O GLOBO - 11/09
O governo dá todas as demonstrações de estar completamente confuso sobre como enfrentar a perda do grau de investimento. Esta não é hora de meias palavras, ambiguidades ou "confucionismos". É preciso um plano que mostre que o país pode reverter esse resultado, evitar que outras agências sigam o caminho da Standard & Poor"s. As reações até agora foram patéticas.
As hesitações, os sinais mistos, a falta de clareza levaram o país a perder um patrimônio pelo qual ele fez um longo esforço. As agências de risco erraram muitas vezes, e a lista desses erros encheria esta coluna, mas o fato é que, quando um país sai do grau de investimento para o grupo dos países de risco especulativo, ele está deixando de disputar capital em um mercado de US$ 15 trilhões para outro onde circulam apenas US$ 1,5 trilhão.
Haverá menos capital para os títulos brasileiros e para as empresas brasileiras. Os juros cobrados serão mais altos. Haverá mais investidores interessados em vender papéis e títulos do Brasil do que em comprar. As empresas perdem possibilidade de captação e por isso vão investir menos a um custo maior. Isso reduz a capacidade de retomar o crescimento.
Diante desse cenário, os ministros dão entrevistas descosidas em que não respondem às perguntas diretas sobre cortes de gastos, apostam na miragem de um dinheiro no exterior que viria de volta ao país para resgatar a economia e avisam que alguns impostos vão subir, sem dizer quais.
Esta é a hora de apresentar um plano organizado e crível de recuperação do equilíbrio fiscal. Já devia ter sido feito antes da casa arrombada, mas já que houve o rebaixamento, a resposta não podia ser tão improvisada quanto está sendo. Até porque era previsível depois da trapalhada do Orçamento deficitário.
A Standard & Poor"s apresentou uma linha de eventos da qual é difícil discordar.
- O governo tinha um plano e estávamos avaliando a execução. Depois o plano mudou, de superávit para déficit, e com isso nosso cenário teve que mudar também. Antes havia uma meta definida por vários anos, e o governo ia atrás da meta, agora houve duas mudanças de metas em um curto espaço de tempo, o que nos leva a um cenário de três anos seguidos de déficit primário - disse Lisa Schineller, diretora da agência.
Como sempre acontece depois do rebaixamento da nota de crédito soberana, as empresas estão sendo rebaixadas. Isso significa que os horizontes de financiamento se encurtam. Ainda que o rebaixamento fosse esperado, aconteceu mais cedo do que o mercado avaliava e veio ainda com uma perspectiva negativa, o que pode ser uma indicação de novo rebaixamento. O dólar subiu ainda mais. Chegou a R$ 3,91 e fechou um pouco mais baixo. O Ibovespa caiu pouco porque já caiu demais. A Petrobras recuou 4,65%.
O economista Marcelo Carvalho, do BNP Paribas, acha que o câmbio a este nível aumenta muito o risco de o ano fechar com uma inflação de dois dígitos. O número de agosto veio baixo, mas isso já se esperava. O acumulado em 12 meses ficou praticamente no mesmo ponto, na casa de 9,5%.
- A projeção agora fica mais no intervalo entre 9,5% e 10% do que entre 9% e 9,5%. A estimativa para o PIB pode ser revista para pior. Já estamos com - 3% este ano. O importante é o governo evitar a ambiguidade na política econômica, tem que ter clareza, transparência, um plano definido - disse.
O Itaú Unibanco revisou seu cenário para 1% de déficit primário e 2,8% de recessão este ano. Outras instituições estão revendo seus números e cenários.
Na entrevista concedida ao "Valor", a presidente foi perguntada sobre a divisão entre seus ministros da Fazenda e Planejamento. Ela respondeu que está numa fase "Confúcio" e que prefere o caminho do meio.
Não há esse caminho. Na campanha da reeleição, a presidente dizia que o ajuste fiscal não era necessário e atacou quem o propôs. Ao assumir, anunciou uma meta que depois foi reduzida e avisou no Orçamento que nem isso cumpriria. A presidente escolheu o caminho de não fazer o ajuste. Está na hora de a chefe do governo entender que os truques de marketing não funcionam na vida real. É a hora do sim ou do não.
Não é o fim do mundo, o Brasil pode reverter esse resultado, mas o governo tem que demonstrar que o comando é firme e tem uma direção.
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