Cortar a Selic de dois dígitos para 6,75%, nível observado apenas na década de 50, é uma façanha, mas tudo se perderá caso o Congresso não faça a reforma da Previdência
Parece contraditório o Banco Central, por meio do Conselho de Política Monetária (Copom), executar o 11º corte consecutivo na taxa básica de juros enquanto os mercados mundiais parecem entrar numa fase de volatilidade.
Há, porém, bases firmes para o corte de 0,25 ponto percentual dos juros, fixando-os em 6,75%, nível comparável ao da década de 50. A economia brasileira tinha uma outra conformação. Mas é mesmo um feito.
Em 11 de janeiro do ano passado, a taxa era de 13%. A conjugação da confiança dos agentes do mercado no BC com uma calmaria nos preços dos alimentos, causada por boas safras, e a quebra da chamada inércia inflacionária, derivada da indexação — o preço sobe hoje porque subiu ontem — forçada pela profunda recessão de 2015/16 permitiram ao Copom fazer este corte profundo nos juros, sem maiores riscos.
Juros baixos são o objetivo de todas as correntes políticas. As divergências ocorrem sobre os meios de alcançá-los. O país testemunhou o voluntarismo lulopetista durante o governo de Dilma Rousseff, quando, por ato de vontade da presidente, sem que houvesse condições técnicas objetivas para a derrubada da taxa, a Selic saiu de pouco mais de 12% para 7,25%.
Não deu certo, por óbvio. A inflação saltou de patamar, ficou na faixa do limite superior da meta (6,25%) e terminou de volta aos dois dígitos. O BC da época, de Alexandre Tombini, foi forçado a puxar os juros até 14,25%.
Agora, há uma chance de ouro de que mais algum corte venha a ser feito ou, na pior hipótese, a Selic não se afaste muito deste nível — o mercado aposta em 8% no final do ano, segundo o relatório Focus, do BC, feito com base em previsões de analistas do mercado financeiro. Há a possibilidade rara de a recuperação da economia ocorrer em bases sustentáveis.
As expectativas quanto à inflação são benignas (4,25%, abaixo do centro da meta, de 4,5%). E o próprio BC admite uma “flexibilização monetária moderada adicional”, a depender do cenário e dos riscos. Ou seja, se, ao contrário das previsões negativas atuais, a reforma da Previdência for mesmo iniciada na Câmara, que já adiou a data limite da aprovação das mudanças de 20 para o dia 28 deste mês, a fim de o governo conseguir o apoio mínimo necessário de 308 deputados.
Poucas vezes ficou tão nítida a dependência da economia em relação à política. Houve avanços no governo Temer que ajudaram a construir este ensaio de recuperação da economia, com inflação baixa para os padrões brasileiros.
A reforma trabalhista, para flexibilizar as relações entre capital e trabalho, foi um deles. O teto dos gastos, para dar horizontes às contas públicas, outro. Mas, se não desarmar a bomba fiscal da Previdência, o Brasil não irá longe sem grave crise. Não chega a 2020.
Parece contraditório o Banco Central, por meio do Conselho de Política Monetária (Copom), executar o 11º corte consecutivo na taxa básica de juros enquanto os mercados mundiais parecem entrar numa fase de volatilidade.
Há, porém, bases firmes para o corte de 0,25 ponto percentual dos juros, fixando-os em 6,75%, nível comparável ao da década de 50. A economia brasileira tinha uma outra conformação. Mas é mesmo um feito.
Em 11 de janeiro do ano passado, a taxa era de 13%. A conjugação da confiança dos agentes do mercado no BC com uma calmaria nos preços dos alimentos, causada por boas safras, e a quebra da chamada inércia inflacionária, derivada da indexação — o preço sobe hoje porque subiu ontem — forçada pela profunda recessão de 2015/16 permitiram ao Copom fazer este corte profundo nos juros, sem maiores riscos.
Juros baixos são o objetivo de todas as correntes políticas. As divergências ocorrem sobre os meios de alcançá-los. O país testemunhou o voluntarismo lulopetista durante o governo de Dilma Rousseff, quando, por ato de vontade da presidente, sem que houvesse condições técnicas objetivas para a derrubada da taxa, a Selic saiu de pouco mais de 12% para 7,25%.
Não deu certo, por óbvio. A inflação saltou de patamar, ficou na faixa do limite superior da meta (6,25%) e terminou de volta aos dois dígitos. O BC da época, de Alexandre Tombini, foi forçado a puxar os juros até 14,25%.
Agora, há uma chance de ouro de que mais algum corte venha a ser feito ou, na pior hipótese, a Selic não se afaste muito deste nível — o mercado aposta em 8% no final do ano, segundo o relatório Focus, do BC, feito com base em previsões de analistas do mercado financeiro. Há a possibilidade rara de a recuperação da economia ocorrer em bases sustentáveis.
As expectativas quanto à inflação são benignas (4,25%, abaixo do centro da meta, de 4,5%). E o próprio BC admite uma “flexibilização monetária moderada adicional”, a depender do cenário e dos riscos. Ou seja, se, ao contrário das previsões negativas atuais, a reforma da Previdência for mesmo iniciada na Câmara, que já adiou a data limite da aprovação das mudanças de 20 para o dia 28 deste mês, a fim de o governo conseguir o apoio mínimo necessário de 308 deputados.
Poucas vezes ficou tão nítida a dependência da economia em relação à política. Houve avanços no governo Temer que ajudaram a construir este ensaio de recuperação da economia, com inflação baixa para os padrões brasileiros.
A reforma trabalhista, para flexibilizar as relações entre capital e trabalho, foi um deles. O teto dos gastos, para dar horizontes às contas públicas, outro. Mas, se não desarmar a bomba fiscal da Previdência, o Brasil não irá longe sem grave crise. Não chega a 2020.
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