As tempestades dos últimos dias na finança mundial são um lembrete dos riscos de desaquecimento global e de acidentes anticlimáticos. Nesta mesma terça de rolos nos mercados financeiros, o governo Temer divulgava seu plano de concessões, com as quais se espera que cresça um bocadinho o investimento em aeroportos, estradas, ferrovias, portos e petróleo.
O que uma coisa tem a ver com a outra?
Os riscos de acidentes financeiros internacionais ou de resfriado econômico podem acontecer a qualquer momento. A recuperação brasileira, por sua vez, deve ser lenta. Estamos sujeitos a esses riscos vestindo calças curtas e rotas.
Um impulso de melhoria no Brasil depende das obras de infraestrutura, que no entanto vão demorar demais, a julgar pelos planos divulgados ontem.
Pelo menos desta vez, o anúncio governamental não expôs ideias de jerico, tais quais as dos ministros da Saúde ou do Trabalho, para citar os casos mais estrambóticos, ainda que não se conheçam detalhes de financiamento das obras.
Conviria adiantar prazos. Os leilões de aeroportos, os mais próximos, ficaram para o primeiro trimestre de 2017. Os de portos, poucos, para o segundo trimestre.
Rodovias ficaram para o segundo semestre de 2017, assim como as ferrovias, essas sempre as mais suspeitas, pois têm encalhado ou se tornam jiboias gigantes brancas no meio do nada (uma versão do elefante branco). Leilões grandes de petróleo e de hidrelétricas também ficaram para a segunda metade de 2017.
No mais importante, a atividade econômica vai depender de uma baixa rápida de juros, que depende, bidu, do plano de contenção de gastos ("teto") e da reforma da Previdência, história que o Congresso pretende enrolar.
No mais, resta o imponderável de uma animação de empresários e consumidores que independa diretamente de sinais como juros e crédito, limitada, porém. Como se sabe, os salários ainda baixam rápido e há um colapso no crédito bancário.
Em suma, estamos com a resistência baixa demais para enfrentar uma gripe mundial.
Os preços dos ativos financeiros estão perto de níveis recordes pelo mundo rico, mesmo com crescimento econômico frustrante e rentabilidade baixa das empresas, graças às torrentes de dinheiro a custo zero, cortesia dos bancos centrais.
Essa alegria demasiada é visível até na Bolsa do Brasil, que de janeiro a julho se recuperou de um tombo feio e, desde então, vai subindo para alturas próximas do limite da responsabilidade.
Pequenas dúvidas a respeito da continuidade dessa farra de dinheiro barato balançam o castelo de cartas, para usar metáfora nada original mas precisa. Isto é, há medo de alta de juros nos EUA, de contenção do despejo de dinheiro europeu ou japonês, de sinais de desaquecimento econômico etc.
Mesmo que tais movimentos sejam limitados, os danos são incertos. A regulação da finança mudou e não foi testada em situação de tumulto novo. A finança é excessivamente imensa e jamais se sabe se há bombas escondidas por aí.
Já faz mais de três anos, há alguns sustos e tumultos contidos diante de sinais de virada nos juros. Pode continuar a ser alarme falso. Mas jamais convém apostar em calmaria contínua, menos ainda neste nosso estado deplorável.
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