A inflação na Venezuela anda pela casa de 4.000% ao ano. Desde 2013, ano da morte de Hugo Chávez, o país empobreceu cerca de 37% --foi essa a baixa da renda por cabeça, do PIB per capita. No Brasil, a perda foi de uns 9% nesse período.
Está marcada uma eleição presidencial para daqui a dois meses e pouco, caso não sobrevenha tumulto ainda maior. Se alguma facção do regime não tentar um golpe, Nicolás Maduro deve ser eleito para governar até 2025.
Dado que a política interna bolivariana parece um mistério, cabe pelo menos perguntar qual deve ser a situação econômica e social que Maduro vai enfrentar.
Ignore-se por ora a hipótese de que o governo de Donald Trump vá cumprir a ameaça de barrar as importações de petróleo da Venezuela. Quais as perspectivas econômicas imediatas?
O FMI prevê que o PIB venezuelano diminua ainda 10% neste 2018. A queda do PIB per capita chegaria então perto de 44% desde 2013, voltando a níveis dos anos 1980.
Há relatos de enorme desabastecimento e fome na Venezuela. A desordem e a estupidez cruel são óbvias, mas não temos a dimensão precisa do problema.
Por exemplo, desnutrição de algum grau afetaria 68% das crianças de menos de cinco anos, lê-se em relatório de 266 página que a Organização dos Estados Americanos publicou nesta semana sobre violações de direitos humanos na Venezuela. O número chocante vem de uma pesquisa da Cáritas, organização humanitária católica.
Mas o estudo foi feito em apenas 3 dos 24 Estados venezuelanos, decerto os mais ricos, mas poucos. A pesquisa foi centrada em paróquias mais vulneráveis, com o objetivo de medir mais rapidamente a degradação da vida dos mais pobres. Não pretende ser representativa nem de cidades, que dirá do país.
Até 2014, o nível de renda e consumo da Venezuela era similar ao do Brasil. A desigualdade era a menor da América Latina. Apesar da ruína bolivariana, é preciso ter em mente que não se tratava de um país antes miserável.
Sim, o governo desorganizou a atividade econômica mesmo no varejo da distribuição do pouco que ainda é produzido. Quer centralizar a distribuição de gêneros essenciais a preço tabelado, mas não tem rede, desperdiça, privilegia aliados políticos e padece de corrupção, de resto.
O Brasil chegou a ter inflação de 6.800% ao ano, na transição de Sarney para Collor, 1990. Mas havia uma tecnologia de convivência com o desastre, a correção monetária, que não livrava os mais pobres do horror, mas atenuava o conflito político geral. Na Venezuela, há apenas tabelamento de bens essenciais que faltam nos mercados.
Desde 2015 o governo quase não publica estatísticas macroeconômicas. Mas a pobreza disparou, segundo pesquisas de um consórcio de universidades, o consumo médio caiu mais de um terço em quatro anos e a inflação está em 85% ao mês.
A Venezuela vai explodir ou definhar até uma situação de equilíbrio cubano? É uma pergunta pragmática, pois o problema é vizinho. Se não fosse um pária diplomático, o governo do Brasil poderia fazer mais do que organizar o êxodo venezuelano na fronteira (espera-se que não feche as portas para os desesperados). Talvez seja obrigado a lidar com o assunto, querendo ou não.
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