O País parece condenado, com ou sem troca de governo, a um crescimento medíocre
A enorme incerteza gerada pela crise política, desde a delação contra o presidente Michel Temer, quase se reduz a um detalhe – negativo, mas ainda assim um detalhe – quando se examinam as projeções para a economia brasileira nos próximos anos. O País parece condenado, com ou sem substituição do atual governo, a um crescimento medíocre, acompanhado de inflação acima dos padrões internacionais e de juros desanimadores. Os cenários desenhados pelos economistas do mercado ficaram só um pouco mais feios depois de 17 de maio, quando começaram as novas pressões contra o presidente. Pouco mudaram, de fato, e esse ponto já deveria inquietar qualquer pessoa razoavelmente atenta, mesmo numa situação de menor turbulência política.
A quase repetição das principais projeções ficará mais clara com um exame dos números. A inflação ficará em 3,90% neste ano, 4,4% no próximo e 4,25% em 2019, segundo o relatório Focus distribuído ontem. Aqueles números correspondem à mediana das projeções coletadas em consultas a cerca de cem instituições financeiras e consultorias.
As estimativas para o crescimento econômico ficaram, para os mesmos três anos, em 0,50%, 2,40% e 2,50%. Para o câmbio em relação ao dólar os cálculos indicaram R$ 3,30, R$ 3,40 e R$ 3,47. No caso da taxa básica de juros, a Selic, a pesquisa apurou 8,50% no final de cada um dos anos.
Houve pequenas variações nesses números, durante um mês. Há quatro semanas, a inflação estimada para o ano era de 4,01%, o câmbio final para 2017 estava em R$ 3,23 e o crescimento esperado para o Produto Interno Bruto (PIB) era de 0,47%. Mas a mediana das projeções da Selic já era de 8,50% e as demais estimativas também pouco mudaram para os próximos dois anos.
Se as estimativas de crescimento fossem as de um país desenvolvido, os brasileiros poderiam ficar razoavelmente tranquilos. As perspectivas seriam de moderada prosperidade e de apreciável aumento do PIB por habitante, porque a expansão populacional seria muito próxima de zero em cada ano, se chegasse a ser positiva. Mas o País é emergente, com muita gente ainda pobre e mal começou a sair da pior recessão registrada em sua história. Além disso, os demais componentes do quadro apontam uma economia distante de qualquer estabilidade ou de normalidade pelos padrões internacionais.
Com ou sem crise política, a inflação tem sido projetada, há muitas semanas, na faixa de 4% a 4,5% nos próximos anos. Isso bastaria para explicar por que se mantém a expectativa de juros básicos de 8,50% até 2019, com pouca ou nenhuma variação a partir daí. Mas a história vai além da expectativa da inflação e da permanência de forte restrição ao crédito.
A persistência da inflação, nas projeções do mercado, está obviamente associada à continuação de pressões sobre os preços. O fator mais evidente é o desajuste das finanças públicas. Apesar do empenho exibido até agora pelo governo do presidente Michel Temer, e também de alguns avanços, pelo menos dois fatores negativos devem pesar nas contas dos economistas. Um deles é a incerteza quanto à aprovação e à implementação de reformas indispensáveis, especialmente a previdenciária. Essa incerteza deve ser hoje maior do que há algumas semanas, por causa da nova crise política, mas já era considerável. Sem dados mais seguros sobre as possibilidades de aprovação do projeto, ninguém poderá, de forma responsável, incorporar em suas projeções qualquer efeito positivo da mudança previdenciária. O outro fator é o próprio ritmo do ajuste fiscal. Cada novo arranjo orçamentário tem sido e deve continuar sendo trabalhosamente negociado. Não há por que imaginar, nos próximos meses ou anos, um Congresso mais comprometido com a saúde financeira do Estado e com o bom uso do dinheiro público.
Não há como imaginar juros estruturais – compatíveis com um crescimento econômico sem desajustes – menores que os de hoje. A taxa básica elevada é consequência. A crise é um complicador de um problema de raízes mais amplas.
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