segunda-feira, março 25, 2019

Lava Jato derruba reforma da Previdência pela segunda vez - REINALDO AZEVEDO


SEMPRE ELES 1: Lava Jato derruba reforma da Previdência pela segunda vez

UOL - 25/03
Uma coisa é preciso reconhecer: a turma da Lava Jato tem método — ou, se quiserem, o lava-jatismo, já que agora esse "ente" está presente no Ministério Público, no Judiciário, no Executivo e no Legislativo; no caso, nas pessoas daqueles porra-locas que pretendem fazer a "CPI" que apelidaram de "Lava-Toga". Por que afirmo isso? Porque a turma conseguiu mandar pelos ares a reforma da Previdência pela segunda vez. A primeira se deu com a tentativa de depor o então presidente Michel Temer, e a segunda está em curso agora. E não deixa, de novo, de usar Temer como alvo. Mas como se percebe, a questão é agora mais ampla. E, por óbvio, incluam-se no espírito lava-jatistas as hostes organizadas na Internet, muitas delas servindo ao bolsoanrismo, que saem por aí a vomitar bobagens em nome de uma tal "nova política", sem que consigam dizer o que isso significa. O fato é que Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, havia combinado com Jair Bolsonaro, nada menos do que presidente da República, uma estratégica de aprovação do texto — uma matéria sempre difícil de engolir. E isso passava por negociar com os partidos políticos, já que, de verdade, a base de Bolsonaro não é formada nem pelo PSL, que não apoia unanimemente o texto, como admitiu até a líder do governo no Congresso.


Quantos votos pró-reforma Olavo tem na Câmara e no Senado?

O primeiro a jogar uma casca de banana no caminho de Rodrigo Maia foi o próprio Bolsonaro. Enquanto o presidente da Câmara negociava com os parlamentares, o presidente da República os chamava de fisiológicos e dizia enfrentar pressão da "velha política", numa mal disfarçada alusão ao próprio Maia, o que é indecoroso para dizer pouco. E muitos idiotas caem na conversa. A Família Bolsonaro, não sei se notam, veem a Presidência como uma espécie de feudo familiar. Em certa medida, o presidente só aceita dividir o poder com a família: ou são aliados ideológicos com a sua mesma obtusidade ou são militares — nesse caso, é a família do quartel, onde ele era um rebento meio enjeitado. Com quase três meses de governo, o chefe do Executivo ainda não conseguiu ter uma conversa adulta com os partidos políticos. Parece que ele se sente roubado ou chantageado. Resumo da ópera: os parlamentares são tratados como um bando de interesseiros, como lixo. Ora, decente, como sabemos, é entregar ministérios e áreas do governo a seguidores de Olavo de Carvalho, não é mesmo? A propósito: quantos votos Olavo tem na Câmara e no Senado? Até agora, ele só atrapalhou o governo, como resta evidente. E daí? O bolsanirsmo-lava-jatismo-olvismo espalhava seu fel nas redes sociais enquanto as pessoas responsáveis tentavam ver se a negociação andava.


Moro detonou pessoalmente a maior bomba contra a reforma

Eis, então, que Sérgio Moro, o Pai de Todos, que Bolsonaro fez o desfavor a si mesmo de meter no governo, vai à Câmara e resolve expelir regras ao presidente da Casa, justamente Rodrigo Maia, aquele que vinha mantendo já uma relação algo tensa com Bolsonaro porque a ele, Rodrigo, coube os esforços de fazer avançar a reforma da Previdência, mas sem o concurso do Planalto, que nem governa nem deixa governar. Ainda há pouco, no Chile, Bolsonaro afirmou que a reforma é um problema do Congresso. Isso corresponde a tentar lavar as mãos. Não é, não! O Congresso vota, mas é um problema principalmente do Executivo. Parece visível que o presidente escolhe um "virem-se vocês aí que não quero perder ainda mais popularidade". Moro não é burro nem nada. Sabia que a cobrança pública que fez a Maia para que seu pacote dito anticorrupção e anticrime tramitasse ao mesmo tempo em que tramita a reforma da Previdência era um chute na canela daquele que se tornara o principal esteio da proposta formulada por Paulo Guedes. E houve a reação. O presidente não advertiu seu ministro. Carlos, o filho predileto, saiu nas redes sociais a demonizar Maia. Moro não só emitiu uma nota malcriada, sugerindo que o deputado quer procrastinar o combate à corrupção, como gravou uma versão em áudio da dita-cuja, que circula freneticamente por aí. Um lava-jatista de primeira grandeza, que jamais disse uma palavra em favor da reforma da Previdência — fazendo um jogo político pessoal que ignora o próprio Bolsonaro, já de olho em 2022 —, resolveu detonar uma bomba na relação entre os presidentes da Câmara e da República. E Bolsonaro fez o quê? Só piorou o que já era ruim.


A Lava Jato do RJ se encarregou de queimar a terra arrasada

E aí veio o arremate, protagonizado pela Lava Jato do Rio, com a decretação doidivanas e estúpida da prisão preventiva do ex-presidente Michel Temer. Os heróis das trevas atacavam de novo. Ainda que a peça mal costurada apresentada pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal fizesse sentido, e ainda que tudo tivesse se dado como lá vai, a prisão era descabida. Ocorre que vai além do território do ridículo, o que se evidencia também no despacho do juiz Marcelo Bretas. O uso que ele faz em seu texto do Artigo 312 do Código de Processo Penal, que trata desse tipo de prisão cautelar é um assombro. Muitos juízes federais, ainda que prefiram o silêncio público do corporativismo, se dizem envergonhados. Gente que acha que a Lava Jato tem a suas virtudes avalia que o episódio marca a avacalhação da operação. Muito bem! E as hostes bolsonaristas fizeram o quê? Saíram a comemorar a prisão, como se ela não marcasse mais um tento justamente na demonização da política e dos políticos. Um dos presos, Moreira Franco, é padrasto da mulher de Maia. Os dois estão longe de rezar o mesmo credo. Mas, ainda assim, o presidente da Câmara entrou no radar das milícias virtuais do bolsonarismo. E o próprio presidente disse compreender que o deputado pudesse estar agastado por razões familiares, o que é de uma grosseria impressionante.


Até o líder do PSL na Câmara reconhece que assim não dá

E então se chega ao ponto atual. Até Delegado Waldir (GO), líder do PSL na Câmara, diz que assim não dá. Ele pede que Bolsonaro e Maia se entendam etc e tal. Mas reconhece: "O governo não precisa de oposição nesse momento. As ações de algumas pessoas do Executivo e do Parlamento criam um tsunami maior do que qualquer pessoa. É necessário amadurecimento. Se o governo quer aprovar a (reforma), da Previdência temos que dialogar mais, reduzir essa zona de atrito, de discussões pela imprensa e pelas redes sociais. Esse mundo virtual é extremamente sadio, ajudou a mudar o Congresso, mas agora está sendo péssimo. Em alguns segundos uma publicação (na internet) derruba a bolsa de valores e reduz a credibilidade do País quando dois chefes de poderes estão numa acirrada disputa pelo nada".

Pois é, Delegado Waldir… Esse "mundo virtual", como o senhor chama, pode até ajudar a eleger. Fazer dele o espaço das contendas políticas é escolher a ingovernabilidade. Como a que vemos. Mas vá convencer o presidente, seus filhos e alguns de seus prosélitos vulgares…

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