado e não suporta a reforma prevista. É hora de botar o Maraca abaixo.
NEGÓCIO FECHADO
Os empresários Cássio Aurélio (Caenge), Sergio Sebba e Antonio Carlos Lassi Lopes (Café Export) venderam à imobiliária Brookfields, por R$ 200 milhões, o shopping FreePark, em área valorizada de Brasília. O shopping será mantido, mas terá torres de escritórios e flats.
OUSADIA
A Polícia Federal fechou seis rádios piratas em Tianguá (CE), suspeitas de envolvimento com o crime organizado. Perdeu tempo: 24 horas depois, todas estavam abertas, com o aval de um sargento da PM.
PENSANDO BEM...
...no Egito, nem sempre ajoelhou, tem que rezar.
PODER SEM PUDOR
POR QUE JÂNIO RENUNCIOU
O senador José Sarney contou ontem a Alexandre Garcia, na GloboNews, que era presidente e recebeu no Palácio Alvorada o então prefeito paulistano Jânio Quadros, acompanhado do então ministro José Aparecido Oliveira (Cultura). Papo vai, papo vem, Jânio cutuou Aparecido e lembrou, divertido, por que havia renunciado sete meses após assumir a Presidência da República:
– Foi por causa da comida aqui no Alvorada, presidente. Muito ruim...
SEXTA NOS JORNAIS
O Globo: Ditadura expulsa jornalistas para isolar Egito do mundo
Folha de S. Paulo: Ditador se diz 'cheio' do poder, mas aperta o cerco
O Estado de S. Paulo: Governo egípcio pede diálogo, mas intensifica repressão
Jornal do Brasil: Sobrou até para a imprensa
Correio Braziliense: Loterias bancam a gastança do governo
Valor Econômico: Efeito Egito eleva custos e adia captação de recursos
Estado de Minas: Tragédia do anel
quinta-feira, fevereiro 03, 2011
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O triunfo do 'business lunch'
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 03/02/11
Os países latino-americanos têm duas broncas comuns no comércio com a China. A primeira refere-se à moeda chinesa mantida excessivamente desvalorizada. A segunda é com a política de tarifas de importação do governo chinês, que encarece a exportação para lá de produtos industrializados. Entretanto, não há uma ação conjunta nem sequer uma articulação entre os governos para tratar disso com a China.
Este foi um dos temas que apareceram no Fórum Econômico da América Latina e Caribe, promovido na semana passada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, em Paris.
A bronca com a moeda chinesa é universal. Mantendo o yuan artificialmente desvalorizado, o governo chinês dá uma vantagem competitiva expressiva aos seus produtos de exportação, especialmente os industrializados. Estes chegam mais baratos em todos os países, inclusive na América Latina, e não raro tomam mercado de fabricantes latino-americanos. Por exemplo, eletrodomésticos e roupas made in China substituindo made in Brazil na praça chilena.
A outra bronca é mais específica de quem exporta commodities, como é o caso dos mais importantes países da América Latina, especialmente aqui no Sul. A China já é a primeira ou segunda parceira comercial de diversas nações deste lado.
O problema, exemplificando, é o seguinte: quando o Brasil vende soja em grão para a China, a alíquota de importação lá é zero. Quando exporta óleo de soja, industrializado, com maior valor agregado e, pois, preço melhor, a alíquota sobe para 15%. Os chineses fazem isso com o cobre e os peixes que importam de Chile e Peru, com a soja da Argentina e por aí vai.
Trata-se de uma política que estimula a industrialização (e, pois, empregos) lá na China e trata de reservar à América Latina o papel de fornecedor de alimentos e commodities não elaboradas.
O que fazer para evitar essa relação desinteressante? Uma dica foi dada a este colunista por um executivo do governo chinês, quando perguntado sobre o assunto: "Bem", disse ele, "não é apenas a China, mas o mundo todo que precisa de cada vez mais comida, minérios e energia. Vocês têm isso".
A continuação óbvia desse comentário é a seguinte: cabe aos governos latino-americanos articular a diplomacia para obter vantagens dessa posição estratégica.
Eis um objetivo concreto e crucial para as economias locais. Mas até aqui muita gente deste lado, e os leitores sabem quem, perdeu tempo pregando uma união latino-americana ideológica, cujo resultado são uns discursos contra os ricos. Como se a China fosse aliada...
Resistência francesa
A organização foi inteiramente profissional e os participantes chegaram no horário para o Fórum promovido pela OCDE em Paris, na imponente sede do Ministério da Economia.
Autoridades de diversos governos e instituições, economistas, cientistas sociais, jornalistas, representantes do setor privado se encontraram informalmente no hall, já conversando sobre o andamento dos seminários.
Mas o que faz aquele funcionário ali à entrada, de fraque completo, preto, colete preto com rendas, uma longa corrente dourada? De repente, ele pede silêncio, começa a afastar as pessoas da entrada e organizar uma fila de recepção.
