A moça entrou no avião da ponte aérea carregando um belo esquadro de madeira, de pelo menos dois palmos no lado menor do triângulo - um imponente símbolo da sua profissão de arquiteta. Poucos dias antes, por coincidência, eu vira no aeroporto outra arquiteta carregando orgulhosamente sua régua-T. Imagino que sejam instrumentos caros, difíceis de acomodar na mala e de que os arquitetos não gostem de se separar.
No mesmo aeroporto, um grupo de rapazes atléticos, de boné ao contrário, cabelo moicano, fones de ouvido, sobrancelhas tatuadas e brilhantes brincos nas orelhas - sim, você adivinhou. Eram jogadores de futebol, e nem precisariam estar usando o uniforme de viagem do clube para serem identificados.
Conheci uma médica que saía de casa, tomava o carro e dirigia pelo trânsito de São Paulo até seu emprego no hospital, já de jaleco e com o estetoscópio ao pescoço. É verdade que o jaleco lhe caía bem. E já vi mais de um chef de cozinha, de dólmã e chapéu, fazendo hora na calçada de seu restaurante. Quero crer que a rua não seja o lugar para se usar certas roupas de trabalho cuja função é garantir a assepsia.
No passado, algumas categorias se vestiam segundo o clichê: os pintores, com suas boinas, batas e gravatas plastron; as normalistas, com suas saías curtas e plissadas e meias soquete; os jornalistas, com seus ternos da Ducal. E qualquer homem de faces rosadas, Kodak, camisa havaiana, bermuda cáqui e meias e sapatos pretos só podia ser, pelo ridículo, um agente da CIA fantasiado de turista.
Com a padronização, ficou difícil saber quem faz o quê pelo que usa fora do ambiente de trabalho. A única categoria cujos membros, em sua maioria e não importa o partido, podem ser identificados pelo tom de seiva viva de seus rostos impecavelmente envernizados é a dos políticos.
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