É uma emergência, disse Arminio a Temer. O vice-presidente, Michel Temer, se assumir, terá muitas dificuldades na economia. Foi isso que ficou claro durante o jantar com o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga e o senador Aécio Neves. Temer fez muitas perguntas e ouviu de Arminio que este é um momento de emergência: o país está com seguidos déficits primários, e a dívida pública está em rota explosiva.
Na conversa, em que mais ouviu que falou, Temer quis saber como enfrentar uma série de problemas econômicos. Não chegou a fazer convites a Arminio, porque recebeu recados, via vários interlocutores, de que o ex-presidente do BC não aceitaria ir para o governo. O que outros interlocutores têm notado é que apesar de Temer ter se dedicado às articulações políticas, definidas pela presidente Dilma como traições, ele não está inteiramente informado sobre as questões com as quais terá que lidar se tiver que assumir a Presidência, na hipótese de afastamento provisório da presidente, o que pode ocorrer já no mês que vem.
A situação política é delicada demais para que Temer se movimente com a desenvoltura com que tem se movimentado; a situação econômica é grave demais para que ele não se prepare para a posse. Entre os nomes que está avaliando para o cargo de ministro da Fazenda está o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, o presidente da Febraban, Murilo Portugal, que já trabalhou nos governos Fernando Henrique e Lula. Outro nome é o do senador José Serra, que tem grande conhecimento de contas públicas.
O tamanho da tarefa econômica de um possível governo Temer é enorme, e o seu grupo próximo talvez não tenha dimensão da gravidade da situação. Por isso, o recado que Arminio Fraga passou durante toda a conversa — “isso é uma emergência” — é tão importante ser entendido. O governo Dilma elevou a dívida pública, levou o país ao déficit primário persistente, está erodindo o gasto social, o desemprego está crescendo de forma acelerada. O único ponto que começa a desanuviar é a inflação, que está em queda, no acumulado de 12 meses, e isso pode permitir a redução da taxa de juros.
Na frente internacional, um governo Temer terá que lidar com os efeitos do discurso do governo Dilma de que tudo o que está acontecendo com o Brasil é um golpe. Os jornais internacionais que são formadores de opinião começam a aceitar, ainda que parcialmente, esta versão. O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, tem feito declarações mais explícitas, comprando completamente a versão dos fatos apresentadas pelo governo Dilma. Curiosamente, os governos petistas trataram mal a OEA, chegando a deixar quatro anos sem embaixador junto à Organização dos Estados Americanos, dando mais destaque à Unasul. Almagro tem tido essa atitude, segundo observadores diplomáticos, entre outras razões, porque quer aproveitar o momento e aparecer. Ele está em campanha para ser candidato a presidente do Uruguai. Seja como for, se Temer assumir, terá que fazer um esforço diplomático em defesa da imagem da democracia brasileira, porque pode ficar firmada a impressão de que ele comanda um governo ilegítimo, ainda que a Suprema Corte esteja avalizando cada etapa do processo e o país esteja em pleno estado democrático de direito. Já há, hoje, divisões entre brasilianistas sobre o processo político brasileiro.
O vice-presidente encontrou-se com o ex-porta voz de Dilma Rousseff, Thomas Traumann, que era ministro dela no momento da campanha em que ela executou a estratégia de esconder a gravidade da crise em todas as entrevistas que concedeu.
O esboço do governo Temer vai sendo desenhado, ainda que de forma muito imprecisa. O vice-presidente continua no dilema de não parecer que está correndo para a Presidência, que ainda não está vaga; nem parecer lento demais que pareça displicente diante do enorme desafio que terá ao assumir um país em grave crise econômica, em turbulência política, com a legitimidade de seu governo e do processo democrático sendo posta em dúvida exatamente pela atual presidente da República. Nesse clima em que é acusado de traidor, Temer monta uma equipe e se informa sobre a profundidade da crise instalada no país que vai governar.
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