Era isso. O homem do fraque anuncia: senhoras e senhores, o presidente da Colômbia...; a ministra da Economia...
Lembrei de uma visita, tempos atrás, a um secretário do Tesouro dos EUA, sempre um dos homens mais poderosos do mundo. Os jornalistas foram admitidos na sala e ele, com uma lata de Coca-Cola na mão, foi levando todos para um mesão com uma frase mais ou menos assim: "Pô, o Brasil é fogo..."
O Fórum em Paris levou o dia todo. No intervalo, fomos todos advertidos de que se tratava de um almoço de trabalho, pois tínhamos não mais que uma hora. Pensamos: um bandejão.
Nada disso. Mesas postas, garçons esperando e... uma taça de champanhe já borbulhando em cada lugar. Entrada fria, prato quente, sempre duas opções e, naturalmente, trocando o champanhe pelo vinho tinto na passagem para a carne. Doce na sobremesa.
E faz tempo que almoço de trabalho é uma saladinha ou uma carninha sem graça e água mineral. Teriam os negócios melhorado com essa temperança? Há dúvidas. O Fórum em Paris trouxe informações ricas, bons debates, muita informação. Quem sabe as pessoas mais satisfeitas, sem excessos, pensam melhor?
Mas a verdade é que o business lunch está triunfando. Ali na mesa do Fórum muitos nem tocaram no champanhe, mal passaram de um gole de vinho. Não tiveram desempenho melhor.
Ah! Não serviram conhaque nem charutos. Isso só em jantares, me disseram. Com moderação. E, sim, há lugares para fumar.
Incorretos eles?
Este foi um dos temas que apareceram no Fórum Econômico da América Latina e Caribe, promovido na semana passada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, em Paris.
A bronca com a moeda chinesa é universal. Mantendo o yuan artificialmente desvalorizado, o governo chinês dá uma vantagem competitiva expressiva aos seus produtos de exportação, especialmente os industrializados. Estes chegam mais baratos em todos os países, inclusive na América Latina, e não raro tomam mercado de fabricantes latino-americanos. Por exemplo, eletrodomésticos e roupas made in China substituindo made in Brazil na praça chilena.
A outra bronca é mais específica de quem exporta commodities, como é o caso dos mais importantes países da América Latina, especialmente aqui no Sul. A China já é a primeira ou segunda parceira comercial de diversas nações deste lado.
O problema, exemplificando, é o seguinte: quando o Brasil vende soja em grão para a China, a alíquota de importação lá é zero. Quando exporta óleo de soja, industrializado, com maior valor agregado e, pois, preço melhor, a alíquota sobe para 15%. Os chineses fazem isso com o cobre e os peixes que importam de Chile e Peru, com a soja da Argentina e por aí vai.
Trata-se de uma política que estimula a industrialização (e, pois, empregos) lá na China e trata de reservar à América Latina o papel de fornecedor de alimentos e commodities não elaboradas.
O que fazer para evitar essa relação desinteressante? Uma dica foi dada a este colunista por um executivo do governo chinês, quando perguntado sobre o assunto: "Bem", disse ele, "não é apenas a China, mas o mundo todo que precisa de cada vez mais comida, minérios e energia. Vocês têm isso".
A continuação óbvia desse comentário é a seguinte: cabe aos governos latino-americanos articular a diplomacia para obter vantagens dessa posição estratégica.
Eis um objetivo concreto e crucial para as economias locais. Mas até aqui muita gente deste lado, e os leitores sabem quem, perdeu tempo pregando uma união latino-americana ideológica, cujo resultado são uns discursos contra os ricos. Como se a China fosse aliada...
Resistência francesa
A organização foi inteiramente profissional e os participantes chegaram no horário para o Fórum promovido pela OCDE em Paris, na imponente sede do Ministério da Economia.
Autoridades de diversos governos e instituições, economistas, cientistas sociais, jornalistas, representantes do setor privado se encontraram informalmente no hall, já conversando sobre o andamento dos seminários.
Mas o que faz aquele funcionário ali à entrada, de fraque completo, preto, colete preto com rendas, uma longa corrente dourada? De repente, ele pede silêncio, começa a afastar as pessoas da entrada e organizar uma fila de recepção.
Era isso. O homem do fraque anuncia: senhoras e senhores, o presidente da Colômbia...; a ministra da Economia...
Lembrei de uma visita, tempos atrás, a um secretário do Tesouro dos EUA, sempre um dos homens mais poderosos do mundo. Os jornalistas foram admitidos na sala e ele, com uma lata de Coca-Cola na mão, foi levando todos para um mesão com uma frase mais ou menos assim: "Pô, o Brasil é fogo..."
O Fórum em Paris levou o dia todo. No intervalo, fomos todos advertidos de que se tratava de um almoço de trabalho, pois tínhamos não mais que uma hora. Pensamos: um bandejão.
Nada disso. Mesas postas, garçons esperando e... uma taça de champanhe já borbulhando em cada lugar. Entrada fria, prato quente, sempre duas opções e, naturalmente, trocando o champanhe pelo vinho tinto na passagem para a carne. Doce na sobremesa.
