O DEM não teve coragem alguma. Foi frouxo. Covarde. Burro e covarde. Deixou-se levar pela correnteza petista. Recusou as bandeiras econômicas liberais
‘Não visto essa carapuça e não aceito esse rótulo.” A fala é de ACM Neto, presidente do DEM, em entrevista à “Folha de S.Paulo” e em resposta à indagação sobre o partido ser considerado conservador. A sentença — a rejeição ao conservadorismo segundo o prefeito de Salvador — é breve. Caudalosa é a incultura que contém.
É sempre grotesco o efeito do desconhecimento num jovem poderoso, porque daí derivam desesperança e perigo. Tanto quanto será sempre ridículo querer educar um jovem poderoso, porque daí derivariam pretensão e perda de tempo. Afinal, esse rapaz pode ir longe na política partidária mesmo ignorando a contribuição decisiva do conservadorismo para a fortaleza de valores que fundamentam a atividade pública na civilização ocidental; mesmo jamais sabendo que a conformação institucional do complexo em que disputa eleições e em que encontra balizas para governar é obra erguida pelos séculos de exercício do pensamento conservador.
O tipo pode até presidir o Brasil — quantos já o fizeram — desconhecendo que os princípios do estado de direito são pilares erguidos e defendidos pelas ideias conservadoras; mas, desde a cadeira em que estiver, será eterno refém da hegemonia esquerdista. É o caso de ACM Neto. Mais um sequestrado pelo método de desinformação — pela cultura de deturpação de conceitos — que faz alguém repelir algo não pelo que realmente seja, mas pelo que seus destruidores dizem que é. Assim, pela mão esquerda do gesseiro, ACM Neto encontra seu teto: não veste a carapuça do conservadorismo porque despreza o rótulo de ser alguém que quer conservar as desigualdades. Não é isso? Não é isso o conservadorismo segundo os petistas?
Pois é a isso que adere o presidente do DEM, com medinho de ser de direita, ao validar um debate público fundado todo em falácias. Eis ACM Neto, calcificado pelo sistema já antes dos 40 anos, alfabetizado pela gramática revolucionária enquanto se julga algo novo na política: mais um tocado, pela insciência, a reagir a um estigma negativo a partir da estigmatização desonesta original que é incapaz de distinguir.
A entrevista, contudo, não se esgota na ignorância. Questionado sobre fato de o DEM ter minguado durante os governos do PT, saiu-se com mistificação: “O partido teve coragem de remar contra a maré para manter seus princípios. Isso nos custou.” Não é verdade. O DEM não teve coragem alguma. Foi frouxo. Covarde. Burro e covarde. Deixou-se levar pela correnteza petista. Recusou as bandeiras econômicas liberais e a origem conservadora do PFL, e nem sequer soube esboçar a luta política contra a esquerda. Por isso, quase acabou. E nada aprendeu — conforme indicam as declarações de ACM Neto.
Perguntado, por exemplo, sobre o tal Estado mínimo, em vez de falar sobre redução da máquina pública, superfície na qual a corrupção se alastra, acoelhou-se para pregar a manutenção daquilo que “o Estado se propõe a fazer” — como se o Estado não se propusesse a fazer tudo, e como se esse não fosse exatamente o problema. É discurso de quem se quer irrelevante — desnecessário. Rodrigo Maia não fica atrás: tem Brizola como referência. Chegamos a 2018, e essa gente ainda se desfaz do lote eleitoral que historicamente possui para disputar com o PT o terreno do “social”. O que dizer?
Qual o destino, na política, dos que, negando-se a encarnar contraponto para o qual há consistente demanda, posição ademais legítima, no entanto escolhem explorar o território dominado pelo adversário e lutar para lhe ter um quinhão? A insistirem nisso, em quanto tempo teremos o anúncio de uma nova refundação do DEM, promovida por ACM Bisneto e Cesar Maia Neto?
Aliás, em que consiste o atual renascimento desse partido? Qual o mérito de sua recuperação se não decorrente do voto? O DEM encorpou sua representação no Congresso, foi feliz no negócio da janela partidária e adquiriu mais parlamentares para si. E daí? Será isso efeito da duvidável potência em ascensão do partido, que nem sequer tem um governador, ou da óbvia influência de um presidente da Câmara em busca de cacifar seu projeto de poder individual?
Ninguém leva a sério a candidatura presidencial de Maia. Isso não quer dizer que não nos comunique sobre a irresponsabilidade de um partido modesto cuja direção constrange a realidade com surtos de grandeza e independência, em vez de se comprometer com a briga política por meio da qual teria contribuição estratégica a dar para o país.
Se o DEM quer mesmo trabalhar por derrotar a esquerda, se deseja enfraquecer nacionalmente o PT, deveria deixar de bravata e se dedicar a vencer a disputa que pode — a eleição para governador da Bahia. É o desafio que o mundo real impõe a ACM Neto: que tenha senso de proporções, assuma o que é, supere o medinho de perder e encontre a coragem de se lançar candidato a governar o estado de cuja capital é prefeito. É movimento natural para si — e para o crescimento do DEM, se tal se quiser verdadeiro.
Enquanto assim não for, os líderes de outros partidos que comparecerem a eventos como aquele de lançamento da candidatura presidencial de Maia o farão não em apoio — mas em solidariedade. Talvez em manifestação de pêsames. Afinal, há limites para se soltar balão de ensaio. O principal deles: que não estoure.
