Empresa altera algoritmo, para limitar a rede a interações entre amigos e familiares, ao constatar ter sido utilizada na disseminação de notícias falsas contra Hillary
Ninguém deixa de ser impactado pela revolução digital em que está o mundo, e que, por certo, não terá fim. Como em mudanças tecnológicas profundas, negócios viram ruínas, outros surgem ou se adaptam para sobreviver. Acabam e aparecem novos ofícios, e a vida anda, com mudanças também nos planos da cultura e do comportamento.
Esta revolução tem o epicentro nas comunicações, com impacto estrondoso nas empresas jornalísticas. O salto dado na microeletrônica armou o estilingue que lançou esta indústria numa viagem de transformações vertiginosas. As tradicionais empresas jornalísticas se reinventam, enquanto navegam, à frente, gigantes digitais do novo tempo, liderados por Google e Facebook. Companhias hoje mastodônticas que de fato romperam barreiras — como mecanismo de busca e na montagem da mais ampla rede social eletrônica do planeta. São poderosos sorvedores da publicidade que migra da mídia impressa.
Mas tecnologia por si só não dá todas as respostas. O alerta é emitido pelo momento difícil por que passa o Facebook, de Mark Zuckerberg. São mais de 2 bilhões, algo superior em 45% à população da China, que se conectam pelo Face, convertido em máquina de fazer dinheiro a partir do conhecimento dos hábitos dos que passam pela rede. São informações valiosas para anunciantes.
Tamanho sucesso levou a que se pensasse que acabaria o jornalismo profissional, pois as pessoas conectados em rede se bastariam. Até que chegou a eleição americana, ganha por Trump. E o Facebook se viu — e continua nele — envolvido em um caso sério, sob investigação das autoridades americanas, por difundir notícias mentirosas (“fakes”) para degradar a candidatura da democrata Hillary Clinton.
Tudo, ou a grande maioria, manipulado por russos, provavelmente conectados ao Kremlin, interessado em fomentar grupos nacional-populistas pelo mundo. Há provas de que o Face foi usado nesta grande conspiração eletrônica — com ou sem o conhecimento de Trump, assunto também sob investigação especial. Artigo publicado no “Washington Post” revela que o departamento de segurança do FB identificou e excluiu 5,8 milhões de contas falsas. Deste conjunto saíram “fake news” para ajudar Trump. Por exemplo, a notícia de que o Papa o apoiava. Mais: 3 mil anúncios pró-Trump foram veiculados, e a fonte do pagamento por eles, rastreada, aponta para o Kremlin.
Vem daí a decisão recente da empresa de alterar algoritmos, a fim de reservar a rede para interações entre amigos e familiares. Nada de notícias, publicações etc. Deduz-se que Zuckerberg teme ser processado e regulado pelo governo americano, por ter sido instrumento de grave conspiração, com implicações na segurança nacional.
A empresa pensou em contratar 10 mil checadores, mas desistiu. Seria insano. Na verdade, falta à empresa de Zucherberg seguir o jornalismo profissional: apurar, checar, consultar todos os envolvidos na história, rechecar e publicar. A fórmula é conhecida e praticada há tempos, mas não cabe no Face. O dono do “Wall Street Journal”, entre outros veículos também impressos e eletrônicos, Rupert Murdoch, sugeriu, irônico, que Zuckerberg comprasse notícias de empresas jornalísticas. Sugeriu uma de suas TVs.
O problema da credibilidade, sempre muito sério, ganha força na internet.
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