E faz tempo que almoço de trabalho é uma saladinha ou uma carninha sem graça e água mineral. Teriam os negócios melhorado com essa temperança? Há dúvidas. O Fórum em Paris trouxe informações ricas, bons debates, muita informação. Quem sabe as pessoas mais satisfeitas, sem excessos, pensam melhor?
Mas a verdade é que o business lunch está triunfando. Ali na mesa do Fórum muitos nem tocaram no champanhe, mal passaram de um gole de vinho. Não tiveram desempenho melhor.
Ah! Não serviram conhaque nem charutos. Isso só em jantares, me disseram. Com moderação. E, sim, há lugares para fumar.
Incorretos eles?
JANIO DE FREITAS
Na contramão
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/02/11
O novo presidente da Câmara estreia com a informação de que iniciará a construção de dois anexos
CEDO AINDA para saber se a nova formação da Câmara dos Deputados melhora em alguma coisa a anterior, nada menos do que lamentável, já se tem um sinal de continuidade do seu desencontro com a opinião pública e com outras realidades.
Nesta altura em que o país retoma o crescimento, o emprego, melhorias sociais e, para mantê-los, precisa de maiores rigores, o novo presidente da Câmara estreia sua retórica com a comunicação de que logo iniciará a construção de mais dois anexos.
Foi a bandeira lançada por seu concorrente à presidência, em seguida adotada pelo afinal vitorioso. São anexos para abrigar gabinetes que substituam, com o conforto próprio da Casa, a alegada insuficiência da última leva construída.
Se adotada a providência inversa, de redução do número de gabinetes existentes, seria muito improvável qualquer efeito perceptível no funcionamento da Câmara.
Com a chegada a Brasília nas terças-feiras, algumas horas em plenário nas quartas, as refeições, o longo tempo livre, e o avião de volta já na quinta, o uso dos gabinetes pela grande maioria dos deputados deve ser o menor dos seus tempos na capital. Ou muito perto disso. As mesas sociais ganham com facilidade.
O novo presidente, o petista gaúcho Marco Maia, sabe que a opinião pública anseia por uma Câmara com menos motivos de desprezo e mais respeito pelo interesse público.
Tal percepção se comprova no acréscimo feito por Marco Maia, com ênfase, ao falar da obra de custo brasiliense: "A verba já está no Orçamento, então não haverá gasto para o Tesouro". Além de falso, o argumento, em instante assim inicial, pode valer também como prenúncio. Esteja ou não no Orçamento, a verba que saia do Tesouro é gasto do dinheiro dos contribuintes recolhido, à revelia, aos cofres públicos.
Sem mais obras, a Câmara já custa ao país muito mais do que lhe oferece.
O TALENTO
O Reynaldo Jardim morto ontem foi um dos jornalistas mais injustiçados do Brasil. Sua criatividade sem limite e incessante deixou legados que não lhe foram reconhecidos na medida própria, quando o foram em alguma medida.
Caso do Suplemento Dominical do "Jornal do Brasil", o célebre e celebrado SDJB, vanguarda em todos os sentidos, criado e sempre editado por Reynaldo (em associação com Ferreira Gullar), mas só nos últimos tempos retirado, por uma ou outra pesquisa, de falsos criadores.
Muitas das criações de Reynaldo Jardim nem são citadas, como a revolução que fez no rádio de estúdio, quando dirigiu a Rádio JB, e hoje tem traços marcantes em toda a radiofonia brasileira.
Poeta original, Reynaldo Jardim fez há pouco, como se pressentindo a urgência, uma espécie de vasta antologia de sua obra poética, sob o título característico de "Sangradas Escrituras". Escultor, cronista, gráfico, Reynaldo Jardim foi amigo generoso e afetuoso. Talento mais do que iluminado.
VINICIUS TORRES FREIRE
Mais baixeza, por favor: CPI!
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/02/11
Disputa de PT e PMDB por boquinhas oficiais suscita vazamento de dossiês sobre bandalha em estatais
A OPOSIÇÃO quer arrumar uma CPI a fim de azucrinar logo de cara o governo de Dilma Rousseff. Trata-se de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar os rolos de Furnas. Essa estatal elétrica é uma sesmaria que Lula havia concedido ao PMDB do Rio de Janeiro.
Nos anos Lula, os peemedebistas gastaram muita energia tentando, por exemplo, botar a mão na direção do fundo de pensão da estatal, pelo jeito com o objetivo de dar um choque de gestão na dinheirama dos investimentos do fundo.
O rolo do momento é a amizade desse deputado Eduardo Cunha (RJ), cabeça dos peemedebês do Rio, amigo de uma empresa que faz negócios de alta voltagem com a estatal. Cunha e cia. não querem largar a rapadura da estatal, beliscada pelos petistas do Rio. Como Dilma, parece, quer dar uma moralizada mínima nessa e noutras estatais, os petistas do Rio ficaram animados com a hipótese de a partida do PMDB abrir vagas de boquinhas.
