Zero Hora - RS 27/08
Os panelaços foram ouvidos, o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff deve ser confirmado até o início da semana e o governo de Michel Temer não terá mais a desculpa da interinidade para a falta de políticas claras para áreas como a segurança. Assumindo definitivamente o Palácio do Planalto, o presidente tem o dever de colocar em prática um plano nacional para o setor, esclarecendo quanto de recursos estão à disposição para construção de presídios e para equipamentos nos Estados. Ex-secretário de Segurança de São Paulo, o ministro Alexandre de Moraes pretende focar no controle de fronteiras. Mas ainda falta ação.
O projeto que acaba com o regime semiaberto está pronto para ser votado na Câmara, mas sem previsão. E os deputados também não parecem muito interessados em discutir o assunto. Isso sem falar na legislação, que deve ser mais dura para deixar por mais tempo o criminoso na cadeia. Mas o Congresso, e a sua agenda preguiçosa, já é mesmo quase um caso perdido. Do outro lado da rua, o Ministério da Justiça anda apagado há tempos. Prometido pela presidenteDilma, o Plano Nacional de Redução de Homicídios, por exemplo, morreu na casca. Como comandante do ministério, José Eduardo Cardozo se mostrou um excelente conselheiro de Dilma. De positivo, ficou o trabalho da Polícia Federal no combate à corrupção, a excelência na segurança de grandes eventos e a organização da Força Nacional de Segurança. Mas o dia a dia da população está abandonado, refém do tráfico de drogas, do roubo de carros, do desprezo pela vida.
Na reunião no Palácio do Planalto, com o governador José Ivo Sartori, Temer reconheceu a gravidade do problema. No Rio, outro Estado quase quebrado, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, já solicitou que o Exército permaneça nas ruas mesmo depois das eleições. No Estado, além da falta de uma estratégia de segurança, o governador Sartori vacilou. Demorou demais a reagir. É óbvio que a presença da Força Nacional de Segurança não vai resolver todos os problemas, mas ajuda. É um primeiro passo. Trocar o secretário de Segurança também não resolve. O governo gaúcho precisa é de atitude. Assim como Temer deve – com urgência - eleger a segurança como prioridade, Sartori tem a obrigação de colocar o combate ao crime no topo de suas políticas públicas. Com ou sem crise econômica. Ninguém aguenta mais desculpas.
Especula
Enquanto Sartori conversava com Temer, o comentário na Esplanada é que ele havia autorizado que sondassem José Mariano Beltrame para a Segurança no Estado. Tanto Sartori quanto o vice-governador, José Paulo Cairoli, garantiram que não passava de boato.
O hospício de Renan
O rompante do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), chamou a atenção até de aliados mais próximos. O plenário estava dominado pela confusão, no segundo dia do julgamento de Dilma, quando Calheiros disse que havia conseguido, junto ao STF, desfazer o indiciamento da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e do marido, o ex-ministro Paulo Bernardo. A fala gerou revolta entre os petistas, mas o PMDB socorreu o presidente da Casa.
- Ela disse coisas impublicáveis – justificou o senador Eunício de Oliveira(PMDB-CE).
- A desculpa é que Gleisi provocou, xingando Renan de canalha. Mas quem está de olho na planilha de votação, enxergou um sinal político. O Planalto conta com o alagoano para fechar a meta de cerca de 60 votos pelo impeachment. Furioso com os petistas, Renan – contemplado com cargos no governo Temer - já abandonou a barca de Dilma há tempos.
Esses dois dias de oitivas, aliás, serviram para mostrar que os senadores não são mais civilizados que os deputados. A troca de ofensas compromete o momento histórico. Mas com pouco efeito prático. O mapa de votos continua desfavorável para Dilma.
Sem ambiente
Indiciado pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato, o ex-presidente Lula não é a liderança mais credenciada para defender Dilma nesta reta final do processo de impeachment. De acordo com a PF, Lula e a mulher Marisa Letícia foram beneficiários de vantagens ilícitas, por parte da construtora OAS. Vale lembrar que a presidente não está sendo julgada por atos de corrupção.
Levante no PT
Não são poucos os petistas descontentes com o atual presidente do partido, Rui Falcão. A falta de apoio à proposta de plebiscito, que esvaziou o discurso de Dilma, foi a gota d´água para quem articula a derrubada de Falcão. Esses petistas pretendem promover uma reunião geral dos revoltados, logo depois das eleições municipais, para trocar o presidente da legenda.
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