ESTADÃO - 26/10
A história mundial está repleta de exemplos inspiradores. E a saga brasileira também. Os defeitos pessoais e as limitações humanas dos homens públicos, inevitáveis e recorrentes como as chuvas de verão, não matavam a política. Hoje, no entanto, assistimos ao advento da pornopolítica e ao avanço de um inclemente deserto de liderança. A vida pública, com raras e contadas exceções, transformou-se num espaço mafioso, numa avenida transitada por governantes corruptos, políticos cínicos e gangues especializadas no assalto ao dinheiro público.
Não bastasse tudo isso, e não é pouco, o Brasil foi tomado por um grupo disposto a impor à sociedade um modelo ideológico autoritário de matriz marxista: o bolivarianismo. Optaram, esperta e pragmaticamente, pelo atalho gramsciano: o populismo democrático. O lulopetismo, como bem lembrou recente editorial do jornal O Estado de S.Paulo, “aplicou um ‘nova matriz econômica’ que priorizou os investimentos de alto retorno eleitoral –como programas sociais que efetivamente ajudaram a tirar milhões de brasileiros momentaneamente da miséria, mas sem nenhuma garantia de efetiva inserção na atividade econômica”.
“De acordo com a constatação insuspeita de Frei Betto, nas favelas que se multiplicam por todo o país se encontram hoje barracos devidamente equipados com geladeira, eletrodomésticos, televisores moderníssimos, às vezes até mesmo carros populares e outros objetos de consumo, mas quando saem porta afora as pessoas não encontram escolas, postos de saúde e hospitais decentes, transporte público eficiente e barato, segurança adequada, enfim, os bens sociais que são muito mais essenciais a um padrão de vida digno do que os bens de consumo que lhes oferecem a ilusória sensação de prosperidade”, concluiu o editorial.
O bolivarianismo tupiniquim, estrategicamente implantado por Lula, rendeu bons resultados aos seus líderes: muito poder e muito dinheiro. Não contaram, no entanto, com três fatores complicadores: a força inescapável da realidade econômica, o papel da liberdade de imprensa e a independência das instituições.
A política econômica populista, que, como hoje se constata, não tinha possibilidade de se sustentar, provocou a catastrófica crise que aprisionou Dilma Rousseff no figurino de um zumbi, reduziu a pó o capital político do PT e transformou Lula num náufrago que se agarra à miragem de sua candidatura em 2018. Não vai funcionar. Lula é um manipulador, mas tudo tem limites. Armado de um cinismo afiado, procura transformar irresponsabilidade fiscal em pedalada social. Uma tentativa, mais uma, de lançar pobres contra ricos. Mas a mentira não se sustenta. Como lembrou a jornalista Miriam Leitão, das “pedaladas” de R$ 40 bilhões, R$ 6 bilhões foram para os pagamentos de programas sociais. “A maior parte da dívida é com programas do bolsa empresário.” A população sentiu a mordida da traição populista: desemprego, inflação, saúde que definha nos corredores da morte do SUS.
Os sucessivos e raivosos ataques de Lula à mídia, balanceados com declarações formais de adesão à democracia, não conseguem mais esconder seus dragões interiores. O ex-presidente está desesperado com o avanço da Lava Jato.
As instituições estão funcionando. Felizmente. O juiz federal Sergio Moro não é um contínuo do Palácio do Planalto. É representante de outro poder da República. A Polícia Federal, independente e eficiente, não é um departamento subordinado aos interesses, caprichos e ordens da doutora Dilma Rousseff.
A Operação Lava Jato vai compondo um quadro de corrupção que arranhou gravemente a história, a saúde financeira, a marca e o futuro de um ícone do Brasil: a Petrobras. Lula e Dilma, queiram ou não, estão no olho do furacão.
A crise econômica e política é gravíssima. Mas a sua raiz é ética e moral. O espaço público é um deserto de princípios, de valores e de grandeza. Virar o jogo não depende de salvadores da pátria, mas de trabalho, honestidade e competência. A democracia tem o melhor remédio: o voto. O Brasil vai ganhar o jogo.
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