O perrengue é justamente esse. O vice-presidente da República e ministro extraordinário para rolos do PMDB, Michel Temer (PMDB), dizia ontem que o zunzum sobre CPI é apenas fruto da disputa entre PT e PMDB pela boca rica. Segundo Temer, a situação vai se acalmar assim que houver uma "readequação e realocação de cargos no governo".
Como se escrevia aqui em dezembro: "O PMDB está quieto demais depois de ter levado uma carraspana de Dilma [broncas e perdas de ministérios]. Quando virá o troco?". Quando estouraria o escândalo? Quando houvesse "...gente interessada em colocar documentos no ventilador. Tal interesse surge quando há bastante gente contrariada. Um escândalo puxa outro. O grupo parlamentar pilhado numa bandalha logo pode revelar a lama da bancada vizinha."
O PT do Rio colocou papeis sobre Furnas no ventilador. Cunha, o elétrico, respondeu com ameaça de "vendetta", no Twitter. A desorientada e desmiolada oposição ameaça tirar uma casquinha da turumbamba. Pelo menos isso. Uns tipos parlamentares governistas, fazendo pose de estadistas do cafezinho e de entrevistas de corredor do Congresso, dizem que isso é "politização baixa" do problema, uma tentativa espírito de porco de fazer escândalo e de não apurar nada. É tudo verdade. Portanto, nada mais adequado à baixeza política do país.
Que venha a CPI. Não haverá provas conclusivas, ninguém será condenado, depoimentos e interrogatórios serão aquela vulgaridade oportunista e analfabeta que conhecemos, mas algum resultado haverá. Mas o circo das CPIs é uma instituição informal do país, uma versão carnavalizada da Justiça, pois a Justiça formal praticamente inexiste para os estamentos de cima: é um circo burocrático criado justamente para não chegar a lugar algum.
Na CPI, pois, haverá "wikileaks" de documentos e fichas sujas que jamais conheceríamos de outro modo, vazamentos em geral instrutivos. Algumas figuras das sombras ou sombreadas serão algo desmoralizadas e linchadas moralmente em público, dir-se-á que fulano ou beltrano é "ligado" a isso ou aquilo.
Mas, no fim das contas, alguns dos bandalhos sofrerão uma espécie de ostracismo político-midiático-moral provisório, que é a "pena" possível que conseguimos infligir aos desclassificados no poder.
ANCELMO GÓIS
NO BOLSO
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 03/02/11
Lula não tem o que reclamar de seu novo patrão.
NOIVA DISPUTADA
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, desembarca hoje em São Paulo para convidar o prefeito Gilberto Kassab, do DEM, a entrar no PSB.
TEU CABELO NÃO NEGA
ALIÁS...
Fãs de Eduardo Paes garantem que o prefeito também pintou os cabelos de castanhos.
DIÁLOGO DE MAIA
Esse gaúcho Marco Maia, eleito presidente da Câmara, não consegue fazer um raciocínio sem usar a palavra “dialogar”.
Vale para tudo. A pauta do Congresso, por exemplo, tem que “dialogar” com a sociedade, e por aí vai.
CENA CARIOCA
O cidadão, indignado, respondeu que só falaria com... Sabrina Sato, a boazuda do humorístico, que não estava.
O BARQUINHO FAZ 50
Mestre Roberto Menescal parou outro dia para fazer as contas e constatou que, só agora, em 2011, sua música O barquinho, um dos símbolos da bossa nova, parceria com Ronaldo Bôscoli, faz 50 anos. Parabéns!
“LA CARLA DE SAMPA”
É GRAVE A CRISE
Veja como são as coisas. Logo agora que a Bulgária tem uma “filha” na Presidência do Brasil (como se sabe, o pai de Dilma era búlgaro), a embaixada do país em Brasília está em crise.
Vários funcionários brasileiros foram demitidos em 2010 e, que feio, estão tendo de ir à Justiça para receber.
STJ X STF
Sérgio Cabral só entrou na campanha de Luiz Fux ao STF depois que o também ministro César Asfor, do STJ, declinou da candidatura.
REI NO SAMBA
Roberto Carlos, nosso eterno Rei, vai hoje à quadra da Beija-Flor acompanhar o ensaio da escola, da qual será enredo.
ALIÁS...
Brincadeirinha de mau gosto de Wagner Montes para a colega Myriam Rios na posse dos deputados estaduais do Rio, segundo duas testemunhas:
– Myriam, você, que gosta de perneta, passe no meu gabinete depois.
Myriam, como se sabe, foi casada com Roberto Carlos, que, a exemplo de Montes, usa perna mecânica.
MÍRIAM LEITÃO
Forma e conteúdo
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 03/02/11
A presidente Dilma acertou em ir ao Congresso e ler sua mensagem. Nunca fez sentido a burocrática entrega do texto pelo chefe da Casa Civil, que houve em governos anteriores. O país precisava modernizar esse ritual. Mas o evento tem que ser mais simples, direto, menos propagandístico. Não é a hora certa de os tribunais falarem. E muito menos de o senador José Sarney dar-se a homenagem da última palavra.
