SÃO PAULO - A indicação de Nelson Barbosa para substituir Joaquim Levy na Fazenda tem o inegável mérito de reduzir um pouco o nível de surrealismo da política brasileira.
Dilma Rousseff, afinal, fora eleita prometendo preservar os ganhos sociais da era petista e invocando o fantasma do corte de benefícios que viria caso seus adversários triunfassem. Uma de suas primeiras providências pós-eleitorais, contudo, foi convocar Levy, o "neoliberal", para tentar implementar um forte ajuste que, evidentemente, incluía a redução dos chamados direitos do trabalhador –aquilo que não ocorreria em sua gestão nem que a vaca tossisse.
O ruminante tossiu e depois se engasgou. Os planos de ajuste de Levy foram sabotados pela própria Dilma e seu partido, que não lidam muito bem com imperativos de realidade, pela base aliada, que não resiste ao hábito de criar dificuldades para vender facilidades, e também pela oposição, que acha mais importante fazer o PT sangrar do que evitar o agravamento do desastre econômico.
Impossível não evocar passagens do manifesto surrealista de André Breton: "o surrealismo repousa sobre a crença (...) na onipotência do sonho"; "a atitude realista (...) é feita de mediocridade, ódio e insípida presunção"; "os procedimentos lógicos, em nossos dias, só se aplicam à resolução de problemas secundários".
A assunção de Barbosa, um "desenvolvimentista" que integrou a equipe econômica do primeiro mandato de Dilma, ao menos recoloca as narrativas em seus devidos lugares. Com ele no comando, ficará mais difícil atribuir os efeitos da crise às intervenções de matriz ortodoxa que Levy não conseguiu promover. O PT será mais claramente chamado a responder pelas políticas que adotou.
O risco, se a situação se agravar, é que poderá ficar interessante para o partido sacrificar Dilma no altar do impeachment e posar como vítima de um golpe das elites. Breton e os surrealistas ainda podem ressurgir.
Dilma Rousseff, afinal, fora eleita prometendo preservar os ganhos sociais da era petista e invocando o fantasma do corte de benefícios que viria caso seus adversários triunfassem. Uma de suas primeiras providências pós-eleitorais, contudo, foi convocar Levy, o "neoliberal", para tentar implementar um forte ajuste que, evidentemente, incluía a redução dos chamados direitos do trabalhador –aquilo que não ocorreria em sua gestão nem que a vaca tossisse.
O ruminante tossiu e depois se engasgou. Os planos de ajuste de Levy foram sabotados pela própria Dilma e seu partido, que não lidam muito bem com imperativos de realidade, pela base aliada, que não resiste ao hábito de criar dificuldades para vender facilidades, e também pela oposição, que acha mais importante fazer o PT sangrar do que evitar o agravamento do desastre econômico.
Impossível não evocar passagens do manifesto surrealista de André Breton: "o surrealismo repousa sobre a crença (...) na onipotência do sonho"; "a atitude realista (...) é feita de mediocridade, ódio e insípida presunção"; "os procedimentos lógicos, em nossos dias, só se aplicam à resolução de problemas secundários".
A assunção de Barbosa, um "desenvolvimentista" que integrou a equipe econômica do primeiro mandato de Dilma, ao menos recoloca as narrativas em seus devidos lugares. Com ele no comando, ficará mais difícil atribuir os efeitos da crise às intervenções de matriz ortodoxa que Levy não conseguiu promover. O PT será mais claramente chamado a responder pelas políticas que adotou.
O risco, se a situação se agravar, é que poderá ficar interessante para o partido sacrificar Dilma no altar do impeachment e posar como vítima de um golpe das elites. Breton e os surrealistas ainda podem ressurgir.
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