O CLIMA ERA estranho em uma grande reunião do poder político com donos do dinheiro. Ouvia-se tanto otimismo como preocupação contida nas análises do efeito econômico do choque político causado por todos os grampos do presidente.
Michel Temer parece ter chance de reter apoio, tanto na política como nas bases empresariais.
Muita gente reunida no Fórum de Investimentos Brasil 2017, nesta terça (30), em São Paulo, parecia acreditar no discurso do presidente da Câmara, também presidenciável da República, Rodrigo Maia (DEM), para certa surpresa deste jornalista.
"A agenda da Câmara, em sintonia com a do presidente, tem como foco o mercado, o setor privado"; "a Câmara mantem a defesa da agenda do mercado", disse Maia, no Forum, promovido pela Apex, agência oficial de marketing econômico.
Não que os participantes do evento estivessem flutuando na estratosfera. As perspectivas são agora piores do que antes do grampo e do inquérito contra Temer, mas a impressão geral é de que o "jogo não está perdido".
Isto é, ainda seria possível aprovar a reforma da Previdência, outras reformas importantes ainda passarão e ainda está difícil de avaliar qual o impacto do choque sobre a confiança de consumidores e deles mesmos, empresários e banqueiros.
O rumo geral do governo não mudaria tão cedo, de resto. Gente da política deve estar ouvindo essa conversa.
Como se fosse necessário, Maia deu outra demonstração de sua estratégia: manter-se no mesmo lugar. Assim, fica bem com Temer, com o núcleo do governismo, com o "mercado" e vai negociando com sua base eleitoral, o baixo clero, a maioria do Congresso. Ou seja, toca "reformas" dourando a pílula e mantém aberta a discussão de como aliviar as ameaças de cadeia ou ficha suja que vêm da Lava Jato.
Temer, por sua vez acredita que não ficará só, se o tempo for o senhor da razão. Quer dizer, se conseguir ganhar semanas de sobrevida com um julgamento arrastado no TSE.
O governo então poderia talvez demonstrar alguma força no Congresso, aprovando "reformas e reforminhas". Mostraria assim que é um bom regente da coalizão reformista liberal. Essa é a estratégia do governo, que voltou a barganhar votos para mudar a Previdência.
Para a sorte de Temer, o PSDB ora está meio isolado. Um relato de segunda mão diz que a conversa de Temer com FHC e Tasso Jereissati foi "diplomática", "cortês", mas "não foi boa".
Temer chiou e acuou o PSDB. Tucanos dizem que estão indo, mas não foram, até porque o partido está, para variar, sobre um muro rachado.
Está aí um problema para a estratégia de Temer.
Depois do grampo, a coalizão do governo perdeu oficialmente três ou quatro dúzias de parlamentares, isso sem contar as defecções oficiosas dentro do PSDB.
Ainda pior, a crise deu a oportunidade para muito deputado federal dizer que a crise criou problemas de "legitimidade" ou outra conversa qualquer para se livrar de um problema que era eleitoral.
Um terço da "base" do governo não queria votar a reforma da Previdência apenas por medo de não se reeleger.
Mas o governo espera fazer mais barulho otimista com PIBinho maior, com a mudança no BNDES e a queda de juros. Respira por aparelho e aparelhamento.
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