Nossa democracia é jovem, por isso é bom pensarmos sobre o evento de ontem. Democracia tem rituais e o Brasil está construindo os seus. Nos Estados Unidos, onde é tradicional esse evento, ocorre assim: o presidente vai ao Congresso, presta contas e apresenta suas metas. Depois, o contraponto é feito em discurso de um integrante da minoria. E só. Ninguém mais fala: nem representantes de outros poderes, nem mesmo os presidentes da Câmara e do Senado. Não é hora de linguagem empolada, nem de salamaleques. A oposição aplaude ou não aplaude e assim demonstra o que aceita e do que discorda. O Brasil não precisa copiar ninguém, mas pode pensar um pouco sobre a oportunidade desse momento.
Na terça-feira, foi início do ano judiciário. A presidente lá esteve e, pela boa tradição, nada falou, apenas ouviu. É o momento do Poder Judiciário dizer o que tem que dizer e ponto. Os ministros do STF e TSE não tinham que falar ontem de novo. Na terça-feira, foi o dia das eleições nas duas casas legislativas e os eleitos falaram. Ontem, era o dia de a chefe do Poder Executivo apresentar a perspectiva do seu trabalho, prestar contas e pedir apoio a projetos que terão que ser aprovados pelo Congresso. Dilma fez isso. Errou no tom laudatório.
O discurso foi, em certos pontos, uma repetição do que ela disse quando foi eleita e quando foi empossada. A esta altura, todo mundo sabe que o PAC 2 não representa um investimento de R$955 bilhões. O número foi fabricado para o palanque. No Orçamento de 2011, está previsto investimento de R$64 bilhões do governo federal. O resto é o truque de se somar investimento de estatais, estados, de empresas privadas e dívidas que as famílias assumirão para comprar seus imóveis. Era hora de falar sério sobre alguns terríveis desafios e olhar com sinceridade para os problemas que temos que superar. Obama admitiu que seu país está em nono lugar em estudantes formados em universidade, que está perdendo a corrida de tecnologia de energia solar para a China, que a Coreia do Sul bate o país em vários itens. Enfim, fez autocrítica que tornou os autoelogios mais críveis.
A presidente admitiu um erro num país que pintou como quase perfeito: que os aeroportos estão ruins. No mercado de trabalho ela corretamente comemorou o fato de que pela primeira vez os trabalhadores formais são maioria. Há muito tempo isso não ocorria. Mas ficaria diferente da propaganda eleitoral se ela admitisse o alto desemprego de jovens. Em Salvador, a taxa chega a 22%. Desemprego de jovens hoje é um problema mundial e cada país está debruçado sobre esse desafio.
O discurso teve alguns excelentes pontos. A presidente Dilma avisou que o governo implantará o sistema de alerta contra desastres naturais e que vai apoiar os estados nesse trabalho de identificação de áreas de risco. "Nenhum país é imune aos desastres naturais, mas não iremos esperar o próximo ano, as próximas chuvas pra chorar as próximas vítimas", disse a presidente. Ela propôs um pacto social para acabar com a miséria. Não bastará a transferência de renda, será preciso educação fundamental. Ao falar da educação, ela creditou ao país "nas últimas décadas" a universalização do ensino fundamental. Perdeu uma oportunidade de fazer um gesto à oposição: foi a campanha "Toda criança na escola", no governo Fernando Henrique, que atingiu esse objetivo. Fez bem em reafirmar o compromisso anti-inflacionário: "Não permitiremos em nenhuma hipótese que a inflação venha a corroer o tecido econômico." Seria esperar demais que ela fizesse justiça ao grupo político que realmente derrotou a inflação. Uma das bases da inflação baixa é o controle rigoroso dos gastos públicos, e naquele mesmo momento seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, estava defendendo a indefensável maquiagem nas contas públicas feita no ano passado.
Ela foi aplaudida fortemente quando anunciou que tem na agenda as reformas tributária e política. É bom que ela saiba que aquelas palmas não significam aprovação. Nessas duas reformas cada um tem um projeto na cabeça, e uma reforma tributária passa por uma trabalhosa negociação com os estados.
Temos razão para sentirmos orgulho da democracia e algumas razões de constrangimento. Os ministro Cezar Peluso e Ricardo Lewandowski falaram da razão de orgulho: uma robusta estrutura constitucional que permite ao país resolver os conflitos. A tragédia do Egito, que ontem se aprofundou com briga de rua incitada pelo governo, confirma os dois juízes. Só a democracia tem os canais de escape que permitem a solução negociada dos impasses.
Ao fazer o longo e tortuoso discurso, o senador José Sarney lembrou das várias vezes que o Congresso foi fechado na História do país. Só se esqueceu de dizer que ele estava ao lado da ditadura que fechou a Casa em 1968 e 1977. O pior momento da cerimônia de ontem foi este: quando o presidente do Senado, em seu extravagante quarto mandato, deu a si mesmo o direito da palavra final.
