RIO DE JANEIRO - Na semana passada, em visita ao Jardim Botânico, um turista com dificuldade de locomoção aceitou uma cadeira de rodas que um funcionário lhe ofereceu para que ele melhor percorresse aquela maravilha. Gostou tanto que, na saída, "esqueceu-se" de devolver a cadeira e saiu com ela alegremente pela rua. Ao ser apanhado lá na frente, alegou que ia usá-la para visitar outros pontos turísticos do Rio —talvez o pico das Agulhas Negras ou o Dedo de Deus.
Em São Paulo, quase ao mesmo tempo, um homem vestido de Papai Noel contratou um helicóptero no Campo de Marte para levá-lo ao sítio Recanto dos Covardes, em Mairinque, a 70 km da capital. Lá, com a ajuda de um cúmplice, rendeu, amarrou e amordaçou o piloto, abandonou-o e zarpou com a aeronave para rumo até agora incerto. Para trás ficaram a barba e os óculos de Papai Noel. Sequestraram o helicóptero para transportar drogas.
Pesquisa recente feita por um instituto revelou que, para 34% da população, a corrupção é o principal problema do país. É a primeira vez que esse câncer atinge tal visibilidade nacional. A sensação é a de que não há um setor que não esteja envolvido em desvios, propinas, falcatruas e todo tipo de irregularidades —das estatais ao futebol, das empreiteiras à saúde, do governo aos seus amigos. E agora surgem esse Papai Noel e o ladrão de cadeira de rodas.
Mas há razões para otimismo. A primeira é a consciência que se espraia sobre a existência da corrupção. A segunda é que o abscesso está mais perto de estourar —podendo espirrar até sobre quem se acha magnificamente a salvo.
Nos antigos filmes seriados da Republic nos anos 40, como "A Adaga de Salomão" ou "Os Tambores de Fu Manchu", a graça estava em que, a cada briga, o cenário era destruído. Resta ver se o Brasil aguenta ser esse cenário.
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