O PRIMEIRO grande evento da campanha de 2018, o comício de Lula em Curitiba, dá o que pensar sobre o país da rejeição.
O candidato líder da esquerda e das pesquisas é repudiado por metade dos eleitores. O presidente e seu programa são detestados por pelo menos dois terços.
No entanto, qualquer que seja o presidente, Lula, um Cacareco midiático qualquer ou o "Novo" inominado, o país será mais governável caso o detestado Michel Temer seja bem-sucedido.
Não importa o que se pense das "reformas", o país tende a ficar mais governável com elas, ressalte-se.
Além do mais, o sucesso temeriano deve liberar os candidatos, da direita à esquerda, do dever de propor um programa desagradável demais ou da tentação de mentir demais na campanha.
Isto é, de mentir a respeito da necessidade de mais suor e lágrimas, inevitável (o problema é saber quem vai pagar a conta).
Com a estabilização precária da economia, será possível evitar mudanças muito impopulares ou tumultuárias no início do novo governo.
Até aqui estamos no âmbito das negações, porém.
O eleitor ora se diz disposto a votar em um anti-Lula qualquer que não seja político reconhecido como tal, "tradicional" ou zumbi da Lava Jato. Diz também que não quer o programa Temer, pelo menos na sua versão sem adoçante ou compensações.
A esquerda oficial, o PT, propõe coisas do arco da velha. Sugere uma volta ao passado pré-Carta aos Brasileiros, canoa na qual Lula embarca enquanto sua campanha está ainda na fase de evitar a cadeia. Tal programa levaria o país ao tumulto antes de 2019.
A direita que está com Temer não parece capaz de ressuscitar até a eleição, mesmo com um "milagre do crescimento" em 2018. Isso inclui o vampiresco PMDB e os zumbis tucanos. Sobram Geraldo Alckmin, que se finge de morto para não morrer de vez, e João Doria, que, diga-se de passagem, pode se estrepar por ser "vivo" demais na marquetagem.
Mas o que propõem? Se dizem liberais, "ges-to-res". Vão dizer que pretendem concluir a Ponte para o Futuro, completar o programa da coalizão de Temer? Doria ainda pode tentar desconversar, porque é "o Novo", linguajar adotado agora também por FHC, talvez apenas por conveniência analítica (ou não?).
As várias ONGs políticas, micromovimentos partidários nascentes mas desligados de políticos tradicionais, na maioria, ainda não parecem capazes de ganhar musculatura a tempo, embora não seja possível descartar um equivalente de Emmanuel Macron.
De todo modo, "o Novo", uma embalagem desencarnada, se torna alternativa cada vez mais atraente, é óbvio para qualquer leitor de jornal, tal como o truque Luciano Huck (convém não desdenhar da maluquice).
Mas, além de vazias, negacionistas ou malucas, essas opções realmente existentes por ora embutem desconversas estelionatárias –mentira eleitoral seguida de choque.
O próximo presidente estará amarrado por escassez aguda de dinheiro no governo, com ou sem "teto" de gastos. Reformas liberalizantes ainda serão necessárias, mas socialmente insuficientes e, de qualquer modo, pós-Temer, devem soar como palavrão, anátema, na campanha de 2018.
Não há palavra positiva e honesta sobre como desfazer esses nós.
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