ILIMAR FRANCO
Funasa
Ilimar Franco
O Globo - 03/02/2011
O novo presidente da Funasa será Ruy Gomide, coordenador regional do órgão em Goiás. Ele é ligado ao deputado Pedro Chaves (PMDB-GO) e da confiança do ministro Alexandre Padilha (Saúde). A substituição na Funasa era motivo de tensão entre as duas siglas, desde que Padilha desalojou o PMDB da Secretaria de Atenção à Saúde para dar o lugar para o PT. Atualmente a fundação já é dirigida por um nome indicado pelo PMDB.
Reforma política: será que agora vai?
Os líderes dos partidos no Congresso são céticos quanto à aprovação de uma reforma política. Eles a consideram necessária, mas avaliam que ela só sai do papel se o Executivo entrar em campo apostando numa proposta. Ontem, tiveram um alento quando a presidente Dilma Rousseff afirmou que "trabalharemos em conjunto com esta Casa para a retomada da agenda da reforma política". Os mais incrédulos, no entanto, não se entusiasmaram, dizendo que o problema é construir maioria em torno de um projeto. Hoje apenas uma proposta, a do financiamento público das campanhas, teria condições de ser aprovada.
A oposição vai ter de levantar da cadeira e ir às ruas conversar com a sociedade" - Rodrigo Maia, deputado (RJ) e presidente do DEM, sobre o enfraquecimento da oposição no Congresso
NO GOGÓ. O governo brasileiro está cansado de esperar pela PDVSA na construção da refinaria Abreu e Lima (PE). A Petrobras está bancando sozinha a obra, com conclusão prevista para o final de 2012. "A PDVSA está com um pé fora da refinaria", contou o governador Eduardo Campos (PE). A empresa venezuelana quer investir na refinaria com dinheiro do BNDES, mas não ofereceu ainda as garantias para obter o empréstimo.
Concentração
O governo quer negociar um salário mínimo nacional para os trabalhadores da construção civil e pesada. O ministro Carlos Lupi (Trabalho) propôs a assinatura de um contrato nacional para as entidades patronais que representam o setor.
Haiti
O ministro Antonio Palocci (Casa Civil) ligou para o governador Tião Viana (AC) pedindo que ele tome as providências sanitárias necessárias em relação aos haitianos que emigraram para aquele estado. A preocupação é com o cólera.
Conselho
Na reunião da bancada do PT na Câmara ontem, o líder Paulo Teixeira (SP) fez um apelo para que nenhum petista assine o pedido de qualquer CPI. E fez uma recomendação, sobretudo aos novatos: "Não assinem nada nos corredores!"
Os dois PTBs
O PTB vai manter a presidência da Conab, mas as bancadas da Câmara e do Senado não se entendem. O líder do partido na Câmara, Jovair Arantes (GO), vai indicar para o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) o nome de Evangevaldo Moreira, ex-presidente da Ceasa de Goiás. Já o líder no Senado, Gim Argello (DF), quer a manutenção de Alexandre de Aguiar, originalmente apadrinhado pelo ex-deputado Armando Abílio (PB).
Diálogo
Frustração e exaltação na reunião de anteontem da ala do DEM que perdeu a eleição para a liderança da Câmara. No final, decidiram abrir diálogo com a ala do partido que elegeu o deputado ACM Neto para liderar o partido na Câmara.
PADRINHO. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, foi o responsável pela nomeação de Sergio de Castro para a Secretaria de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração Nacional.
TRONO. O cerimonial do Senado destinou à senadora Lídice da Mata (PSB-BA) a cadeira no plenário do Senado que era ocupada pelo seu mais ferrenho adversário, o ex-senador Antônio Carlos Magalhães.
NORDESTE. A presidente Dilma Rousseff vai à reunião de governadores do Nordeste, no dia 21, em Aracaju.
CLÓVIS ROSSI
O espírito de 1776
Clóvis Rossi
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/02/11
PARIS - Os graves incidentes de ontem no Cairo não mudam o essencial: a revolução em curso no mundo árabe ou, ao menos, na Tunísia e no Egito é profundamente ocidental na alma.
Ou, como prefere Nicholas Kristof ("New York Times"), escrevendo da praça Tahrir, hoje mundialmente famosa, o movimento egípcio fala "a linguagem de 1776", o ano da independência norte-americana, seminal na história da democracia (o que se fez depois com ela é outra história).
Não se queimaram bandeiras de Israel e dos Estados Unidos, o que tira o conflito Israel/palestinos do foco de uma revolta árabe, talvez pela primeira vez na história. Mesmo quando se sabe que as cápsulas de gás lacrimogêneo disparadas pela polícia contra os manifestante traziam a inscrição "made in USA", o movimento não gritou "Yankees, go home".
