A reação de quem for ao supermercado neste fim de semana tende ser de incredulidade. Não vai perceber correspondência entre o que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem e a conta que terá de pagar no caixa. A inflação oficial de março, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), é, até agora, a melhor notícia do ano. O avanço em relação a fevereiro foi de apenas 0,43%, ou seja, menos da metade da taxa registrada no mês passado, de 0,9%.
Com esse resultado, o acumulado nos últimos 12 meses (principal cálculo observado pelos economistas) sai do incômodo patamar de dois dígitos, baixando de 10,36% para 9,38% em apenas um mês. Mais cedo do que o esperado, fica confirmada a tendência de desaceleração da inflação prevista pelos analistas de mercado. Mas, assim como é explicável a frustração do consumidor com os preços que ele ainda vê nas gôndolas, a desaceleração do IPCA também não deve levar ninguém de juízo a abrir champanhe. Ambos precisam ser melhor analisados antes de qualquer atitude rebelde ou decisão de gastar.
Os índices oficiais de inflação são resultado de uma média das variações de diversos preços de produtos e serviços, cada um com peso específico em relação à cesta média de gastos das famílias. No caso do IPCA, são as famílias que têm renda de até 40 salários mínimos mensais. Na maior parte dessas famílias, o custo da alimentação diária costuma ter grande peso no orçamento doméstico, e no caso das de renda mais baixa, esse é o item mais importante. Além disso, por reunir grande número de produtos de origem agropecuária e, portanto, sujeitos às condições do tempo, - o item alimentação nas contas da pesquisa para cálculo da inflação é o que apresenta as oscilações mais frequentes e mais expressivas. E é isso o que ocorre nesta época do ano. Na contramão da maioria dos produtos da cesta de gastos, os preços do item alimentação subiram 1,24% em março, ou seja, três vezes maior que a média do mês. Como oscilam muito, nada impede que também esse item desacelere em abril.
Mas não é com isso que contam as previsões de desaceleração do processo inflacionário neste e no próximo ano. Há pelo menos dois fatores que o consumidor deve levar em conta.
O primeiro é a redução do impacto dos reajustes dos chamados preços administrados. É o caso da energia elétrica, que foi o principal fator de queda do índice de inflação em março, graças à redução da tarifa extra (bandeira vermelha), que vinha sendo cobrada em razão do acionamento de usinas térmicas para compensar a falta de chuvas.
O primeiro é a redução do impacto dos reajustes dos chamados preços administrados. É o caso da energia elétrica, que foi o principal fator de queda do índice de inflação em março, graças à redução da tarifa extra (bandeira vermelha), que vinha sendo cobrada em razão do acionamento de usinas térmicas para compensar a falta de chuvas.
O segundo é a perda de renda das famílias, provocada pela própria inflação, que diminui o poder de compra dos salários, e pelo desemprego, que passa dos 10% e tende a aumentar. De novo, é preciso ir além da simples variação das taxas para entender o tamanho do problema que a economia e cada brasileiro enfrentam. No caso da média da inflação, não houve queda geral de preços. Eles continuaram subindo, só que com intensidade menor. E a retirada da bandeira vermelha na conta de luz não devolve quase nada em relação aos mais de 45% de aumento das tarifas ao longo do ano passado. Ou seja, a atual desaceleração da inflação se dá pelo pior dos motivos: a incapacidade financeira dos brasileiros de consumir.
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