terça-feira, maio 07, 2019

O que motiva a blitz contra Santos Cruz - CARLOS ANDREAZZA


O que motiva a blitz contra Santos Cruz
Publicado em 5 de maio de 2019 por Carlos Andreazza.

Fátima Meira/Estadão Conteúdo


A entrevista do general Santos Cruz a Vera Magalhães é de 5 de abril – e ele absolutamente não diz o que lhe é ora atribuído. Para que fique claro: não fala em controlar a internet; não fala em regular mídias. É importante ressaltar isto – a deturpação e o requentamento de conteúdos – porque nada é mais expressivo do bolsonarismo do que o fato de seus agentes estarem explorando o que o ministro NÃO DISSE em uma entrevista dada HÁ UM MÊS.

Isto, a rigor, é a essência do bolsonarismo. A campanha contra Santos Cruz, aliás, é a exata ilustração do que seja o bolsonarismo, conforme escrevi em meu último artigo em O Globo:

Forja de crises e de inimigos, força iliberal, à margem de qualquer política pública, que atua desde dentro da máquina estatal para localizar e explorar qualquer projeção de instabilidade onde carcomer o equilíbrio institucional, o bolsonarismo, também uma linguagem, está no comando, espaço ocupado a partir da campanha, e é o agente condicionador do governo, daí por que jamais se deveria esperar — sob tal conformação — que Bolsonaro pudesse encarnar a urgente pacificação política nacional.

Este, tragando Santos Cruz, não se trata de movimento na cruzada contra um general em si, mas contra o grupo militar do qual ele é parte. É operação – blitz – claramente orquestrada, de natureza artificial, forjada e coordenada, regida pelo endosso do presidente da República e tocada por integrantes do governo, alguns com lugar no Planalto, contra uma entre as forças que o bolsonarismo considera não submissas a seu esquema de poder; e uma, no caso, que controla muitos recursos, alvo preferencial.

Porque há também o componente aditivo particular que justifica acionar as milícias virtuais: esse ataque, não nos enganemos, é desdobramento ostensivo da investida bolsonarista pelo domínio da SECOM e de seus muitos milhões, uma área estratégica para o projeto da autointitulada ala anti-establishment do governo.


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