Carlos Andreazza é editor de livros
‘Não visto essa carapuça e não aceito esse rótulo.” A fala é de ACM Neto, presidente do DEM, em entrevista à “Folha de S.Paulo” e em resposta à indagação sobre o partido ser considerado conservador. A sentença — a rejeição ao conservadorismo segundo o prefeito de Salvador — é breve. Caudalosa é a incultura que contém.
É sempre grotesco o efeito do desconhecimento num jovem poderoso, porque daí derivam desesperança e perigo. Tanto quanto será sempre ridículo querer educar um jovem poderoso, porque daí derivariam pretensão e perda de tempo. Afinal, esse rapaz pode ir longe na política partidária mesmo ignorando a contribuição decisiva do conservadorismo para a fortaleza de valores que fundamentam a atividade pública na civilização ocidental; mesmo jamais sabendo que a conformação institucional do complexo em que disputa eleições e em que encontra balizas para governar é obra erguida pelos séculos de exercício do pensamento conservador.
O tipo pode até presidir o Brasil — quantos já o fizeram — desconhecendo que os princípios do estado de direito são pilares erguidos e defendidos pelas ideias conservadoras; mas, desde a cadeira em que estiver, será eterno refém da hegemonia esquerdista. É o caso de ACM Neto. Mais um sequestrado pelo método de desinformação — pela cultura de deturpação de conceitos — que faz alguém repelir algo não pelo que realmente seja, mas pelo que seus destruidores dizem que é. Assim, pela mão esquerda do gesseiro, ACM Neto encontra seu teto: não veste a carapuça do conservadorismo porque despreza o rótulo de ser alguém que quer conservar as desigualdades. Não é isso? Não é isso o conservadorismo segundo os petistas?
Pois é a isso que adere o presidente do DEM, com medinho de ser de direita, ao validar um debate público fundado todo em falácias. Eis ACM Neto, calcificado pelo sistema já antes dos 40 anos, alfabetizado pela gramática revolucionária enquanto se julga algo novo na política: mais um tocado, pela insciência, a reagir a um estigma negativo a partir da estigmatização desonesta original que é incapaz de distinguir.
A entrevista, contudo, não se esgota na ignorância. Questionado sobre fato de o DEM ter minguado durante os governos do PT, saiu-se com mistificação: “O partido teve coragem de remar contra a maré para manter seus princípios. Isso nos custou.” Não é verdade. O DEM não teve coragem alguma. Foi frouxo. Covarde. Burro e covarde. Deixou-se levar pela correnteza petista. Recusou as bandeiras econômicas liberais e a origem conservadora do PFL, e nem sequer soube esboçar a luta política contra a esquerda. Por isso, quase acabou. E nada aprendeu — conforme indicam as declarações de ACM Neto.
Perguntado, por exemplo, sobre o tal Estado mínimo, em vez de falar sobre redução da máquina pública, superfície na qual a corrupção se alastra, acoelhou-se para pregar a manutenção daquilo que “o Estado se propõe a fazer” — como se o Estado não se propusesse a fazer tudo, e como se esse não fosse exatamente o problema. É discurso de quem se quer irrelevante — desnecessário. Rodrigo Maia não fica atrás: tem Brizola como referência. Chegamos a 2018, e essa gente ainda se desfaz do lote eleitoral que historicamente possui para disputar com o PT o terreno do “social”. O que dizer?
Qual o destino, na política, dos que, negando-se a encarnar contraponto para o qual há consistente demanda, posição ademais legítima, no entanto escolhem explorar o território dominado pelo adversário e lutar para lhe ter um quinhão? A insistirem nisso, em quanto tempo teremos o anúncio de uma nova refundação do DEM, promovida por ACM Bisneto e Cesar Maia Neto?
Aliás, em que consiste o atual renascimento desse partido? Qual o mérito de sua recuperação se não decorrente do voto? O DEM encorpou sua representação no Congresso, foi feliz no negócio da janela partidária e adquiriu mais parlamentares para si. E daí? Será isso efeito da duvidável potência em ascensão do partido, que nem sequer tem um governador, ou da óbvia influência de um presidente da Câmara em busca de cacifar seu projeto de poder individual?
Ninguém leva a sério a candidatura presidencial de Maia. Isso não quer dizer que não nos comunique sobre a irresponsabilidade de um partido modesto cuja direção constrange a realidade com surtos de grandeza e independência, em vez de se comprometer com a briga política por meio da qual teria contribuição estratégica a dar para o país.
Se o DEM quer mesmo trabalhar por derrotar a esquerda, se deseja enfraquecer nacionalmente o PT, deveria deixar de bravata e se dedicar a vencer a disputa que pode — a eleição para governador da Bahia. É o desafio que o mundo real impõe a ACM Neto: que tenha senso de proporções, assuma o que é, supere o medinho de perder e encontre a coragem de se lançar candidato a governar o estado de cuja capital é prefeito. É movimento natural para si — e para o crescimento do DEM, se tal se quiser verdadeiro.
Enquanto assim não for, os líderes de outros partidos que comparecerem a eventos como aquele de lançamento da candidatura presidencial de Maia o farão não em apoio — mas em solidariedade. Talvez em manifestação de pêsames. Afinal, há limites para se soltar balão de ensaio. O principal deles: que não estoure.
Carlos Andreazza é editor de livros
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