Henrique Meirelles pode ainda não ser candidato a presidente, mas está à beira de se tornar "presidenciável", esse nome brasileirinho para aqueles ensaios de candidatura do gênero "vai que cola".
Desde junho, o ministro vai a festas e palestras de evangélicos, da Assembleia de Deus; nesse mês, estreou no Twitter.
Se é uma estratégia de pré-candidatura, faz sentido. Meirelles não tem máquina partidária grande nem grupo político relevante. Mas os evangélicos pentecostais são 21% do eleitorado, pelos levantamentos do Datafolha. Outros 8% são evangélicos não pentecostais. A bancada evangélica na Câmara tem quase 90 deputados. Caso consiga difundir seu nome entre esses eleitores, pode aparecer com alguns pontos nas pesquisas eleitorais. Torna-se, então, presidenciável.
A conversa da candidatura voltou a ficar mais ruidosa desde a semana passada, quando o PSD, partido do ministro, o relançou à Presidência. Sim, relançou, pois Gilberto Kassab, ministro de Ciência e Comunicações e dono do partido de 39 deputados, trata disso pelo menos desde abril do ano passado, quando Meirelles era ainda apenas cotado para assumir a Fazenda de Michel Temer. No final do ano, Meirelles deve ser a estrela do programa eleitoral do partido, na TV.
Nesta semana, vazou um vídeo em que Meirelles manda uma mensagem para evangélicos cariocas, de um minuto e meio, filmagem amadora, em que o ministro aparece com o que parece ser uma Bíblia aberta à sua esquerda.
"Me sinto à vontade para conversar com vocês porque temos os mesmos valores. Valores da lei de Deus e dos homens visando crescer e colaborar com o país. Portanto, preciso da oração de todos", diz o ministro. No fim do vídeo, sobre fotos de árvores floridas, aparecem os textos "vamos ajudar o Brasil" e "outubro, mês de oração pela economia".
Meirelles de fato ouviu dos deputados do PSD um convite para se lançar candidato. Mas não teria dito nada respeito. Segundo um participante da reunião, Meirelles riu e "fez cara de vaidoso", uma reação típica do ministro quando confrontado com a ideia de uma possível candidatura. Ri, feliz, dá um olhar cúmplice e muda de assunto.
Lideranças religiosas da Assembleia de Deus dizem que não se discute política ou se pede voto nos encontros em que Meirelles aparece.
O ministro da Fazenda não conta por ora com a boa vontade do círculo político de Temer, o que pode não parecer grande empecilho, dado que está todo mundo com um pé na porta da cadeia. No entanto, o pessoal do Planalto não facilitaria a promoção da imagem de Meirelles e muito menos ainda seu trânsito no PMDB. Sim, o PMDB ainda pensa o que fazer da vida em 2018 e está uma confusão maior do que a habitual. Mas o nome do ministro "simplesmente agora não está sobre a mesa. E nem debaixo", diz um senador do partido.
Meirelles teria de sair em abril para disputar a eleição, o que não é simples. Antes disso, Meirelles teria de parecer uma candidatura mais que nanica nas pesquisas. Além de fazer pré-campanha mais direta, ter intenções de voto, teria de contar que recuperação econômica fosse mais que nanoscópica, tivesse efeitos práticos mais difusos. Difícil. Mas, na confusão brasileira, vai que cola.
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