A desaceleração chinesa subtrai bilhões das exportações de matérias-primas do Brasil, e o país não consegue compensar as perdas com a venda de manufaturados
O mercado de ações da China teve ontem mais um dia tumultuado, com as negociações sendo suspensas depois que a bolsa chegou a uma queda de 7%. O mesmo ocorrera na segunda-feira. Pelo tamanho da economia chinesa, a oscilação se espalhou pelo planeta.
Há evidentes problemas na segunda maior economia do mundo, o que afeta o Brasil de maneira direta, e já há algum tempo. Maiores importadores de commodities brasileiras (soja e minério de ferro), os chineses respondem por parte relevante da queda das exportações nacionais. Em dois anos o Brasil perdeu, na conta das vendas ao exterior, uma receita de US$ 50,9 bilhões. Nas commodities, US$ 25,8 bilhões. Ao desacelerar, a China ajudou a reduzir as cotações de matérias-primas.
Ainda assim, o país voltou a acumular superávit, obtendo no ano passado um saldo positivo no comércio de US$ 19,7 bilhões, o maior desde 2011, depois de um déficit de US$ 4 bilhões em 2014. Este superávit, entretanto, deriva de uma crise: a vertiginosa recessão causada por erros da política econômica do primeiro mandato de Dilma. As exportações caíram, no ano passado, 14,1%, mas as importações, puxadas pela recessão, retrocederam 24,3%. Daí o superávit.
A economia brasileira poderia compensar parte do que perde em commodities com a venda de manufaturados, não fosse um erro estratégico crasso cometido na política industrial.
Com todo o crescimento no século XX, o Brasil, na essência, manteve uma relação de padrão colonial com o mundo: exportador de matérias-primas e bens industrializados de baixo conteúdo tecnológico (salvo exceções) e importador de bens mais elaborados.
A chegada do PT ao Planalto reforçou a distorção, enfatizada por um ciclo de ouro de elevação do preço de commodities, na esteira da expansão da China, um período já encerrado. Com o PT, voltou o protecionismo, e o Brasil se apegou a um Mercosul bolivariano, fechado em si mesmo.
A desaceleração chinesa fez desabar as commodities e criou um problema nas exportações brasileiras, ao mesmo tempo em que os “desenvolvimentistas” aplicavam a política do “novo marco" e assim desestruturavam as finanças internas do país. O saldo está aí: recessão, desemprego, inflação elevada, grande desvalorização cambial.
Se o país não tivesse mais uma vez praticado políticas para “proteger” segmentos da indústria, hoje poderia haver um parque manufatureiro moderno capaz de competir em outros mercados.
Repete-se a lição: a economia brasileira precisa se abrir ao exterior, integrar-se às linhas globais de produção. Caso contrário, continuaremos a repetir, séculos a fio, crises agravadas pela queda mundial do preço de matérias-primas que o país exporta.
Já foi com o café no passado, agora são a soja e o minério de ferro. Uma relação de padrão colonial que o Brasil já manteve com Portugal e Inglaterra hoje repete com a China.
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