RIO DE JANEIRO - Não sei como é hoje, mas, no passado, os pais se metiam para valer no futuro profissional dos filhos. Não importava que o garoto levasse jeito para o boxe, a taxidermia ou mesmo o corte e costura —a possibilidade de abraçar alguma dessas especialidades era mínima. Num país sem opções, o normal era que ele se voltasse para uma das três grandes carreiras: medicina, engenharia e direito. Talvez ainda seja assim.
Só temo que a crise brasileira esteja atingindo até essas profissões tradicionais. Qual é o estímulo para que um brasileirinho opte hoje pela medicina? Com a saúde pública falida, os hospitais à míngua até de gaze e a própria prática privada sofrendo os efeitos da quebradeira, por que um estudante passaria seis anos numa faculdade em tempo integral e o resto da vida buscando manter-se em dia com uma disciplina que não para de evoluir?
A engenharia, por sua vez, também não vive seus melhores dias. Depois de um boom de décadas pago com nossos recursos para alimentar um projeto de poder, envolvendo inclusive obras em distantes ditaduras, a bolha de bilhões estourou. A descoberta de que tudo isso foi feito com superfaturamentos, compra de políticos e propinas descomunais pegou as grandes empreiteiras com as calças na mão —e estas podem se dar por felizes se, depois de tudo apurado, ainda lhes restarem as calças.
Já a área do direito está com tudo. Se quiser garantir o futuro do seu filho, mande-o para a advocacia. Com as denúncias expondo um corrupto por minuto, nunca no Brasil os serviços dos advogados foram tão disputados.
Claro, nem todos terão o desafio de defender os indefensáveis —Temer, Lula, Dilma, Aécio, Cunha, Cabral (alguns deles contratam até 20 defensores)—, mas sempre lhes sobrará um Renan, uma Gleisi, um Palocci, também suculentos.
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