REVISTA VEJA edição nº 2578
Aleluia! Agora se considera a experiência profissional dos professores
Os mais impacientes julgam que, se fosse fechado o MEC, as coisas iriam melhor. É difícil dizer. Mas é certo que ele está prejudicado na sua função principal: zelar pela educação do país. Isso porque nem tem escolas nem tem poderes diretos sobre os estados e municípios que as têm. Pode fazer alguma coisa, mas nem manda nem financia.
Nas suas funções de cuidar do ensino superior, criou um labirinto de exigências burocráticas. Estas nem sempre levam aos resultados esperados, além de complicar a vida de todos e ser um gentil convite para a pequena corrupção.
O Enade faz do Brasil o único país a medir o que aprenderam os alunos ao se diplomar. Sendo assim, para que escarafunchar tanto os processos, se a medida do produto é confiável? Mal comparando, o Guia Michelin avalia a gastronomia oferecida pelos restaurantes, ignorando a marca do fogão e os diplomas do chef de cuisine. Por que não fazer o mesmo?
Mas, o que é pior, o MEC julga todos os cursos pela quantidade de diplomas de mestrado e doutorado dos professores. Isso é ótimo na física. Mas e na educação física? De fato, por razões históricas, trata as áreas profissionais igualzinho às acadêmicas. Os professores das engenharias são avaliados pelos diplomas e pela quantidade de papers, e não pela sua excelência na profissão. Sendo assim, para melhorar as notas perante o MEC, vale a pena defenestrar professores com décadas de vivência no mundo real e contratar jovens doutores que jamais entraram em uma fábrica ou canteiro de obras. Nos cursos de administração, se nossos grandes executivos virassem professores, fariam baixar a nota do curso junto ao MEC, já que não têm Ph.D. E isso não é diferente nas demais áreas profissionais.
De quebra, pelas regras da dedicação exclusiva, os professores das universidades federais não podem ter experiência nas fábricas. Menos mau que, nesse particular, há amplo descumprimento!
Aleluia! Em uma portaria recente (Instrumento de Avaliação de Cursos de Graduação/Inep), o MEC começou a considerar também a experiência profissional dos professores — em paralelo aos diplomas. Faz mais de trinta anos que insisto nisso. Mas não acredito que a mudança tenha sido influenciada pelo meu patético espernear. Importa a retificação de um cacoete antigo.
Nesse mesmo documento, o MEC passa a reconhecer que livros e periódicos em formato digital são um item integrante e igualmente valioso de uma biblioteca universitária. Por muitos anos, ouviam-se casos de bibliotecas alugadas, apenas para a liturgia das visitas iniciais do MEC. Terminada a visita, um caminhão levava os livros — para o próximo curso a ser visitado. Vacinado contra essas malandragens, além de valorizar agora o acervo eletrônico, o MEC está às voltas com a nova e legítima preocupação de saber se a assinatura dos periódicos digitais tem uma duração aceitável ou vai evaporar-se no dia seguinte. Pela segunda vez, aleluia!
Uma reforma em profundidade no MEC é como o trabalho de Hércules de limpar as cavalariças de Áugias: missão para décadas. Mas, pouco a pouco, alguns reparos vão aparecendo, como os dois acima citados.
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