EMPREGO, crédito, massa de salários e dívida das famílias despioram ou melhoram em ritmo mais acelerado desde o fim do ano passado. São as rodas da carruagem do consumo, que, nesse andar, deve sustentar o crescimento de pelo menos 2,5% da economia em 2018.
Parece amalucado ou, pior ainda, governismo dizer que há melhorias, em particular no mundo do trabalho.
Como se soube nesta quarta-feira (31), a taxa média de desemprego de 2017 foi ainda maior que a de 2016, talvez a maior em duas décadas (a nova série de dados de desemprego começa oficialmente em 2012. Números anteriores são estimativas de estimativas). Mas não é o que vem ao caso aqui, agora.
Desde a metade de 2017, o total de rendimentos do trabalho cresce em geral mais de 3% ao ano. O número de pessoas empregadas voltou a crescer também em julho. Em dezembro, mesmo a taxa de desemprego parou de subir (ante o mesmo mês do ano anterior).
Os empréstimos novos (concessões de crédito) crescem de modo sistemático desde agosto passado; no caso do crédito para pessoas físicas, desde maio. A despesa média das famílias com juros e amortização de débitos cai desde fins de 2016. Em novembro de 2017, dado mais recente, o serviço da dívida caiu ao menor nível para o mês desde 2010.
Como seria plausível esperar e, de fato, acontece, a despesa de consumo cresce com a renda e o crédito. Não é destino, futuro certo. Pode até ser que o consumidor volte à retranca devido a uma anomalia desconhecida. Mas não é provável. O consumo, como de costume, vai reagindo às variações de renda e crédito.
Além do mais, algumas brisas favoráveis devem soprar com um tico mais de força. As taxas de juros básicas da economia devem ficar em nível historicamente baixo. As extorsivas taxas bancárias devem cair mais (o canal de crédito deve enfim desentupir).
O gasto do governo não deve baixar tanto mais assim, para o bem ou para o mal. O investimento público, que caiu a níveis infames e destrutivos, deve ficar pelo menos estagnado. Temos alguma ajuda da finança internacional, com juros baixos, até que venha o sururu, e preços de commodities mais altos.
Isto posto, é óbvio que estamos em ruínas. Mas a economia se recupera. Não se quer dizer que esta foi a melhor ou mais justa estratégia de recuperação econômica (ao contrário) ou que o desemprego voltará a um nível decente (8%?) antes de meia dúzia de anos. Pior, o governo está quebrado e não sabemos como ou de onde virá o investimento.
Quer-se dizer apenas que um crescimento de 3% é viável (ainda não é certo) e até essa ninharia faz diferença na vida do povo miúdo, o que certa esquerda ignora de modo lunático.
Interessante notar, por fim, que um dos piparotes essenciais dessa retomada econômica nanoscópica veio de um artifício heterodoxo, assunto meio varrido para debaixo do sofá por economistas oficiais ou oficiosos.
A recuperação econômica engasgava quando o saque das contas inativas do FGTS vitaminou a economia com R$ 44 bilhões. Pouco dinheiro? O aumento da massa salarial em 2017 foi de R$ 50 bilhões (ante 2016). Todo o investimento em obras do PAC do ano passado não passou de R$ 40 bilhões. Convém pensar a respeito, para o futuro também.
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