Palco de um ex-protagonista caindo em si ou picadeiro de um cômico fora de si. Escolha sua metáfora para as encenações de Lula nos palanques do Nordeste. A descrição mais adequada talvez seja essa: uma sequência de discursos sem nexo de um pajé inocente que, flechado por denúncias e inquéritos, faz lembrar as virgens de Sodoma e Gomorra.
Na noite passada, num comício em Recife, o morubixaba do PT comentou a prisão de seu ex-ministro Guido Mantega. Abstendo-se de mencionar a soltura determinada horas depois pelo juiz Sérgio Moro, Lula disse à plateia de convertidos:
''Hoje, a Polícia Federal foi buscar o Guido no hospital. Entraram na sala de cirurgia, onde a mulher dele, que está com câncer, começava uma cirurgia. Levaram ele e, depois, com a maior desfaçatez, disseram que não sabiam que ela estava doente. Sabiam! Ela não estava dentro de um hospital para se embelezar. É preciso que esse país volte a normalidade. Isso exige que as instituições respeitem as pessoas e a sociedade.''
A cena dos agentes federais invadindo a sala cirúrgca é uma fábula do orador. Na vida real, um delegado tocou o telefone para Mantega. Que se apresentou do lado de fora do hospital. E foi conduzido educadamente para um automóvel comum, sem a logomarca da PF.
O juiz da Lava Jato, os procuradores da força-tarefa de Curitiba e a Polícia Federal informaram que não sabiam da internação da mulher de Mantega. Lula chama todo mundo de mentiroso. Deve saber o que diz, já que é um PhD nessa história de “não sabia”. O repórter jamais se atreveria a discutir com um especialista. Porém…
Lula talvez devesse incluir em suas próxima manifestações meia dúzia de palavras sobre o inusitado que salta da nova fase da Lava Jato: um ministro da Fazenda convertido em coletor de verbas sujas para campanhas do PT.
Quando discursa de improviso e esquece de abordar o essencial, Lula dá sempre a impressão de que procura uma boa explicação desesperadamente —mais ou menos como um cachorro que escondeu o osso e esqueceu onde.
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