Ao contrário, pedem que os ianques os apoiem e abandonem o ditador Mubarak de uma boa vez. Fazem questão de usar slogans em inglês, para que as TVs os filmem e o público ocidental os entenda.
De alguma maneira, e guardadas as imensas diferenças geográficas, históricas, culturais etc., é a reprodução do levante húngaro contra o comunismo de 1956 e do movimento dos alemães orientais que acabou levando à queda do Muro de Berlim, primeiro, e a do comunismo não muito depois.
Demonstra que a ideia de democracia goza de extraordinária saúde, a ponto de David Brooks, no "International Herald Tribune" de ontem, ter contabilizado mais de cem levantes democráticos nas duas últimas décadas, a queda de mais de 85 regimes autoritários e a instalação de 62 novas democracias, ainda que definidas de maneira frouxa.
O Ocidente não tem o direito de desperdiçar a chance de dar conteúdo a uma ideia que é tão sua, por mais deturpada que tenha sido.
JOSÉ SIMÃO
Ueba! A múmia Sarneykamon!
José Simão
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/02/11
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
E olha a placa atrás do Fórum de Pindamonhangaba: "DOUTORA MAZINHA, advogada". Rarará! Essa é predestinada mesmo!
E o Éramos revela: uma das pragas do Egito sobrevive até hoje no Brasil. SARNEYKAMON. Avô do Tutankamon! Rarará! Isso! A Múmia Brasileira: Sarneykamon. E ele vai começar os discursos assim: "Egípcios e egípcias"! Rarará!
E vamos lançar a campanha: "Vamos Enfaixar o Sarney". E mandar pro Egito! Mas como gritou o outro: "Enterra bem fundo!". Rarará!
E o pessoal fica revoltado com o Sarney eternamente no Senado. Mas ele não é imortal? Literalmente! O Moribundo de Fogo! O Finado Vivo! Mas sabe o que ele parece mesmo? Uma coruja empalhada. E a declaração dele: "É a minha última vez". Mentira!
Diz que a família Sarney tem embrião congelado. Pro senado de 2030! E o Brasil quer saber: quando o Sarney morrer, se ele morrer, na hipótese remota de ele morrer, o Maranhão fica pros filhos dele ou volta pro povo? Rarará!
E o Egito? E o Agito? Manchete do Sensacionalista: "Brasil manda Capitão Nascimento pro Egito: Mubarak, pede pra sair". Rarará! E o Cabral vai instalar uma UPP no Egito! E esse Mubarak vive no universo paralelo?
E o encontro da Dilma com a Cristina Quiche! Primeiro, fizeram um acordo nuclear. Pra ver quem explode primeiro. Rarará!
Depois Dilma e Cristina Quiche conversaram sobre o Mercosul, menopausa e a última receita de pão de ló da Ana Maria Braga!
E um amigo meu tá preocupado: um mês de governo Dilma e nenhuma TPM! Tenho medo que acumule. TPM acumulada. Rarará!
E eu sei como vai ser a gestão Dilma: quatro anos de piadas machistas. Rarará!
O Brasileiro é cordial! Mais uma do Gervásio. Cartaz na empresa em São Bernardo: "Se eu descobrir quem é o fofoquito abelhudo que fica falando onde eu vou com a minha família nos finais de semana, eu vou fazer esse Nelson Rubens do Paraguai comer uma banana de dinamite acesa. Conto com todos. Assinado: Gervásio".
Vamos mandar o Gervásio pro Egito: "Se esse cabrunco do Mubarak não se picar, eu vou fazer ele engolir aquela tintura negro corvo e sentar na ponta da pirâmide e escorregar até a base. Conto com todos!". A situação tá ficando egípcia. Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
DEMÉTRIO MAGNOLI
Iguais a nós
Demétrio Magnoli
O Estado de S.Paulo - 03/02/11
Existe um mundo árabe? "Revolução, revolução, como um vulcão, contra Mubarak, o covarde", cantavam os manifestantes de Alexandria, há uma semana. Da Tunísia ao Egito, uma tempestade de areia deu a resposta à indagação. Em 17 de dezembro, na cidade tunisiana de Sidi Bouzid, o vendedor de rua Mohamed Bouazizi imolou-se em fogo para protestar contra o confisco de seu carrinho de vegetais. O martírio de Bouazizi deflagrou um levante popular que, quase um mês depois, arrancou os dentes da polícia e do exército, provocando a fuga do ditador Zine Ben Ali. Dias mais tarde, jovens dançavam diante dos tanques nas cidades egípcias, enquanto Hillary Clinton lamentava a garantia que dera na véspera, ao proclamar a "estabilidade" do regime de Hosni Mubarak.
