quarta-feira, junho 07, 2017

Janot quer na Presidência um fantoche de fantasias totalitárias do MPF e seus delírios justiceiros - REINALDO AZEVEDO

REINALDO AZEVEDO - 07/06
Resta evidente que uma casta de agentes do estado — procuradores, policiais federais e alguns juízes — tomaram para si a tarefa de “sanear” a vida pública, atropelando os Poderes da República, as instituições e as garantias legais
Não se enganem: se Michel Temer vier a cair, o presidente que o sucederá, eleito necessariamente pelo Congresso, estará com a corda no pescoço. É preciso que se tenha claro, de uma vez por todas, que o monstro que foi criado por Polícia Federal e Ministério Público pouco deve ao famigerado SNI (Serviço Nacional de Informações), mas com uma diferença que lhe confere virulência muito própria, distinta daquela dos tempos da ditadura: esse fascismo de esquerda — o Estado onipresente, vigilante e policial, sempre à caça dos poderosos — encontra guarida nas, como chamarei?, ignorâncias da direita. Os extremos, desta feita, estão juntos.

Não deixa de ser curioso. Alguns dos meus críticos mais duros se dizem antipetistas ferrenhos, vivem por aí pedindo a prisão de Lula, dizem odiar os comunistas etc. E, no entanto, repetem as mesmas bobagens do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que que se finge de marinista para que possa ser ainda mais psolista.

Não, meus caros! Dado esse estado de coisas, não existirão jamais presidente ou primeiro-ministro estáveis no Brasil. Não se trata mais de perseguir o crime, mas de criminalizar a própria política, tomada como atividade própria de exploradores da boa-fé alheia. Ora, rancorosos de direita e de esquerda se irmanam nessa estupidez.

Resta evidente que uma casta de agentes do estado — procuradores, policiais federais e alguns juízes — tomaram para si a tarefa de “sanear” a vida pública, atropelando os Poderes da República, as instituições e as garantias legais. O que é trágico? Eles têm como arma a verossimilhança mentirosa. Explico o que isso quer dizer.

Verossímil é aquilo que parece verdadeiro ou que, prestem atenção à sutileza, provavelmente não contraria a verdade. É verossímil, pois, a afirmação de que, no Brasil, “nenhum político presta”. É verossímil a invectiva de que que “todo político rouba”. É verossímil a generalização segundo a qual “todos os políticos são iguais”. É verossímil a matemática canhestra que aponta ser a corrupção a verdadeira fonte das dificuldades pelas quais passa o país.

E, no entanto, meus caros, não há uma só verdade aí. Eis as coisas nas quais as pessoas acreditam porque, afinal, elas parecem não contrariar a verdade, elas são plausíveis.

Antevisão e preço altoOra, que preço alto paguei, não é?, pela antevisão de que a Procuradoria Geral da República, na figura de Rodrigo Janot, estava ressuscitando a esquerda, que havia sido liquidada nas eleições de 2016. Que preço alto paguei ao afirmar que a direita xucra estava, na prática, colaborando para ressuscitar os esquerdistas, uma vez que investia ela também não apenas contra a roubalheira, mas contra as garantias do Estado de Direito.

Como se sabe, eu mesmo não fui poupado do Estado policial que vinha denunciando. Eu me tornei um dos exemplos a comprovar a minha antevisão. Uma conversa deste escriba com uma fonte, Andrea Neves, foi pinçada em meio a mais de 2 mil gravações. E o que há lá de errado ou criminoso? Nada! Trata-se de conversa de monge, mas não daqueles da fase realista de Eça de Queiroz. Refiro-me, mesmo, ao sentido pio do termo.

O que se queria com aquilo? Intimidar umas das poucas vozes que se levantam contra a ditadura já mais do que incipiente deste novo SNI. E uma voz que, como se sabe, não vem da esquerda, sempre tão dedicada a defender seus bandidos de estimação. Como Andrea havia sido presa havia pouco e como resta evidente que Aécio Neves é o alvo nº 2 de Rodrigo Janot — Temer é o nº 1 —, a conversa foi divulgada para tentar evidenciar uma suposta proximidade minha com alguém que estava sob investigação. E noto, sim, à margem porque não me acovardo: a prisão de Andrea é arbitrária e não encontra amparo na lei; o afastamento de Aécio de seu cargo é arbitrário e não encontra abrigo na legislação; o pedido de prisão do senador, feito por Janot, já merece um adjetivo para duro do que esse: trata-se de uma sandice, de um delírio totalitário.

E o que se viu? Quando passei a fazer essa crítica, fui demonizado de todos os lados. Os esquerdistas diziam: “Ah, Reinaldo só passou a criticar a Lava Jato depois que chegou aos tucanos”. Falso! “Ah, Reinaldo agora começou a ajudar as esquerdas; ele têm a coragem de criticar o comportamento de Sérgio Moro no depoimento de Lula…”

Com efeito, os fundamentos do liberalismo sempre foram muito frágeis no Brasil. São poucos, infelizmente, os que, neste país — como dizia aquele —, entendem que a luta essencial é aquela que se trava entre as liberdades individuais e a sanha punitiva do Estado.

Não! Não se trata de optar entre impunidade e ditadura. Trata-se de saber que, na democracia, o devido processo legal não é impunidade. Trata-se de saber que ignorar essa verdade corresponde a caminhar para a ditadura.

Que tal a gente escrever com todas as letras? O MPF quer depor Michel Temer e pôr no lugar um mero fantoche de suas fantasias totalitárias e de seus delírios de Justiça — ou de justiçamento.

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