João Doria só será o candidato do PSDB à Presidência em 2018 caso o partido deixe de existir como o conhecemos pelo menos desde a vitória de Fernando Henrique Cardoso em 1994; quando a margem tucana para surpresas — talvez para a sorte — secou.
A partir dali, ao alcançar o inverossímil lugar de oposto do PT e se tornar uma das partes no bipartidarismo brasileiro vigente para eleições presidenciais, o PSDB se trancou, e outro critério para a escolha de candidato a presidente jamais teve senão o óbvio: o de respeitar a ordem na fila; fila — eis o paradigma — sempre de poucos e dos mesmos, todos já testados, fundadores e fiéis ao partido, e com peso na direção partidária.
Um conjunto histórico que em porção nenhuma beneficia Doria — que talvez um dia aprenda que só se chega à condição de poder viajar país adentro pedindo votos ao eleitorado geral após haver conquistado o eleitorado interno do partido. Um conjunto, porém, que em tudo faz crescer Geraldo Alckmin, ademais impulsionado pela rara circunstância de estar sozinho na fila.
Objetivamente: se, em meados do ano que vem, for o prefeito de São Paulo o nome tucano escolhido para concorrer ao Planalto, isso significará que o PSDB, como é hoje, terá morrido — quem choraria? — para renascer um outro. Se melhor ou pior, não importa. Meu ponto aqui consiste em sustentar a improbabilidade de essa morte ocorrer. À luz do padrão de comportamento do partido, Doria só teria vez em 2018 caso os caciques do PSDB — a meia dúzia que controla a máquina tucana — fossem todos ceifados pela Lava-Jato; mormente Alckmin. E isso não acontecerá. Já não aconteceu.
Ao contrário, a candidatura do PSDB logo se definirá — sem novidade — também como item da sangria estancada, elemento crucial no pacote de reação do establishment, já em curso, contra a Lava-Jato.
Que se olhe para a situação de Aécio Neves, um político encolhido, que terá de abrir mão de concorrer à reeleição ao Senado e disputar uma vaga na Câmara para cultivar algum pequeno capital eleitoral e sustentar o foro especial; mas que, ainda assim, mantém-se presidente do PSDB e influente — blindado — no partido. O que isso informa? Que as coisas ali, entre os vivos, não mudam; que as hierarquias se enraízam, tanto mais quando a própria atividade política se encontra criminalizada. O pacto está firmado.
Aécio, aliás, é a razão por que Alckmin está sozinho na fila tucana. Sim, o partido o protege internamente, mas à custa de reduzir suas pretensões eleitorais. A debacle do senador é o motivo pelo qual o PSDB — acionando o instinto de sobrevivência — correu para o colo do governador paulista, e sem que esse precisasse se esforçar. Isso deriva, sobretudo, de um movimento correto: enquanto Aécio é o fiador da participação tucana no governo Temer, Alckmin sempre foi contrário a que o partido o compusesse. Trata-se do tipo de análise do tabuleiro que rende frutos políticos imediatos — e que também projeta importante mensagem sobre o futuro: quem lê com precisão agora tende a fazê-lo igualmente amanhã.
Alckmin será o candidato do PSDB à Presidência. A própria maneira como passou a se comportar nas últimas semanas — um ou dois tons acima de sua fala habitual — é indicativa de que sabe que controla a posição. É, por exemplo, o senhor das prévias partidárias, com o que engessou João Doria, modelo do qual o prefeito paulistano não pode escapar — ou teria ele, outsider, chegado à condição de candidato tucano à prefeitura da maior cidade do país não fosse pelo sistema de consulta interna bancado pelo governador contra quase todas as lideranças regionais do PSDB?
Isso mesmo — xeque-mate: as prévias que viabilizaram Doria em 2016 são as mesmas que o prendem a Alckmin no ano que vem. (Sobre se sairá do PSDB? Duvido. Abandonar a prefeitura e se tornar ex-prefeito em atividade num partido de menor alcance é aventura demais até a um aventureiro.)
Se a conjuntura no PSDB é altamente favorável a Alckmin, auspicioso também lhe é o contexto político-eleitoral brasileiro. Insisto — tema já de outros escritos meus: 2018 consagrará nas urnas aquele que melhor conseguir ocupar o terreno da centro-direita, de onde virá o próximo presidente. Embora o governador se recuse a se declarar como político de direita, esse é um lugar — precisamente o de centro-direita — em que o eleitor tende a situá-lo.
Ainda que sem se assumir como conservador, é provável que essa percepção do eleitorado a seu respeito se aguce caso explore os bons números de sua gestão sobre aquela que será a bandeira eleitoral decisiva no ano que vem: segurança pública. Terá, aí, de disputar terreno com Jair Bolsonaro, cujo discurso a propósito está encaixado.
O deputado será o primeiro adversário de Alckmin, talvez o mais difícil de enfrentar, aquele a quem obrigatoriamente desidratar, o que — creio — será impulsionado pela prevalência do recall da polarização entre PT e PSDB, e pelo fato de que ninguém é governador reeleito do maior e mais rico estado do país sem que duas densidades fundamentais à eleição de um presidente se imponham: o peso daquele colégio eleitoral e a força de seu centro econômico.
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