Convidada a participar de evento sobre jornalismo investigativo na última sexta-feira, a ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia enfatizou um dos valores mais caros da democracia: a liberdade de imprensa. "O dever da imprensa não deve ser cerceado de forma alguma", afirmou a ministra, ao comentar a contenda entre magistrados e promotores paranaenses e jornalistas do diário Gazeta do Povo. Em ação coordenada, diversos integrantes do Judiciário local ingressaram com ações por danos morais em 19 cidades do estado, como resposta a série de reportagens sobre os rendimentos dos juízes, segundo o jornal muito acima do teto estabelecido para o funcionalismo público.
Obrigados a comparecer às audiências em tantas localidades, os profissionais do jornal foram submetidos a um périplo, sob pena de responder ao processo à revelia. Percorreram mais de 8 mil quilômetros pelas estradas paranaenses em um par de semanas. Enquanto o imbróglio se aprofunda nos tribunais, diversas entidades de imprensa denunciaram o método e a motivação dos magistrados paranaenses. "O modus operandi utilizado pelos autores revela justamente o que se pretende ocultar: intimidar jornalistas e cercear a liberdade de imprensa, um dos pilares do Estado Democrático", alertou em nota oficial a Associação Brasileira de Imprensa.
Como ressalta o pronunciamento da ABI, o episódio paranaense surpreende pela origem dos ataques. Mas está longe de ser o único golpe desferido contra o jornalismo profissional. Em fevereiro, ranking divulgado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) classificou o Brasil como o quinto país mais perigoso para a atividade jornalística, com a morte de oito profissionais em exercício no ano de 2015. Ficamos atrás de Iraque e Síria, consumidos pela guerra; México, onde está em curso uma feroz guerra contra o narcotráfico; e a França, país atingido pelo extremismo com o atentado ao semanário Charlie Hebdo. Como se nota, a intolerância à liberdade de expressão impõe um flagrante desrespeito a princípios constitucionais e procura calar com violência um direito da sociedade.
Antes dos atos extremos contra a vida de jornalistas, porém, há outras modalidades de agressões contra os profissionais da informação. Os ataques à imprensa profissional ganharam nos últimos anos um viés ideológico. Registre-se, por exemplo, o nefasto movimento dos últimos anos para instituir aberrações como o Conselho Federal do Jornalismo e bizarrices tais quais o "controle social da mídia". Afora liderar essas iniciativas de tendência ditatorial, os governos petistas operaram deliberadamente no aparelhamento da estrutura de comunicação oficial, em uma condenável estratégia de produzir espécie de contraofensiva a uma suposta "guerra da informação". Com o agravamento da crise política, tornou-se comum setores simpáticos ao PT denunciarem a suposta ação da "imprensa golpista". Nada mais falso. Foram os erros brutais na condução da política econômica, motivo para a abertura de um processo de impeachment, e os atos de corrupção revelados pela Operação Lava-Jato os fatores decisivos para a crise do PT.
É bom que se diga, mais uma vez. A imprensa tem como missão precípua informar a sociedade de assuntos de interesse público. Toda e qualquer tentativa de tolher essa conquista das sociedades modernas deve ser repudiada com veemência. Novamente recorrendo às palavras de Cármen Lúcia, "a democracia é impossível sem a imprensa".
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