Poucas coisas são mais poderosas que a experiência histórica compartilhada. Em 1989, a abertura da fronteira entre Hungria e Áustria, em maio, prenunciou a queda do Muro de Berlim, em novembro, e a extinção do "socialismo real". A derrubada de Ben Ali exerce, entre os povos árabes, uma influência similar à da remoção das barreiras húngaras de arame farpado na esfera de poder soviético. O mundo árabe ergue-se sobre uma língua e uma literatura comuns, uma tradição que atravessa fronteiras. Bouazizi não é um nome, mas uma experiência, para os cidadãos de Túnis, do Cairo, de Argel, de Aman, de Sanaa, de Cartum e até de Riad.
Abusa-se do conceito de cultura. Mundo árabe, na visão de Bernard Lewis, é uma coleção de valores arraigados, que derivam do Islã e conflitam com a tradição ocidental. O "príncipe dos orientalistas" enxergou um defeito irremediável na cultura árabe-muçulmana: uma resistência visceral à mudança, que condenaria os árabes à exclusão da modernidade. "A doutrina ocidental do direito de resistir a um mau governo é estranha ao pensamento islâmico", assegurou Lewis no estilo categórico que lhe granjeou uma reputação imerecida. Hoje, na larga faixa que se estende da África do Norte ao Oriente Médio, árabes muçulmanos exigem liberdade, democracia, direitos, respeito à coisa pública. "Eles" são, no fim das contas, iguais a "nós".
Lewis é um intelectual engajado, o inventor da noção de "choque de civilizações" e o inspirador da ocupação americana do Iraque. Do seu teorema principal ele extraiu o corolário de que os árabes só poderiam ser resgatados para a modernidade pela negação de sua própria cultura. O significado político disso é que o Ocidente teria a missão de libertar os árabes das amarras do "pensamento islâmico", conduzindo-os - pela força, se preciso - até a colina das Luzes. Sob o influxo de tais ideias, os EUA continuaram a sustentar as ditaduras pró-ocidentais no mundo árabe, que se apresentam como paliçadas defensivas contra o avanço do fundamentalismo islâmico. A revolução em curso é uma evidência de que Lewis está errado: nas ruas do Cairo reivindica-se a liberdade, não o retorno do Profeta.
A revolução árabe desenvolve-se nas brechas abertas por um cenário mundial em mutação. Ben Ali caiu não só porque os "de baixo" se insurgiram, mas também porque os "de cima" se cindiram quando ficou patente que a França se esquivava de salvar seu regime. Há menos de dois anos, na Universidade do Cairo, Barack Obama delineou uma nova política dos EUA para o mundo árabe-muçulmano. O presidente rejeitou os dogmas do orientalismo, apontou as contribuições da civilização islâmica para a Renascença e as Luzes, tocou cuidadosamente nas teclas da liberdade e da democracia. O discurso de Obama pode ter sido esquecido no Ocidente, mas continua a reverberar no Egito, tanto entre os "de cima" quanto entre os "de baixo".
O Egito é o núcleo do mundo árabe. A primeira, frustrada, revolução árabe começou lá, mais de meio século atrás, com a ascensão de Gamal Abdel Nasser. No Cairo, de uma costela da Irmandade Muçulmana surgiram os arautos originais do jihadismo de Osama bin Laden. A estratégia geral dos EUA para o Grande Oriente Médio foi definida pela decisão de Anuar Sadat de romper com Moscou para firmar uma aliança com Washington, após a segunda derrota militar ante Israel. Mubarak não é um ditador secundário, como Ben Ali, mas um dos pilares da ordem geopolítica regional. Há razões para Hillary Clinton insistir ainda numa transição controlada, sob a égide de um "diálogo nacional". Mas curvando-se a tais razões Obama renegará seu discurso do Cairo e posicionará os EUA no lado errado da história.
Nenhuma corrente islâmica está à frente da revolução árabe. Os levantes emanam da sociedade civil, especialmente das organizações de advogados e de estudantes e das centrais sindicais. A oportunidade para os fundamentalistas surgiria de uma violência repressiva prolongada. Na Tunísia, a dissolução acelerada da unidade do exército propiciou a queda de Ben Ali. Algo parecido está ocorrendo no Egito, desde o dia em que os chefes militares rejeitaram a ordem de matar seus compatriotas. A revolução árabe não obedece à cartilha de Osama bin Laden nem reproduz a trajetória da revolução iraniana de 1979.
Mohamed ElBaradei, um dos líderes da oposição egípcia, acertou duas vezes: ao clamar pela saída incondicional do ditador e ao firmar um pacto democrático com a Irmandade Muçulmana, uma corrente perseguida que renunciou ao terror há quatro décadas e condena sistematicamente a violência jihadista. "Obama precisa entender que se continuar com essa política perderá credibilidade diante de toda a população do Oriente Médio", alertou ElBaradei. Ele poderia reforçar seu argumento convidando o presidente americano a olhar atentamente para as imagens dos manifestantes que tomaram as cidades árabes. Aquelas pessoas não são diferentes dos poloneses, alemães orientais, checos e húngaros de 1989, nem dos iranianos de 2010. São iguais a nós - apenas falam e rezam em outra língua.
SOCIÓLOGO E DOUTOR EM GEOGRAFIA HUMANA PELA USP.
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