FOLHA DE SP - 22/09
Hoje é dia de manifestações contra planos de Michel Temer ou mesmo contra a mera existência de seu governo. O protesto nacional é liderado pelas centrais sindicais da "esquerda à direita" e pelas frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, petistas ou companheiras de viagem.
A Força Sindical convoca para o que chama de "Ato em defesa dos direitos sociais e trabalhistas" —a Força, do deputado federal Paulinho (SD-SP), parte da coalizão que depôs Dilma Rousseff. A CUT, petista, chama para um ambicioso "Dia Nacional de Paralisação e Mobilização Rumo à Greve Geral —Nenhum Direito a Menos".
Note-se de passagem que "Nenhum direito a menos, nenhum passo atrás" era parte do "compromisso sagrado" do discurso popular da segunda posse de Dilma Rousseff.
O denominador comum das centrais é, claro, o protesto contra as reformas trabalhista e previdenciária.
Para a Força, trata-se de um protesto contra essas reformas e, "principalmente, para reivindicar medidas que estimulem o crescimento da economia". Para dar apenas um exemplo do outro lado do espectro político sindical, a CUT vai também de "Fora, Temer", "fora, teto" e de "esquenta da greve geral".
De mais óbvio e menos incerto a depreender desses protestos: o pacote destrambelhado de reformas de Temer facilitou uma quase sempre difícil coalizão das centrais. No mais, quanto poderão render manifestações de uma frente disparatada, em ambiente de baixa organização popular maciça?
Motivos imediatamente "trabalhistas" para protesto não faltam, embora o medo do desemprego, a fragmentação sindical (política e regional) e a baixa da sindicalização solapem uma coalizão forte.
O conflito social politicamente mais ruidoso se dá em torno de direitos e benefícios sociais garantidos ou bancados diretamente pelo Estado. É obviamente crucial, mas nem de longe toda a história de conflitos entre capital e trabalho, o que parece esquecido por parte da esquerda mais "cultural", digamos assim.
O ruído de choques, porém, parece baixo em um país com desemprego na casa dos 12% e arrocho de salários.
Nos últimos 12 meses, cerca de 45% das negociações coletivas de salários resultaram em reajustes abaixo da inflação. Em agosto, foram a quase 52% do total os reajustes menores que o INPC, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, de São Paulo).
Do fim da crise de 2009 até o primeiro trimestre de 2015, os acordos que davam em redução de salário real (menor que a inflação) em geral não passavam de 10% do total.
Nesta semana, soube-se graças ao Ipea que os trabalhadores com rendimento inferior ao salário mínimo tiveram o maior talho nos rendimentos, 9% em um ano. Apenas os rendimentos dos trabalhadores na faixa mais alta, os "10% mais ricos", tiveram aumento, na média.
O que se faz dessa ruína, do lado "do trabalho" ou da esquerda (qual?)?
Não há partidos ou frentes amplas o bastante ao menos para juntar na mesma canoa reivindicações "do trabalho", que dirá para organizar o conflito ou pensar um programa econômico alternativo, de preferência que faça sentido. Nem parece um problema que a esquerda, na prática, se proponha a pensar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário