CORREIO BRAZILIENSE - 05/12
Pelo senso comum, as pessoas a favor de um mundo mais justo, ético, fraterno e igualitário são classificadas como de esquerda. As demais, de direita. O dicotomismo simplista pegou: o pobre contra o rico, o operário contra o patrão, o nós contra eles, o socialismo contra o capitalismo. Mesmo que seja apenas da boca pra fora, o político que consegue emplacar de forma eficaz o discurso do bem contra o mal -mesmo que depois o revolucionário se revele um grande pilantra - quase sempre conquista corações e mentes. Principalmente dos jovens que frequentam universidades públicas.
Afinal, os estudantes que não sucumbem à tese dos professores e colegas "cabeças" são ridicularizados, rotulados de reacionários, filhinhos de papai, coxinhas... Nisso, a esquerda é imbatível. Até a igreja que ela tenta destruir adere. Para resistir à máquina de moer reputações no campus, é preciso ter uma formação política e cultural sólida e diversificada. Saber de verdade o que foram e o que são hoje os regimes comunistas, socialistas e fascistas mundo afora. Ter plena consciência de que foram ou são todos ditaduras. E que essas ditaduras, de esquerda ou de direita, se equivalem: na raiz de cada uma, está o totalitarismo. Mas raros são os adolescentes que chegam à faculdade com uma bagagem dessas.
Enfim, lembro que nos tempos de universidade - Católica e UFPE, no Recife - fui simpatizante (na prática, um militante, mesmo sem filiação) do PCB. Desde aquela época, era incrível observar como no PT não se cumpria acordo. Entre eles mesmos, os petistas, as guerras eram mais fraticidas do que entre integrantes da sigla e gente da extrema-direita. Logo, quem participou ativamente do movimento estudantil sabe, mesmo sem nunca ter testemunhado uma negociata entre Cunha e o governo, que a possibilidade de o peemedebista estar falando a verdade sobre as barganhas é muito mais verossímil do que qualquer desmentido palaciano.
Quem conhece o PT desde as raízes também sabe que era grande o risco de ser traído caso fizesse acordo com o partido. Conhece a fábula do escorpião e do sapo? A diferença é que, no caso petista, o escorpião crê em salvação, apesar do gesto aparentemente suicida. Cunha, conta-se, teria descoberto que, ao mesmo tempo em que prometia salvá-lo no Conselho de Ética, em troca do arquivamento do pedido de impeachment de Dilma, o governo petista tramava para levá-lo à prisão. Por isso, quando o PT ordenou que seus deputados não votassem a favor do presidente da Câmara, Cunha não hesitou um segundo em acionar o gatilho do impeachment.
Concluindo: não há mocinhos nesta história, embora muitos espertalhões a soldo e alguns iludidos úteis difundam a tese de que o PT, enfim, estaria se redimindo ao se voltar contra Cunha. Não está nem estava. Nunca, na verdade, existiu esse partido da ética. Mas sempre haverá quem prefira acreditar na versão petista. Senão, sabe, corre o risco de acabar implodido pela patrulha vermelha e virar "reacionário". Ai que medo. Heim, Nelson!
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