O TEMPO - 30/09/15
No sábado, li duas ótimas colunas na “Folha de S.Paulo”, que tinham relação uma com a outra. Uma, no caderno de esportes, escrita por Mariliz Pereira Jorge, com o título “Jogo perdido”. Ela contou que os sites esportivos pareciam páginas policiais, com notícias de inquéritos, investigações, bloqueios de bens, pedidos de falência. E terminou: “Fica a impressão de que qualquer tentativa de moralização do futebol seja um jogo proibido”.
Na outra coluna, no caderno Ilustrada, com o título “Licença esportiva”, o escritor cubano Leonardo Padura deu exemplos atuais, um com a participação de Cristiano Ronaldo, sobre como atletas usam de trapaças para levar vantagem. E completou: “Será que os esportistas, profissionais ou amadores, multimilionários ou pobres, têm licença especial para violar as regras éticas mais elementares?”
As trapaças durante as partidas sempre existiram. As simulações denegriram a imagem do jogador brasileiro. No passado, eram mais aceitas, como se fossem uma esperteza, uma qualidade técnica. Mas é preciso separar as deslealdades de jogo dos crimes planejados, como doping e outros.
Os atletas em campo poderiam argumentar que, no impulso, na emoção do jogo, no instante do lance, na ambição do sucesso, sem pensar nem racionalizar, muitas vezes, colocam à frente dos valores éticos seus diabólicos desejos, presentes nas profundezas da alma. Seria humano, mas não é motivo para não serem criticados ou punidos. Somos responsáveis por nossas condutas na vida.
Evolução. Na coluna anterior, escrevi que, entre tantos fatores, a colocação dos times na tabela, neste momento do Brasileirão, reflete, principalmente, a qualidade dos jogadores. Evidentemente, eles atuam melhor quando jogam em times com bom conjunto, mas o coletivo, com pouco talento, não basta. Por isso, equipes como Sport e Atlético-PR, mesmo muito bem dirigidas, não conseguiram se manter entre os primeiros colocados no torneio.
O Palmeiras, no gol do São Paulo, repetiu o erro do Santos, contra o Corinthians, de avançar a marcação e de deixar enormes espaços no meio-campo, já que os zagueiros continuavam muito atrás. Dunga, no programa “Bem Amigos”, do SporTV, falou sobre isso, ao comparar a maneira de jogar, em pequenos espaços, dos europeus com os enormes espaços de vários times brasileiros. Não citou nomes.
Os treinadores brasileiros, durante um longo tempo, adoravam jogar com os zagueiros encostados à grande área, fazer marcação individual, como o Inter fez em Lucas Lima, do Santos, priorizar os chutões e as bolas longas, como se trocar passes fosse sinônimo de lentidão, escalar três volantes (um para proteger os zagueiros e mais um de cada lado, para fazer a proteção dos laterais) e dezenas de outras mediocridades dentro de campo.
Isso tem mudado. Os volantes melhoraram o passe e têm sido elogiados. Mas ainda falta, mesmo nos volantes da seleção brasileira, o passe mais rápido (dominou e passou), para a frente (quando for possível), de uma intermediária à outra, para a bola chegar aos companheiros antes da antecipação dos defensores. Isso pode ser treinado e aprendido.
Gols perdidos
Apesar de ser um jogador comum, sem brilho, com pouca mobilidade, o argentino Ariel Cabral mostra uma qualidade, que deveria ser óbvia, obrigatória, em um jogador que tem a função de atuar no meio-campo, que é ter bom passe, mesmo que não seja especial. Isso é importante, pois mantém a posse de bola da sua equipe contra os adversários. Além disso, ele compreendeu as orientações de Mano Menezes, de que precisa marcar como um volante, pela esquerda, e avançar como um meia. Quanto a Allano, por mais que eu tenha boa vontade em observá-lo no campo, ainda não consegui ver nele condições para jogar no Cruzeiro. Apenas corre.
O Atlético, com vários gols perdidos contra o Joinville, lanterna do Campeonato Brasileiro, facilitou o caminho do título do Corinthians, a não ser que tenha uma série grande de seguidas vitórias de agora em diante na competição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário